António José Seguro apresentou na tarde deste domingo a candidatura à Presidência da República, nas Caldas da Rainha. Ex-líder da JS, deputado, eurodeputado, ministro, guterrista e antigo secretário-geral do PS, diz que não vem da política “tradicional”, defendendo “uma democracia de confiança”, em que “os políticos respondem pelo que fazem” e o Estado “está presente onde é preciso, com ética, competência e transparência”. O interregno de 10 anos e o facto de ter estado longe de Costa e de Sócrates no passado recente do PS dão-lhe o carimbo de supra-partidário? Mas será que chega?
“Por Portugal”, António José Seguro apresentou-se como candidato à Presidência da República e já tem o guião bem definido. Sublinhando que é a candidatura “das mulheres e dos homens progressistas”, afasta que não é uma candidatura partidária, “nem nunca será”. É ovacionado quando afirma: “Afastei-me quando podia dividir, volto agora para unir.”
Quase onze anos depois das eleições diretas do PS, em que António Costa derrotou o então secretário-geral do partido, em 2014, António José Seguro está de volta à política e afirmou que pretende chegar ao Palácio de Belém “livre, vivo e sem amarras”, sublinhando que está preparado para “chegar ao cargo supremo” da Nação.
Sala cheia para apresentação de candidatura de António José Seguro a Belém, com Maria de Belém, Francisco Assis, João Soares e Adalberto Campos Fernandes na plateia, mas sem membros da direcção do PS, o agora candidato à Presidência da República é claro quando afirma: “Eu sou um homem livre. Já o disse várias vezes. Não tenho amarras absolutamente nenhumas e considero que esta é uma eleição em que as pessoas expressam a sua convicção, as suas ideias, a sua visão do país. E, portanto, eu não tinha que esperar por ninguém. Eu tinha que ser eu próprio”.
O antigo líder do PS apresentou este domingo, nas Caldas da Rainha, a candidatura à presidente da República, vincando que não lidera “uma candidatura partidária” e que está longe dos “joguinhos de poder”. António José Seguro apresentou num longo discurso as suas linhas orientadoras, considerando que uma revisão constitucional não é prioritária neste momento e defendendo que o chumbo de um Orçamento do Estado não é motivo automático para a dissolução da Assembleia da República.
Segundo Seguro, há “muita gente” que o apoia, dentro do PS, mas também noutros partidos, referindo que nos estudos de opinião é apontado o apoio que tem “em todos os eleitorados de todos os partidos” e o reconhecimento da “característica de consenso”.
“Agora o Partido Socialista decidirá da melhor maneira. O Partido Socialista está numa situação que não é fácil, que é uma situação difícil. E, portanto, tem todo o tempo do mundo para decidir o que deve fazer nestas eleições presidenciais”, assegurou.
Questionado sobre se compreenderia que o PS não apoiasse formalmente a candidatura de um antigo secretário-geral do partido como é o seu caso, o socialista disse que “esse é um princípio que existe no PS”.
Defender Portugal com firmeza
Pelo meio do seu discurso vai deixando recados claros sobre a forma como actuará caso seja eleito, sublinhando à cabeça que “o chumbo do Orçamento do Estado não implica automaticamente dissolução do Parlamento”.
Considerado por alguns como o candidato que reúne mais consensos em torno da sua figura, António José Segura faz questão de afirmar, de uma forma solene, que “o país não pode andar de eleições em eleições de ano e meio em ano meio. Nem ter governos a prazo. Governos a prazo conduzem Portugal a prazo. Estou preparado para promover a conciliação e os compromissos necessários para mudarmos Portugal”.
Numa tirada que foi interpretada de imediato como uma farpa à candidatura de Gouveia e Melo, Seguro diz saber “o que está em jogo” e “como defender Portugal com firmeza e respeito”. “Não preciso de aprender no cargo, chego preparado”, afirma, arrancando aplausos da plateia com gente que não teve lugar sentado devido à lotação da sala.
Seguro, que defendeu que esta sua candidatura é “um dever cívico e um dever com o meu país. E eu quero retribuir o que o meu país me deu em formação, em educação, em oportunidades”, fez questão de sublinhar, ainda a propósito da candidatura de Gouveia e Melo, que “o comandante supremo das Forças Armadas não pode ser visto nem pensado enquanto possuidor de um poder de comando directo, mas enquanto detentor de uma responsabilidade constitucional, de zelar pela legalidade, pela integridade e pela missão cívica das Forças Armadas num regime democrático”.
