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Quando o Poder Perde a Vergonha: A Humilhação Política em São Vicente da Beira

Este Domingo, 25 de maio, ficará gravado na memória dos habitantes de São Vicente da Beira não apenas como o dia em que se concluiu o restauro do altar da Capela de Nossa Senhora da Orada. Ficará como o dia em que a política traiu a dignidade, e o poder demonstrou que, quando se fecha sobre si próprio, perde a razão de existir.

Foto: D.R.

Perante uma população atenta, orgulhosa das suas raízes e profundamente ligada à sua terra, Leopoldo Rodrigues, presidente da Câmara Municipal de Castelo Branco, protagonizou um episódio que envergonha qualquer ideia de serviço público. Ao ignorar ostensivamente João Filipe Goulão, presidente da Junta de Freguesia local, Rodrigues não cometeu apenas uma falta de educação. Praticou um acto de desconsideração institucional, politicamente calculado e moralmente reprovável.

Goulão, apesar de não ter sido convidado, compareceu com o seu colega tesoureiro da junta de freguesia. Fê-lo por respeito à sua freguesia e à comunidade que representa. Fê-lo porque sabia que o que estava em causa ia muito além de uma cerimónia religiosa. Era um momento da terra, do povo, da identidade colectiva de São Vicente da Beira. E mesmo assim, foi ignorado.

Leopoldo Rodrigues, por sua vez, não só se fez acompanhar por dois presidentes de junta de freguesias do outro lado da cidade — Malpica do Tejo e Monforte da Beira — como fez questão de os elogiar no seu discurso. Fê-lo com um entusiasmo que contrastou com o silêncio deliberado em relação ao anfitrião do território onde o evento teve lugar. Esta omissão, longe de ser um lapso, traduziu uma intenção clara: humilhar politicamente João Filipe Goulão e, com ele, uma parte do concelho que não se curva ao poder instalado.

Na assistência, composta por moradores e empresários locais, o desconforto foi imediato. As conversas baixas e os olhares cruzados denunciaram uma comunidade perplexa. Em São Vicente da Beira todos se conhecem, e a ausência de uma simples referência ao presidente da Junta local foi lida, com razão, como um insulto à própria freguesia.

Não se trata apenas de protocolo. Trata-se de valores. De ética política. De saber estar. De reconhecer, mesmo nos adversários, a legitimidade democrática e a importância institucional. João Filipe Goulão representa o movimento Independente Sempre, é oposição, sim. Mas é também, e sobretudo, o representante eleito do povo de São Vicente da Beira. E isso exige respeito. Não apenas por ele, mas por todos aqueles que o elegeram.

Este episódio expõe, com clareza perturbadora, o tipo de liderança que Leopoldo Rodrigues tem vindo a construir: centralizadora, punitiva, avessa à diferença. Uma liderança que confunde lealdade partidária com competência, que substitui o diálogo pela exclusão, e que troca o espírito de concelho por uma lógica de obediência.

A Fábrica da Igreja, entidade responsável pela organização do evento, também não sai incólume deste episódio. A ausência de convite ao presidente da Junta levanta dúvidas legítimas. Terá sido um esquecimento? Ou terá sido cedência ao poder político que financia obras e apoios? É difícil acreditar em coincidências quando o silêncio se repete com tamanha precisão.

Não é a primeira vez que a linha entre o poder civil e a influência religiosa se esbate. O recente apoio da Câmara à Fábrica da Igreja para obras na romaria da Senhora de Mércoles adensa esta nuvem de conivência. Quando o dinheiro substitui os princípios, a fé corre o risco de se transformar em moeda de troca.

O que se passou em São Vicente da Beira foi mais do que uma descortesia. Foi um erro político com consequências. Porque quem governa, se não respeitar a pluralidade do concelho, acabará por governar para cada vez menos. E a erosão da confiança começa nestes pequenos grandes momentos, onde se mostra quem verdadeiramente se é.

Setembro de 2025 aproxima-se. E, com ele, o juízo dos cidadãos. A urna, fria e silenciosa, saberá recordar este sábado. Saberá distinguir quem serve do que se serve. E poderá castigar quem preferiu dividir a unir, excluir a integrar, humilhar a dialogar.

Em São Vicente da Beira não se restaurou apenas um altar. Perdeu-se mais um degrau na escada da confiança. E essa, quando se quebra, dificilmente se recompõe.

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Fernando Jesus Pires
Fernando Jesus Pireshttps://oregioes.pt/fotojornalista-fernando-pires-jesus/
Jornalista há 35 anos, trabalhou como enviado especial em Macau, República Popular da China, Tailândia, Taiwan, Hong Kong, Coréia do Sul e Paralelo 38, Espanha, Andorra, França, Marrocos, Argélia, Sahara e Mauritânia.

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