Por Maria José Limpo
A pobreza, no distrito de Almada, tem vindo a aumentar nos últimos anos, tendo-se agravado com a pandemia e a entrada de imigrantes e refugiados. É cada vez maior, o número de pessoas, que percorrem as ruas pedindo esmola e ajuda, sobretudo, junto de supermercados e cafés. A maioria, são homens e mulheres, alguns ainda jovens, outros com idades na casa dos quarenta. Agarrados à toxicodependência e ao alcoolismo, sem tecto, trabalho ou família que ajude. Ficaram sem chão, e a rua passou a ser o único caminho que lhes resta. É o caso de Miguel S., que não quis dizer a idade e apresenta um discurso incoerente. Consome drogas “há muito tempo”, tanto que já lhe perdeu a conta.
É um dos sem-abrigo mais antigos da cidade, e todos o conhecem pelo aspecto andrajoso, a roupa suja, que veste há meses e o cheiro nauseabundo, que afasta quem se aproxima. Deambula de manhã à noite pelas ruas, pedindo moedas para o consumo, que vai trocando no supermercado mais próximo… entra nos estabelecimentos comerciais quando o desespero aperta, perante a indiferença dos que lá estão. É um homem destruído, física e psicologicamente, a quem ninguém deita a mão e a quem os apoios sociais falham há muito. Pernoita onde calha, nas arcadas de um prédio de luxo ou na paragem do metro. “Estou na rua há muitos anos. Ninguém quer saber de mim…” – diz Miguel S. Não se lembra quando foi a última vez que tomou um banho quente ou mudou de roupa.
Para além dele, vão chegando às ruas, cada vez mais companheiros de infortúnio, que tudo perderam e, aqui chegam para ganhar algum e sobreviver. À porta de um dos supermercados mais populares da cidade, localizado na avenida principal, encontramos Daniel, sentado no chão, com um cartão ao pescoço, onde estão rabiscadas algumas palavras em português. Tenta surpreender quem passa, mostrando um aleijão numa perna. Tem pouco mais de vinte anos. “Vim da Bulgária, ando por aqui e por Lisboa. Peço moedas, umas pessoas dão, outras insultam-me, mandam-me para minha terra…” afirma. É um dos vários imigrantes de Leste, que se deslocam periodicamente para o outro lado do rio, na mira da ajuda, sobretudo, de estrangeiros.
Na área metropolitana de Lisboa, concentram-se, actualmente, cerca de 5.000 pessoas em situação de sem-abrigo, num total das mais de 9.000 registadas a nível nacional. O concelho de Almada totaliza, atualmente, segundo os últimos dados oficiais, cerca de 100 pessoas que vivem em situação precária e de pobreza extrema. Ao Centro Porta Amiga, que pertence à AMI, localizado no bairro do Pica-Pau Amarelo, no Monte de Caparica, acorrem, todos os dias, dezenas de pessoas, em busca de uma refeição quente, uma muda de roupa, uma palavra de conforto. Há sobretudo pessoas com idades acima dos 40, e muitos idosos com pensões baixas. O Centro de Acolhimento Temporário – CAT – uma
iniciativa da Câmara Municipal de Almada, presta também algum apoio, e foi criado, para responder às necessidades da pandemia Covid 19, em parceria com equipas de rua e entidades com gestores de caso. Tem capacidade para receber até 25 pessoas. De futuro, a Câmara de Almada tem em vista, a recuperação do Edifício Municipal Escola António José
Gomes, inaugurado em 1911, desativado há muitos anos. O projeto tem em vista ajudar os sem abrigo, e vai envolver entidades como a AMI, Associação Vale De Acór, Centro Paroquial de Nossa Senhora da Conceição da Costa de Caparica, entre outros. O investimento é de 414.595€, com 50% do fundo social europeu.
Vai dispor de um espaço diurno, com atividades ocupacionais, e um espaço noturno, incluindo a possibilidade de receber casais, uma iniciativa pioneira no concelho, bem como cacifos pessoais, lavandaria, banco de roupa, refeitório, gatil e canil. Terá a capacidade máxima para 25 utentes por dia. Não há ainda uma data definida para o arranque das obras