Valores inegociáveis
No seu discurso, o antigo secretário-geral do PS disse ser guiado por “valores inegociáveis”, como a liberdade, igualdade, solidariedade, respeito pelo outro e seriedade, que apontou como “pontos cardeais” para um percurso rumo a “fazer de Portugal um país justo e de excelência”.
Realçando que não vem da política tradicional, apelou às pessoas que “estão fartas de promessas vazias, jogos partidários e discursos que nada resolvem”, dizendo-se “livre” e “sem amarras”. E apresentou-se como o protagonista da “candidatura das mulheres e dos homens progressistas” que pretendem um país “onde o futuro não emigra“ e “onde a política não se encontra separada da ética”.
Numa aparente comparação com outros candidatos e com o atual Chefe de Estado, Seguro defendeu que Portugal ”precisa de um Presidente que inspire confiança e estabilidade” e que “seja referência moral e não ruído mediático”. E que deve ser “árbitro respeitado, não jogador”; “facilitador de consensos, não gerador de clivagens”; e “sereno, não distante ou autoritário”.
Entre as suas causas, Seguro destacou a criação de riqueza, propondo-se a “promover os entendimentos necessários para uma economia mais produtiva e sustentável, ligada ao trabalho digno”. Para tal, defende uma nova cultura política, baseada no diálogo e no compromisso, “afastando de vez a cultura da tribo e das trincheiras”.
O candidato presidencial deixou claro que não vê a revisão constitucional como uma prioridade, contrapondo-lhe, enquanto “projeto nacional mobilizador”, um pacto para a prosperidade, que envolva todos os partidos políticos, parceiros sociais e universidades.
No que toca à vigilância democrática, Seguro disse que Portugal “ganha quando não coloca todos os ovos no mesmo cesto”, apontando para a candidatura de Marques Mendes, apoiada pelo PSD do primeiro-ministro Luís Montenegro. E garantiu que, caso venha a ser eleito, “não existirão perguntas que fiquem por fazer”. Mais dirigida a Gouveia e Melo foi a parte do discurso na qual salientou que o “comandante supremo das Forças Armadas não pode ser visto nem pensado enquanto possuidor de um poder de comando direto”.
Justiça social
Entre as suas preocupações fundamentais, Seguro enumerou o compromisso com a justiça social e os Direitos Humanos, a defesa da democracia e do Estado de Direito, a abertura ao diálogo e à concertarão política, a valorização da cultura, da ciência e da duração como instrumentos do progresso, o compromisso com a solidariedade internacional e os direitos dos povos, pugnando pela paz na Europa e em Gaza, a aposta em políticas que valorizem a remuneração do trabalho e a clara afinação de uma classe média, e a defesa da participação de Portugal no centro da integração política europeia.
Falando do seu percurso, o candidato recordou que em 2007 liderou a reforma que se concretizou na realização de debates quinzenais com o primeiro-ministro e que em 2009 “sozinho me levantei para votar contra o Lei do Financiamento dos Partidos Políticos”. E não esqueceu a travessia voluntária do deserto que encetou depois de perder a liderança do PS para António Costa. “Afastei-me quando podia dividir. Volto agora para unir”.
Apoiantes
A apresentação arrancou com a atuação de vários atores, um dos quais interpretou o artista Rafael Bordalo Pinheiro, ligado à cidade na vertente de ceramista. “Tal como António José Seguro, também eu, Rafael Bordalo Pinheiro, escolhi as Caldas da Rainha para viver”, disse o ator, pouco antes de a filha do candidato, Maria Seguro, se juntar à performance, com um apelo ao antigo secretário-geral do PS: “Enquanto não alcances, não descanses. De nenhum fruto queiras só metade”.
Entre os apoiantes da candidatura presentes no Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha estão o eurodeputado Francisco Assis, os deputados socialistas Hugo Costa (presidente da Federação de Santarém), Pedro Coimbra (presidente da Federação de Coimbra) e Pedro do Carmo.
E também o antigo eurodeputado Carlos Zorrinho, candidato do PS à Câmara de Évora, os antigos ministros socialistas Adalberto Campos Fernandes e Alberto Martins; o presidente da SEDES, Álvaro Beleza; o antigo secretário-geral da União Geral dos Trabalhadores, João Proença; e o antigo presidente da Câmara de Lisboa, João Soares, filho do fundador e primeiro líder do PS.
Entre os apoiantes da candidatura presidencial de António José Seguro passou a constar o advogado António Rebelo de Sousa, irmão do atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. E o médico João Varandas Fernandes, antigo vice-presidente do CDS.