O desfecho era o esperado: Rui Rocha foi reeleito este domingo presidente da Iniciativa Liberal (IL), alargando a sua margem de vitória, com 73,4% dos votos, depois de ter vencido há dois anos por escassa diferença. Uma vitória bem mais confortável, que renova a confiança e dá argumentos ao líder para acreditar que o partido sai mais unido desta Convenção Nacional. Durante o seu discurso final, apontou prioridades, com destaque para a Segurança, e anunciou o segredo mais mal guardado da reunião magna deste ano foi finalmente revelado: Mariana Leitão, lider do grupo parlamentar do IL será a aposta do partido para as eleições presidenciais de janeiro do próximo ano.
A Iniciativa Liberal reelegeu este domingo, na IX Convenção Nacional do partido, Rui Rocha como seu presidente. O liberal obteve 73,4 por cento dos votos, enquanto o seu adversário na disputa pela liderança, o conselheiro nacional Rui Malheiro, alcançou 26,6 por cento. O primeiro discurso deste mandato renovado foi para falar de imigração e segurança, e Rui Rocha prometeu agravar penas e expulsar do país autores de crimes graves. A Iniciativa Liberal vai ainda lutar pela simplificação do sistema fiscal e pela descida de impostos.
Além da “defesa da liberdade”, “Portugal precisa de esperança, de coragem, de frescura, de ambição. Precisa da Mariana Leitão”, defendeu Rui Rocha, perante uma plateia entusiástica de liberais, que só aguardavam a confirmação da líder parlamentar liberal como candidata a Belém. Durante o primeiro dia da reunião magna foram muitas as pistas que faziam antever o nome, com vários liberais a considerarem que teria o perfil para candidata presidencial.
“Vamos em frente, vamos acelerar Portugal”, começou por dizer Rui Rocha no seu discurso após o anúncio dos resultados. “Este resultado confirma o que sempre soubemos: o partido está unido em torno de um programa político praticamente consensual e em torno de uma liderança, de um projeto para mudar Portugal”, continuou.
Rui Rocha disse ainda encarar este resultado “com humildade”, reconhecendo que “há certamente coisas a melhorar” e críticas deixadas ao longo desta convenção que devem ser consideradas.
O líder do partido afirmou também que não existe melhor local do que uma convenção de liberais para “passar a certidão de óbito às políticas identitárias, ao ‘woke-ismo’, paz à sua alma”.
No entanto, considerou “a liberdade de expressão um valor sagrado” e defendeu que limitá-la “é limitar o próprio pensamento”.
O liberal reeleito deixou também palavas acerca da segurança, frisando que sem esta não existe liberdade. “Portugal é um país seguro, mas também é certo que há certos tipos e criminalidade, certas zonas do país onde tem havido dados algo preocupantes”, declarou.
“A Iniciativa Liberal vai estar ativa na discussão sobre a segurança em Portugal e vamos fazê-lo à nossa maneira, com factos e soluções”, disse Rocha, adiantando que dia 12 de fevereiro, no debate no Parlamento, o partido vai apresentar um conjunto de medidas “que visam dar mais segurança aos portugueses”.
“Nesse pacote legislativo, está também incluída uma proposta de alteração do regime penal de crimes de associação criminosa, tráfico de seres humanos ou violência doméstica, agravando as respetivas penas, que hoje estão desajustadas da realidade social”, anunciou.
Entre as medidas do partido inclui-se uma proposta de alteração do regime penal de crimes de associação criminosa, tráfico de seres humanos ou violência doméstica, agravando as respetivas penas, e uma proposta de revisão do regime de sanção acessória de expulsão do território, em caso de “reincidência” ou de “serem cometidos crimes graves”.
Propostas que mostram que o partido não quer deixar o Chega a falar sozinho sobre o tema, tentando assumir o lugar da moderação entre o partido de André Ventura e o PSD. E seduzir o eleitorado preocupado com a segurança. O presidente dos liberais insistiu também que o lugar dos polícias “não é na secretária”, mas “na rua”, devendo as tarefas administrativas ser asseguradas por “funcionários administrativos” para libertar os agentes, saindo em defesa do reforço policial nas ruas.
Relativamente à imigração, reconheceu que o tema convoca vários ângulos de análise, mas na visão da IL, a imigração em Portugal faz falta, mas tem que ser regulada, até para não sujeitar os cidadãos estrangeiros a fenómenos de exploração e redes de tráfico: “A posição da IL é clara, quem tem trabalho entra, quem cumpre a lei fica”, vinca
Além desta proposta, Rui Rocha indicou ainda que a IL vai avançar com uma “proposta de revisão do regime de sanção acessória de expulsão do território, em caso de reincidência ou de serem cometidos crimes graves”.
Já a descida da carga fiscal – uma das principais bandeiras liberais -, continuará a ser prioridade, com Rocha a defender que em matéria de IRS existem “duas grandes injustiças”: aquela que está a ser contra quem tem mais de 35 anos de idade e contra aqueles que têm menos de 35 anos e começaram a trabalhar cedo. “Primeiro há que corrigir a injustiça do IRS Jovem e de seguida lutar pela descida de impostos para que seja para todos”, adiantou.
Estado mais magro
Durante o seu discurso enquanto presidente reconduzido, Rui Rocha falou também para o seu eleitorado, apontando, por exemplo, para a “racionalização” do sector empresarial do Estado e a “redução” da Administração Consultiva do Estado, como bandeiras que a IL deve continuar a apostar.
Mas o presidente dos liberais lançou igualmente recados para dentro, assegurando que a IL está “unida” em torno de um programa político “praticamente consensual” e “de uma liderança”, criticando aqueles que acusaram a IL de não ter curado as feridas profundas desde a última reunião. Sublinhou que sempre soube que esse “debate aceso” não correspondia a “qualquer fratura” no partido, nem a “divergências insuperáveis”, dando uma palavra a Rui Malheiro, que obteve 26,6% dos votos.
Apesar de não ser uma surpresa, disse que foi com “humildade” que recebeu a vitória e reconheceu que há “seguramente” questões a melhorar na IL. Para isso, promete olhar para as críticas e reparos e contar com os contributos dos membros eleitos dos novos órgãos nacionais. Sem apontar metas para os próximos atos eleitorais, assumiu, contudo, a “responsabilidade de fazer o partido crescer”. O próximo teste será já na Madeira, no próximo dia 23 de março.
Entradas e saídas na IL
Na lista à Comissão Executiva com que se apresentou a estas eleições, Rui Rocha propõe uma renovação de perto de um terço dos membros efetivos (36%) da direção do partido, com nove entradas e igual número de saídas. O número de membros que a compõem mantém-se, no entanto, exatamente igual (25), assim como a proporção de mulheres (24%).
Entre as personalidades que entram na Comissão Executiva de Rui Rocha está a líder parlamentar da IL e agora candidata presidencial, Mariana Leitão, que sobe ao cargo de vice-presidente.
De saída está o deputado Bernardo Blanco, até agora vice-presidente do partido, que já tinha afirmado que pretendia deixar a direção (que integrava desde 2019), invocando motivos pessoais, tendo apresentado nesta convenção uma lista ao Conselho Nacional da IL.
Esta foi apenas a segunda vez na história da IL em que houve uma disputa interna pela liderança do partido, depois de, em 2023, Rui Rocha ter ganho as eleições internas com 51,7% dos votos, derrotando Carla Castro e José Cardoso.