Caso ganhe as próximas eleições, o Governo do PSD deve perder alguns dos seus mais mediáticos ministros. Segundo fontes próximas da liderança dos sociais-democratas confessam ao OREGIÕES, Margarida Blasco (Administração Interna), Pedro Duarte (Assuntos Parlamentares), Ana Paula Martins (Saúde) e Dalila Rodrigues (Cultura) estão na mira do primeiro-ministro
Blasco está presa aos escândalos da Rua da Bemposta e da morte, alegadamente à mão de um agente da PSP, do cidadão Odair Moniz. Para a substituir pode sair a sorte-grande ao CDS, com mais um ministro, mas que é reconhecido com um político muito conhecedor da área: Nuno Magalhães. Seria um prémio merecido após anos preparado para o cargo.
Já Pedro Duarte sairá para se candidatar à Câmara Municipal do porto. Ana Paula Martins, da Saúde, sairá por péssima imagem pública e mau desempenho na solução dos problemas do Serviço Nacional de Saúde. Enfrenta, inclusive, contestação de alguns colegas do Executivo. Finalmente, Dalila Rodrigues não tem agradado ao sector da Cultura, embora a estratégia da ministra tenha sido de acabar com os “clientes de sempre” – os grupos e lóbis que sempre recebem do Ministério.
Para ocupar o lugar de ministro dos Assuntos Parlamentares está na calha o líder parlamentar do PSD, Hugo Soares. Mas político e mais espalhafatoso do que Pedro Duarte, Hugo Soares ganhou grande relevância no último ano, tendo que fazer equilíbrios com todos os grupos parlamentares e, ao mesmo tempo, defender um governo minoritário. Advogado, Soares é visto como um possível sucessor ao próprio Luís Montenegro, como Paulo Rangel ou Carlos Moedas.
Saúde em risco
Pode ainda acontecer uma outra toca: Leitão Amaro, ministro da Presidência assumirá o lugar de Pedro Duarte e Hugo Soares fica com o emprego de Leitão Amaro. Tudo depende do resultado das previsíveis legislativas de 11 de Maio.
Para a Saúde existem vários nomes na calha, mas ainda não está fechado nenhum convite. O próximo detentor da pasta terá que reconquistar a confiança dos eleitores e do público em geral, dada a imagem negativa e os sucessivos casos ocorridos durante o mandato da sua antecessora. O mais óbvio é o deputado do PSD Miguel Guimarães, antigo bastonário da Ordem dos Médicos. Guimarães tem larga experiência na Saúde e ainda mantém uma mensagem e imagem de antipolítico. A escolha esteve em cima da mesa há um ano e Montenegro quer dar oportunidade a uma figura mais séria e circunspecta ao ministério malfadado.
Por fim, José Eduardo Martins, uma voz independente dos tempos do “passismo”, pode receber um prémio envenenado, que só lhe cabe aceitar ou não – a entrada para a Cultura, para aliviar a pressão que se está a criar no sector. Eduardo Martins deverá, porém, exigir o retorno do sector público da Comunicação Social (RTP e Lusa) à Cultura – está nas mãos de Pedro Duarte, copiando o esquema de governo de Aníbal Cavaco Silva. Mas Eduardo Martins, que corre por fora para a liderança do PSD, pode dar uma nega ao primeiro-ministro, por não querer “esmolas” e ser queimado num governo minoritário.
Marcelo irritado
Os últimos dias deixaram o Presidente da República irritado com Montenegro e Nuno Santos. Fez dezenas de problemas e tentou encontros “secretos” entre ambos. Mas os irredutíveis líderes partidários mostraram-se irredutíveis. Rebelo de Sousa, em final de mandato já se desculpa com o caos políticos dos últimos dois anos: “Caíram tantos governos comigo como com o general Ramalho Eanes”, disse em declarações aos jornalistas, um dia antes da discussão da moção de confiança apresentada e chumbada no Parlamento esta terça-feira.
O Chefe de Estado quis poupar 25 milhões de Euros ao Estado (o custo das eleições) e travar a ida às urnas. Cerca de 70 por cento dos eleitores disseram a uma sondagem da Aximage, para o DN, que não queriam ter eleições. O sentimento, igual ao do Presidente, não vingou, e os actos de clube de combate na Assembleia valeram mais do que bom senso de Marcelo e da maioria dos cidadãos.
Quem ganha?
Para já, o PS promete voltar a apresentar o pedido potestativo de uma Comissão de Inquérito a Montenegro na próxima legislatura. O actual e eventual próximo primeiro-ministro diz que, mesmo “arguido”, se vai candidatar. No último Conselho de Ministros o Governo fez passar um pacote comum em Executivos em queda: um verdadeiro bodo aos pobres para preparar a campanha eleitoral.
Mas Pedro Nuno Santos, líder do PS, detesta as sondagens internas que tem recebido. Uma delas dá o PS com um intervalo de margem de erro com os socialistas a perder deputados e a sofrer uma derrota maior do que há um ano.
O Chega deverá ainda perder cerca de dez deputados e o PAN não garante, ainda, a presença de um eleito. Quem parece capitalizar com os descontentamentos são O Livre e a Iniciativa Liberal. Enquanto eleitores da ala esquerda do PS e boa parte do eleitorado do Bloco de Esquerda emigram para o partido Livre, do historiador Rui Tavares, ao centro direita e mesmo na extrema-direita há intenção de se refugiar na Iniciativa Liberal – um voto não comprometido e flutuante, mas que dá ensejo e alento ao partido liderado por Rui Rocha.