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Reality p’ra quê?

Aqui em casa há televisores e, sem querer, um deles sobrevoa um programa em que vemos um cenário de papel, esferovite e cola branca. Dentro do cenário andam pintas com camisa aberta, corrente de ralo de bidé, de calções e meia branca em chinelo da moda. Ao lado estão umas senhoras, jovens como eles, sempre de mini-saia ou biquíni. Esmam para ali e, se cometemos o erro de “ir ouvir o que é”, levamos com as conversas infernalmente estúpidas de adolescentes que erram a eito, sem grande interesse no mundo.

Já ouvi um adolescente dizer-me directamente que iam agora começar a ler o romance “Arroz de Perdição”. Rendi-me a tamanho disparate, ri-me e lá lhe disse que talvez o título fosse outro -sem o esclarecer. Mas caramba, aos 16 ainda querem enfiar o Arroz e o Eurico na mona de uma geração totalmente diferente – que evoluiu bastante desde que o programa foi feito, ainda numa Remington 2, em que a banda vermelha da fita estava seca?

Perdi-me. Volto ao assunto dos detidos pelas paredes de esferovite e papel molhado em cola Art Attack. Dizia que, se se põe som, então a desgraça é completa. Elas querem ser virgens até às sete e meia da tarde. Eles querem tentar o crescei, mas não vos multiplicais – a qualquer hora.

Falam de quê? Falam como se estivessem todos casados, numa núpcia colectiva que ocorreu numa igreja maior que a Basílica de S. Pedro. Têm aquelas conversas monótonas de “não lavaste a loiça, “foste péssima com a Carina Vanessa” ou “eu nunca cozinhei truta”.

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Falha-me aqui, de verdade, o interesse destas coisas. E sei que mais de metade dos portugueses com televisor em casa segue cegamente as desventuras diárias deste molho de rosa e cravos desnascidos, que deve confundir a mão esquerda com o baço direito. Sim, disse o baço.

O comediante Lewis Black apostou, um dia, que o “Reality Show” final seria o do suicídio. Iam todos a correr no planalto do Grand Cannyon e depois atiravam-se cá para baixo. O último a morrer ganhava 10 milhões de dólares. Concordo.

Podiam começar já. Chamava-se “O Destino Marca a Hora”. Era apresentado pelo Fernando Mendes. Ou por aquele moço que faz de juiz no programa da tarde e que parece o Hermano Saraiva, mas inventa menos do que o original. E pronto. Toda a gente a correr na Ilha do Pico, sem bóias nem braços, chumbo à cintura e pimba! Lá ia o Toni, o Freddy, o Zoaz, a Carina, a Tininha, o Bó, todos numa linda queda de anjo, ainda a berrar uns para os outros: “Os teus sapatos estão desarumaaaaaaaaaaaaaaaaaaa! Ploft!

Isso eu via. Com gosto, até. E apostava na Belmira.

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Joao Vasco Almeida
Joao Vasco Almeida
Jornalista, autor, (pré-agricultor).

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