“Uma paragem inesperada devido a problemas técnicos no fornecimento de eletricidade”. Há uma semana a Repsol avisou, com estas palavras alguns dos seus principais clientes que as entregas de produtos na sua refinaria de Cartagena seriam suspensas até que o incidente fosse completamente resolvido

Segundo o jornal “El Mundo” uma falha eléctrica provocou, na passada terça-feira, a paragem da refinaria da Repsol em Cartagena, na região espanhola de Múrcia. A empresa justificou a suspensão das operações numa carta enviada aos seus clientes, invocando “força maior”. O incidente ocorreu no contexto de um apagão de grande dimensão que afectou toda a Península Ibérica e poderá demorar horas até ser plenamente resolvido, segundo a Red Eléctrica.
O alerta inicial foi lançado pela Repsol no dia 24 de abril, através de uma comunicação a que o jornal El Mundo teve acesso. A petrolífera referiu uma “paragem inesperada devido a problemas técnicos no fornecimento de eletricidade”, tendo activado os protocolos de segurança para proteger a infraestrutura. A falha foi descrita como “externa” à instalação industrial, forçando a suspensão imediata da produção.
Entretanto, a Red Eléctrica, entidade responsável pela gestão da rede nacional de eletricidade em Espanha, confirmou que o país enfrentou um “colapso total do sistema eléctrico” provocado por um desequilíbrio súbito entre oferta e procura, na sequência de uma significativa perda de produção. O incidente começou por volta das 12h30, com fortes flutuações de tensão que dispararam os alarmes da rede.
Segundo o ministro dos Transportes espanhol, Óscar Puente, registou-se um “excesso de tensão” na linha de alta velocidade entre Chamartín e Pajares, que separa Castela e Leão das Astúrias. A afirmação foi acompanhada de uma imagem do portal da Red Eléctrica, ilustrando a extensão da falha. Esta situação, sem precedentes na história recente espanhola, ainda não se encontra totalmente resolvida.
O panorama energético em Espanha tem vindo a alterar-se rapidamente, com a crescente incorporação de fontes renováveis, nomeadamente solar e eólica. Contudo, segundo técnicos do sector, estas tecnologias não são geríveis de forma contínua, dificultando o equilíbrio entre produção e consumo. A análise da evolução do sistema na última semana indica que os picos de produção fotovoltaica, sobretudo durante as horas de maior insolação, estão a ultrapassar a procura, obrigando frequentemente à redução da produção para evitar desequilíbrios.
Esta realidade já era motivo de preocupação entre especialistas, conforme alertava o Plano Nacional de Energia e Clima (PNIEC) espanhol. As infraestruturas críticas, como refinarias ou linhas ferroviárias de alta velocidade, são especialmente vulneráveis a oscilações eléctricas, conforme evidenciado no episódio de Cartagena. Uma fonte de uma multinacional de trading de petróleo e gás caracterizou a activação da cláusula de “força maior” pela Repsol como “absolutamente anómala”, algo que acontece apenas “uma vez em cada vinte anos”.
Fontes do sector reforçam que falhas eléctricas desta magnitude são raras e que o sistema energético ibérico, devido à sua fraca interligação com o resto da Europa, enfrenta desafios acrescidos. A necessidade de incorporar tecnologias que proporcionem flexibilidade, como o armazenamento de energia ou centrais de backup, é cada vez mais evidente para garantir a estabilidade da rede.
Na última semana, Espanha registou dois colapsos energéticos de gravidade distinta, mas ambos com impactos em sectores estratégicos como a energia e os transportes. Estes episódios realçam a urgência de adaptar a gestão do sistema elétrico às novas dinâmicas impostas pela transição energética.
A Red Eléctrica mantém equipas técnicas no terreno para repor a estabilidade da rede, num esforço que poderá prolongar-se nas próximas horas. Em paralelo, o debate sobre a necessidade de reforçar as infraestruturas de apoio às energias renováveis ganha força no país, numa altura em que a aposta na descarbonização é uma prioridade política
Notícia? Ou tradução mal amanhada? Onde está dito que a Repsol avisou?