Não podemos deixar que um projeto sem igual no resto do mundo se cale. João Pedro Costa é profissional de rádio desde 1985. Visionário, lutador, nunca desistindo mesmo quando os apoios escasseavam ou o projeto era visto, pelos possíveis financiadores, como impossível ou mesmo lírico. Mas com a sua capacidade de trabalho construiu uma carreira que o levou ao oriente, depois de diversas formações na BBC e na RDP nos anos oitenta e de pertencer à equipa de uma das primeiras rádios feitas por estudantes na cidade de Lisboa, a Rádio Universidade Tejo. Trabalhou com Matos Maia, mestre dos mestres
O desejo de novas aventuras apontou-lhe o Japão, mas assentou na TDM-Rádio Macau, onde, entre muitas outras iniciativas ligadas ao som, experimentou divulgar o prazer da rádio entre os jovens, trabalhando como formador e coordenador de produção, assim nascendo a Rádio Sonora. E foi na Ásia que descobriu a enorme «largura de banda» que a rádio permite: produção de rádio e televisão, em documentários e notícias, por várias partes do mundo para canais anglófonos, desde a VOA, SBS (Austrália), RTHK (Hong Kong), J-Wave (Japão), Star FM (Filipinas), além de trabalhos de correspondente para estações portuguesas.
Viajou com amigos, onde me incluí – mergulhámos no oriente profundo e nas areias do Saara – organizámos eventos através da Música do 4º Mundo (trouxemos John Zorn a Macau e montámos periodicamente uma Feira de Discos Usados), produziu e editou um álbum com Novas Bandas de Macau nos anos 90.
Com voz bem característica, melodiosa mas assertiva quando necessário (ver o seu trabalho sobre “O Manifesto Anti-Leitura”, de António Fanha), os documentários que narrou para televisão e rádio ajudaram quem escutava a viajar. Em 2010 chegou a formar a banda de spoken-word Swordswing.
O regresso à Europa levou-o até à Euronews, onde foi produtor durante oito anos e regressou a Portugal para desenvolver projetos de formação digitais online. Foi formador da primeira equipa da Benfica TV, mas não parou muito tempo por lá. Em 2011 regressou à Ásia e abraçou vários projetos de media digitais e só voltou porque alguém lhe acenou com um projeto de rádio para e feita por miúdos.
O sonho nasceu quando a amiga Verónica o desafiou a criar a Rádio Miúdos. O projeto era tão desafiante, que o João Pedro, o tal João Pedro aventureiro, céptico exclamou “Olha lá, se houvesse uma rádio para miúdos não achas que já se tinham posto a fazer uma?”, e Verónica respondeu-lhe: «Não, mas a ideia é mesmo uma rádio de miúdos para miúdos!».
Licenciada em ensino básico, cantora profissional do coro da Gulbenkian há 20 anos, Verónica Milagres queria juntar três grandes paixões: a música, a língua portuguesa e as crianças. E encontrou no João Pedro Costa o companheiro ideal!
O estúdio da Rádio Miúdos encontra-se na região oeste. Exclusivamente on-line, com emissão 24 horas/7 dias por semana, tem um programa desde 2018 onde aplica metodologia própria para ativar rádios nas escolas. Conta com uma rede de 150 estabelecimentos de ensino que seguem esta metodologia, para além de inúmeros serviços onde crianças e comunidades exercem cidadania ativa através da rádio. Afinal, os cidadãos não nascem aos 18 anos, quando votam pela primeira vez…
Uma outra faceta é promover a formação e ativação de rádios comunitárias, de que a primeira é a Rádio da JF de Belém, a funcionar desde 2021.
Em contrate com um futuro repleto de projetos, a falta de apoios já obrigou a que abandonassem vários colaboradores. Paira uma nuvem negra, em breve não haverá sequer fundo de maneio para pagar a renda dos estúdios.
O sonho do João Pedro Costa e da Verónica Milagres não pode morrer.