A gigante farmacêutica suíça Roche anunciou um investimento massivo de 43 mil milhões de euros (50 mil milhões de dólares) nos Estados Unidos da América, num claro movimento estratégico após as ameaças tarifárias da anterior administração norte-americana, liderada por Donald Trump. A decisão confirma o peso crescente do mercado norte-americano no sector farmacêutico global e revela a vulnerabilidade de grandes multinacionais perante a pressão política e económica dos EUA.
Segundo o comunicado oficial emitido esta terça-feira, a Roche vai aplicar este montante ao longo dos próximos cinco anos no reforço da sua capacidade de produção nos Estados Unidos, abrangendo unidades de fabrico e centros de diagnóstico nos estados do Kentucky, Indiana, Nova Jersey, Oregon e Califórnia.
O grupo sublinha que o investimento tem como objectivo consolidar a sua presença num mercado considerado essencial, já que os Estados Unidos representam mais de metade do volume de negócios da sua divisão farmacêutica, reconhecida mundialmente como líder na área da oncologia. Em 2024, a Roche registou um volume de vendas de cerca de 26,5 mil milhões de euros nos EUA, correspondendo a 53,7% da facturação global da divisão.
A aposta nos Estados Unidos irá traduzir-se na criação de aproximadamente 12 mil postos de trabalho, dos quais 6.500 estarão ligados à construção das novas infra-estruturas e cerca de mil serão postos permanentes nas futuras fábricas. Actualmente, a Roche possui já 13 unidades fabris e 15 centros de investigação e desenvolvimento em território norte-americano, empregando cerca de 25 mil pessoas.
A decisão da Roche surge dias depois de a sua rival helvética, a Novartis, ter anunciado um plano de investimento semelhante no valor de 20 mil milhões de euros, também destinado ao mercado norte-americano. Estes movimentos coincidem com o endurecimento da política comercial dos Estados Unidos, que recentemente iniciou investigações aos sectores dos fármacos e dos semicondutores, com o objectivo de aplicar novas tarifas aduaneiras.
A divisão de diagnóstico da Roche, que abrange desde testes de rastreio oncológico até aos testes para a Covid-19 e a diabetes, também reforça a importância do mercado norte-americano. Só na América do Norte, esta divisão atingiu vendas de 4,6 mil milhões de euros, o que representa 30,3% do total da unidade.
Contudo, a notícia do investimento não foi bem recebida pelos mercados. Nas primeiras horas de negociação, as acções da Roche recuaram 1,68%, fixando-se nos 251,30 francos suíços (cerca de 269,70 euros), numa reacção que analistas atribuem à dimensão do investimento e ao contexto geopolítico incerto.
Esta manobra estratégica expõe os desafios de equilíbrio enfrentados por grupos multinacionais, obrigados a responder a ameaças políticas, salvaguardando ao mesmo tempo os seus interesses económicos num dos mercados mais lucrativos do mundo. A dependência crescente dos Estados Unidos poderá, no entanto, levantar questões sobre a resiliência e independência do sector farmacêutico europeu num cenário de futuras tensões comerciais globais.