Segundo a proposta apresentada na reunião da Concertação Social, o Governo propõe um aumento de 50 euros anuais para o salário mínimo ao longo dos próximos quatro anos, culminando em 1.020 euros em 2028. Sim, 2028. No papel, parece um plano bem estruturado, quase milimétrico, mas na realidade, é como prometer uma festa daqui a quatro anos enquanto o jantar de hoje nos chega frio e incompleto.
A proposta de aumentos anuais de 50 euros parece, à primeira vista, um gesto simpático, quase generoso. Mas olhando de perto, é difícil não ver que este plano de quatro anos é mais uma forma de ganhar tempo e adiar compromissos reais. Enquanto os salários sobem devagar, o custo de vida corre, sem se dar ao luxo de esperar por 2028. Para os trabalhadores que vivem no limite, o impacto destes aumentos vai ser engolido pelos aumentos dos preços dos bens essenciais e pela inflação, que, como sabemos, não tira férias.
É interessante notar como o Governo faz estas propostas com a confiança de quem já tem tudo controlado — mas esquece-se de que a economia real não funciona com previsões tão lineares. Quem nos garante que, em 2028, os 1.020 euros vão ter algum impacto no bolso dos trabalhadores? A inflação e os aumentos no custo de vida já nos têm mostrado que a economia muda com a rapidez de um furacão, e a lentidão destes aumentos apenas adia o problema.
E aqui entramos no verdadeiro cerne da questão: o Governo está a prometer dinheiro que, na prática, pode não valer grande coisa quando chegar. Se o custo de vida continuar a subir como até agora, esses 1.020 euros de 2028 podem ter o mesmo poder de compra que os 820 euros de hoje. No fundo, não se trata de um aumento real, mas sim de uma corrida de cangurus entre salários e inflação, em que quem trabalha arduamente é sempre ultrapassado.
O governo, ao prometer aumentos anuais de 50 euros, governa com uma régua, enquanto o país precisa de algo mais imediato, mais substancial e mais ajustado à realidade atual. Mas enquanto nos entretêm com estes aumentos progressivos, ficamos à mercê de promessas ao longe, enquanto a carteira se esvazia depressa no presente.
Talvez seja tempo de menos planos a quatro anos e mais ação concreta agora. Afinal, não se paga o pão de hoje com promessas de aumentos amanhã.