Parecemos uns palermas, atrasados, a discutir se se deve instruir os putos portugueses na sexualidade, no enamoramento, no amor. Nos anos 70 do passado século já os japoneses tinham por obrigatória, nas suas escolas, esta instrução, com bonecos e desenhos animados lindíssimos, claros e carregados de ternura. Hoje, pacóvios de trás das pedras, imbecis não assumidos, querem que tudo continue na maior desinformação possível e opõem-se a que as escolas ajudem na construção de uma personalidade livre e inquisitiva dos seus filhos e dos filhos dos outros. À educação sexual, opõem-se.
Ora, para quem não sabe ou não se lembra, a minha geração começou a masturbar-se, no caso dos rapazes, com os desenhos de uma senhora nua, que vinha na Enciclopédia Verbo da Saúde (a obra pode variar, mas era o nosso primeiro contacto com o corpo feminino e masculino adulto e nu). Depois, lá vinham as revistas cor-de-rosa, até termos coragem de ir ao quiosque “da velha” ou “do velho”, comprar em segunda mão as revistas porno “Gina”, “Tânia” ou “Weekend Sex” – que para as Playboy não havia dinheiro.
Na esmagadora maioria das famílias não se falava de relações amorosas e sexuais. No máximo, aí aos 15, 16 anos, passavam-nos livros do Alberoni e nós que lêssemos o que o italiano dizia. E era uma grade confusão: o Alberoni tratava tudo com carinho e doçura, mas a Gina desse mês tinha uma mulher polícia a ser sodomizada com o seu próprio bastão. Ora gaita, em que ficamos? Aos 14, 15 anos isto era uma corrupção dentro das nossas morais de moleirinha ainda flácida. Tudo a esconder as revistas porno, tudo a colocar nas estantes aqueles livros da Igreja Verbo que prometiam ensinar a dar quecas, mas acabava tudo com o anjo Gabriel a pinar ao longe com Maria.
Hoje, a confusão é ainda pior. As famílias continuam sem falar e os livros desapareceram. Não há um Júlio Machado Vaz que se veja e o povo mai novo sabe de cor o endereço dos sites pornhub, pornhut, pornfiesta, pornovelha, etc. Pensam os parentes enlutados e assustados que assim será melhor para os gaiatos e gaiatas? Pensam que se ninguém disser nada os jovens de hoje, por milagre, vão descobrir a canção da Rita Lee e perceber exactamente que sexo e afecto estão no mesmo lugar? Pois se pensam, pensam mal.
Leiam lá isto: “O Estudo Nacional sobre Violência no Namoro 2023 demonstra que 67,5% [dos jovens inquiridos] não perceciona como violência no namoro, pelo menos, UM dos seguintes comportamentos: controlo, violência psicológica, violência sexual, perseguição, violência através das redes sociais e violência física”.*
Compreendido? Entre os 13 e os 22 anos quase 70 por cento das raparigas e rapazes acha que forçar uma penetração ou levar um estalo é “normal”. Sim, em Portugal. Sim, mesmo que haja uma disciplina que tem um programa baseado na ciência para instruir os miúdos. Ora, de onde vem a grande vaga “contra” ensinar decentemente as crianças? Dos papás e mamãs que não falam com os filhos, que têm pânico de um dos catraios saia “homemssexual… coiso” ou, ainda, que se apega ao disso do papá, que insiste que vem uma cegonha de TGV deixar órfãos nas janelas da mamã.
Perante o absoluto descalabro afectivo português, que é dos mais alarmantes do país, é preciso rever rapidamente o programa da disciplina e introduzir a questão da violência, é preciso acelerar na demonstração plácida e linda do afecto e da paixão, é necessário desculpabilizar em absoluto a relação sexual, para que seja livre e sempre consentida. É preciso valorizar professores e professoras que se entregam a esta disciplina.
E é preciso dizer a esses paizinhos e mamãs que olham para o lado, cheios de nojo, que se tiveram filhos lá os terão feito… Mas muito mal, porque com a ideia que têm, tão horrorosa, do sexo, o papá deve ter deitado num frasquinho e depois a mamã massajou, a ver se entrava sem pecado.
Ide-vos curar de preconceitos de pilinhas e pipis. Atirai-vos à terra, tapai bem e reguem, que dali a uns meses, convosco como semente, vão nascer nabos, não pessoas.
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*https://www.cig.gov.pt/2024/02/comportamentos-de-violencia-no-namoro-continuam-a-ser-legitimados-por-uma-grande-percentagem-de-jovens/