O ex-provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), Pedro Santana Lopes, expressou o seu desagrado por ser o primeiro a ser ouvido pela Comissão de Inquérito à gestão estratégica e financeira da instituição, especialmente quando o processo de internacionalização dos jogos sociais, tema central das investigações, ocorreu após o seu mandato. Em uma resposta escrita à comissão, Santana Lopes sublinha que nunca foi discutida uma estratégia específica de internacionalização durante o seu período à frente da Santa Casa, rejeitando qualquer envolvimento com o assunto.
Segundo Santana Lopes, a ideia de expansão internacional dos jogos sociais, que inclui a possibilidade de entrada no mercado brasileiro, surgiu durante os mandatos de outros responsáveis, nomeadamente os de Maria José Nogueira Pinto e Rui Cunha. O ex-provedor revela que, embora tenha visitado Moçambique para estudar a sociedade SOJOGO, a instituição que geria jogos sociais naquele país, nunca houve qualquer plano formal para seguir essa linha de ação enquanto esteve na liderança da SCML. Ao invés, a sua gestão foi focada em resolver problemas estruturais e financeiros da instituição, incluindo a visita a Moçambique, onde encontrou uma sociedade com sérios problemas de gestão e finanças.
Santana Lopes também critica a abordagem da comissão e a falta de reconhecimento do passado da Santa Casa, que, segundo ele, sempre procurou diversificar as suas fontes de receita, incluindo a participação em fundos imobiliários e outras iniciativas com grandes investidores e grupos financeiros. Ele menciona a criação do Fundo Santa Casa, sob a liderança de Maria José Nogueira Pinto, e a parceria com a sociedade Coporgeste, ligada ao Grupo Espírito Santo, como exemplos dessa estratégia. Para o ex-provedor, a comissão parece ter ignorado esses aspectos da história da Santa Casa e agora, só tardiamente, questiona a instituição sobre eles.
O ex-provedor também se mostrou crítico das decisões tomadas pelo governo de Pedro Passos Coelho, particularmente no que diz respeito ao jogo online, que, segundo ele, representaram uma “machadada forte” na SCML. Ele questiona os partidos da oposição sobre o porquê de não terem contestado essas decisões na altura. Quanto às apostas hípicas, que não avançaram, Santana Lopes responsabiliza o partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN), que considerou as apostas prejudiciais à dignidade dos animais, e o facto de o governo precisar de apoio parlamentar da “geringonça”.
Em relação aos resultados financeiros da Santa Casa durante o seu mandato, Santana Lopes enfatiza que a comissão de inquérito não precisava de questioná-lo, pois os resultados estão publicamente disponíveis. Ele destaca que, ao assumir a liderança da instituição, a Santa Casa apresentava resultados negativos, mas que, ao final do seu mandato, a instituição registou os melhores resultados financeiros de sempre, com a melhoria significativa dos resultados líquidos.