Uma análise aos programas eleitorais do Partido Socialista (PS) e do Partido Social Democrata (PSD) para as Eleições Legislativas de 18 de maio de 2025 revela pontos de contacto inesperados em temas considerados essenciais para o futuro do país, apesar das alegadas e profundas divergências ideológicas de fundo. Uma leitura atenta dos nossos repórteres encontrou, afinal, mais semelhanças do que diferenças
Acelerar a Transição Energética
A transição energética surge como um dos pilares desta aproximação programática entre as duas maiores forças políticas nacionais. Ambos os partidos reconhecem a premente necessidade estratégica de acelerar o passo na produção de energias renováveis. Esta aposta consertada visa não só diminuir a dependência dos combustíveis fósseis, um imperativo geoestratégico e ambiental face ao atual contexto global, como também posicionar Portugal na linha da frente das políticas energéticas mais “verdes” a nível europeu. O consenso estende-se ao incentivo ativo do auto consumo e à dinamização das comunidades energéticas, mecanismos vistos como cruciais para envolver diretamente cidadãos, empresas e autarquias na gestão descentralizada e mais eficiente dos recursos energéticos. Promover um modelo energético mais resiliente, ambientalmente sustentável e economicamente vantajoso para o consumidor final parece ser a bússola que orienta as propostas de ambos os lados neste domínio crucial.
Gestão Hídrica Face à Escassez
Face aos desafios impostos pelas alterações climáticas e à crescente frequência de períodos de seca extrema que afetam o território nacional, a gestão dos recursos hídricos constitui outra área de partilha de preocupações e de soluções programáticas. Tanto socialistas como sociais-democratas sublinham a necessidade imperativa de reforçar as capacidades de armazenamento de água em infraestruturas adequadas e de explorar de forma mais assertiva abordagens inovadoras para a sua reutilização, nomeadamente para fins agrícolas ou industriais. Esta convergência reflete a consciência partilhada sobre a urgência do tema na agenda política nacional e a sua criticidade para setores vitais da economia, como a agricultura, sendo particularmente vulnerável à falta de água, e, claro, para o consumo humano. A garantia da disponibilidade deste recurso essencial, mediante uma gestão mais eficiente e sustentável, figura assim nas agendas de ambos os partidos como um ponto de ação prioritário que transcende as habituais divisões.
Rumo a uma Economia Circular na Gestão de Resíduos
No que concerne à gestão de resíduos, as propostas do PS e do PSD manifestam igualmente afinidades notáveis, alinhando-se com as metas e princípios da União Europeia nesta matéria. A meta de reduzir substancialmente a quantidade de resíduos enviados para aterro — um destino com elevado impacto ambiental — e a promoção ativa dos princípios subjacentes à economia circular são objetivos que encontram eco nos dois programas eleitorais. Esta sintonia evidencia um entendimento comum sobre a necessidade de modernizar e otimizar o ciclo de vida dos materiais consumidos pela sociedade, desde a sua produção até à sua eliminação ou, preferencialmente, valorização. A aposta na valorização de resíduos, transformando o que antes era desperdício em recurso, e a implementação de práticas que minimizem o impacto ambiental do lixo gerado surgem como linhas orientadoras partilhadas, convergindo numa visão de um futuro onde a gestão de resíduos seja mais inteligente, eficiente e, acima de tudo, ecológica.
Digitalização da Administração Pública como Prioridade
A modernização e digitalização da administração pública representam, por seu turno, uma área onde o consenso estratégico se manifesta de forma clara e inequívoca. PS e PSD reconhecem a tecnologia e a simplificação de processos como vetores indispensáveis para aumentar a eficácia, a transparência e a acessibilidade dos serviços prestados pelo Estado aos cidadãos e às empresas. A desburocratização, um anseio antigo da sociedade portuguesa e um fator crucial para a competitividade económica, e a disponibilização alargada de serviços online, acessíveis a partir de qualquer ponto do país e a qualquer hora, são vistas por ambos como alavancas fundamentais para impulsionar a modernização do país, estimular a atividade económica e, em última instância, simplificar a vida quotidiana das pessoas, libertando tempo e recursos que podem ser alocados de forma mais produtiva. Esta aposta comum e expressa na inovação tecnológica ao serviço da governação sublinha uma visão partilhada sobre o papel transformador da digitalização.
Convergências ditadas pelos Desafios
Estas áreas de convergência programática, embora coexistindo com clivagens notórias em outros domínios cruciais da governação e da visão de sociedade, sugerem que alguns dos desafios mais prementes enfrentados pela sociedade portuguesa, a par de tendências globais e diretivas europeias que Portugal se comprometeu a cumprir, acabam por forçar as principais forças políticas a trilharem caminhos que, em certa medida, se cruzam. É como se, perante a magnitude de certas ondas transformadoras – como a transição climática ou a revolução digital –, os grandes navios da política nacional tivessem de ajustar rotas para rumos semelhantes, independentemente do porto final ideológico a que idealmente aspiram chegar.
Em suma, a análise aos programas do PS e do PSD para as próximas legislativas de 18 de Maio revela, para lá das habituais linhas de rutura que marcam o debate político, pontos de encontro significativos em matérias ambientais, de gestão de recursos essenciais e de modernização administrativa. Estas convergências pontuais sublinham a complexidade do panorama político nacional e a influência de desafios transversais que, pela sua urgência e impacto, parecem ultrapassar as divisões ideológicas tradicionais, apontando para áreas onde a continuidade ou, pelo menos, uma base de entendimento mútuo, poderá ser provável.
(Nota do editor: Para aprofundar as propostas específicas do PS e do PSD nas áreas mencionadas, consulte os documentos programáticos oficiais disponibilizados pelos respetivos partidos. Informações adicionais sobre o calendário eleitoral e a legislação aplicável estão disponíveis no site da Comissão Nacional de Eleições. https://fne.pt/pt/noticias/go/atualidade-programas-eleitorais-dos-partidos-politicos—legislativas-maio-2025)