Se o senhor presidente da Câmara Municipal de Vila Velha de Ródão, Luís Pereira, tivesse uma máquina do tempo, talvez tivesse regressado a janeiro de 2025 e evitado o absurdo que foi a visita do ministro da Economia, Pedro Reis, à sua Vila. Porque, convenhamos, não é todos os dias que se assiste a uma autêntica pantomima política, onde o protagonismo se alterna entre o presidente, que parece mais uma vítima de um golpe de teatro, e a burocracia ministerial, que decide ignorar a Câmara Municipal, como se esta fosse um mero detalhe no cenário político local. Ah, a política portuguesa, sempre rica em cenas de galeria e comédias que são o pesadelo de quem pensa que as coisas se resolvem com bom senso
Primeiro, a grande questão: onde está o protocolo? Aparentemente, o senhor presidente, como qualquer responsável autárquico que se preze, deveria ter sido o anfitrião da visita. Se não fosse ele, seria um dos vereadores ou o presidente da assembleia municipal, mas, ao invés disso, o senhor Luís Pereira foi deixado para trás como um figurante secundário. O ministro da Economia, com todo o seu glamour, não só ignorou a Câmara Municipal, como ainda teve a distinta capacidade de convidar, atenção, apenas um vereador, e ainda por cima do PSD. Mas que tipo de cortesia política é esta, senhoras e senhores? O que estará a acontecer nas entrelinhas? Tanta política à vista e um protocolo que se evapora como vapor d’água num dia quente de verão.
Agora, vejamos: será que o senhor presidente foi vítima de um erro estratégico? Se o intuito era dar visibilidade ao trabalho da sua terra, como é sugerido pela carta que enviou, o mais lógico seria que ele, como líder local, estivesse presente. Afinal, era a sua Vila que estava a receber um membro do governo. Mas, não. O protocolo esfumou-se, a visita ministerial seguiu o seu curso, e o presidente ficou relegado ao papel de espectador, como se o seu trabalho à frente do município fosse irrelevante. Ou será que a empresa organizadora da visita, se for de facto a responsável pelo convite, não deveria também ter incluído o senhor presidente no rol de figuras a serem reconhecidas? O que poderia ser uma mera falha de comunicação tornou-se uma questão política: será que, afinal, apenas os mais “bem comportados” se podem sentar à mesa?
Mas a carta do senhor presidente não pára por aqui. O desabafo é um verdadeiro grito de dor e frustração, onde é palpável o mal-estar de quem sente que o seu protagonismo político está a ser desvalorizado. A acusação de partidarização da visita é, claro, a ponta do iceberg. O presidente tenta, entre linhas, dar a entender que não se trata apenas de uma questão de falta de educação, mas sim de uma afronta direta à dinâmica política local, e até ao esforço coletivo para desenvolver o concelho. Ora, neste cenário, o que o senhor Pereira realmente lamenta não é apenas o descaso pela sua pessoa, mas sim pela imagem que Vila Velha de Ródão está a projetar para fora, sem ele no centro da ação. Uma crítica velada que insinua: sem ele, o concelho seria um simples ponto no mapa da administração central.
Porém, a política não espera, e as eleições estão à porta. Em ano de campanha, as tensões não são apenas palpáveis, são quase palpáveis. Cada movimento, cada gesto, é minuciosamente analisado, e o que aconteceu em Vila Velha de Ródão mais parece uma pequena amostra do que aí vem: um ano de intensas batalhas, de acusações e vitimizações em todas as direções. Mais do que uma visita ministerial mal-planeada, estamos perante um sintoma de algo maior. Este episódio será, quiçá, apenas o primeiro de muitos momentos que evidenciam a crescente instabilidade no jogo político local.
A política não perdoa, como bem se sabe. E o senhor presidente, aparentemente excluído da visita, apela agora à simpatia do eleitorado, na esperança de que o erro protocolar seja entendido como uma falha, um pequeno deslize que, de forma inesperada, poderá ser transformado numa grande oportunidade de afirmação. O grande problema, contudo, é que, quando a política começa a entrar na esfera da teatralidade, o palco é sempre maior do que o público. E o que parecia uma oportunidade para revalidar a sua importância, arrisca-se a transformar-se num protesto melancólico de quem ainda tenta fazer-se ouvir no final de um ciclo político.
Talvez o senhor Luís Pereira tenha olhado para o episódio e pensado: “Afinal, quem não se importa de ser deixado de fora, não vai perder a chance de fazer valer a sua indignação.” Porque, no fundo, a política é isto mesmo — uma constante busca de protagonismo, de garantir que o nome fica gravado na memória, pelo menos enquanto a oportunidade não se extingue. E, como em qualquer bom enredo político, o protocolo pode falhar, mas o ego nunca deixa de ser o verdadeiro motor das decisões.
E assim, o caso de Vila Velha de Ródão segue o seu curso, entre protocolos quebrados, figuras políticas que tentam se afirmar e uma população que, talvez, olhe para tudo isto como mais um capítulo de uma história que, por mais que se repita, nunca deixa de ter a sua dose de comédia. Em 2025, este episódio, mais insólito do que qualquer visita ministerial, serve apenas para mostrar que a política local continua a ser um jogo de bastidores onde o mais importante não é o que se faz, mas o que se diz que se faz.
Na verdade, o grande vencedor desta história poderá não ser o protocolo, nem os princípios, mas sim a capacidade de protagonismo político que, por vezes, surge precisamente quando tudo parece estar à beira do colapso. O senhor presidente Luís Pereira, ao final do seu mandato, pode ter entendido que, mesmo sendo o último ato, a peça ainda pode ser encenada com grande pompa — mesmo que seja para dar a impressão de que o espetáculo nunca terminou.
