A PSP recuperou 207 peças cerâmicas que tinham desaparecido das Faianças Bordallo Pinheiro, avaliadas em cerca de 45 mil euros. Contudo, a empresa, quando apresentou a queixa, avaliou as peças num valor total que ronda os 140 mil euros, pelo que a investigação vai prosseguir
A PSP anunciou este domingo que foram recuperadas mais de 200 peças cerâmicas decorativas, no valor de 45 mil euros. Os objetos tinham sido roubados de duas instalações das Faianças Bordallo Pinheiro, nas Caldas da Rainha.
Numa nota divulgada, a força de segurança informa que as 207 peças de cerâmica de arte Bordallo foram recuperadas e apreendidas na quarta-feira, na sequência de diligências realizadas no âmbito de vários inquéritos crime por furtos qualificados, participados durante o mês de abril.
“Da ação desenvolvida, foi ainda identificado um suspeito de 40 anos, com historial de ilícitos semelhantes, tendo sido constituído arguido por fortes suspeitas de envolvimento nos crimes de furto e recetação”, acrescentou.
Neste sentido, a empresa de Faianças Bordallo Pinheiro detetou o desaparecimento de peças, num valor total que ronda os 140 mil euros, “pelo que esta polícia vai prosseguir com a investigação com o objetivo de recuperar as restantes peças”.
“A PSP de Leiria mantém o seu compromisso no combate à criminalidade patrimonial e na proteção dos direitos dos cidadãos”, pode ler-se na nota.
Criatividade ímpar
Raphael Bordallo Pinheiro é uma das personalidades mais relevantes da cultura portuguesa oitocentista, com uma produção notável designadamente nas áreas do desenho humorístico, da caricatura e da criação cerâmica, constituindo-se o conjunto da sua obra, de uma inquietante atualidade e um documento fundamental para o estudo político, social, cultural e ideológico de uma época. Por isso, não é de admirar que muitos colecionadores paguem pequenas fortunas por uma simples peça de Bordallo Pinheiro, sem quererem saber da sua proveniência.

A Fábrica de Faianças das Caldas foi fundada a 30 de Junho de 1884, ficando Raphael Bordallo Pinheiro responsável pelos aspetos técnico-artísticos e seu irmão Feliciano Bordallo Pinheiro pelos aspetos organizativos.
Raphael também acompanhou a peculiar conceção arquitetónica das instalações que incluía um espaço destinado a escola de cerâmica, onde se lecionavam vários cursos da especialidade. A fábrica e depósito de vendas estavam envolvidas por um parque arborizado contento duas nascentes de água e dois Barreiros e era decorado com as próprias cerâmicas de Raphael Bordallo Pinheiro.
Na fábrica de Raphael Bordallo Pinheiro foram criados centenas de modelos cerâmicos de criatividade ímpar, baseando-se nas tradições locais, nomeadamente na olaria caldense, adotando a fauna e a flora como inspiração decorativa. A sua produção cerâmica, especialmente pela sua qualidade artística, ganhou grande projeção e transformou-se num pólo de atração nacional e internacional.
Bordallo modela também as personagens do quotidiano português com audácia e um notável sentido crítico e, nos seus azulejos, cria padrões com influências tão vastas quanto diversas: do Naturalismo ao Renascimento, passando pela Art Nouveau e pelo legado hispano-árabe.
Raphael Bordallo Pinheiro com ajuda da sua equipa de operários, produziu obras arrojadas, quer pelas dimensões, quer pela delicadeza dos pormenores.