Sónia Paixão. Lembre-se deste nome, que daqui nada já o dissecamos.
Esta quinta-feira a Câmara Municipal de Loures preparava-se para demolir a bulldozer umas pobres casas e barracas onde sobrevivem 99 pessoas. São medonhas construções onde uma centena de imigrantes, daqueles que trabalham sem condições, sem contratos, sem descontos possíveis, que esperam há mais de dois anos pelos “papéis”, têm como casa. A comunidade, maioritariamente vinda dos PALOP, está entalada entre a burocracia, o racismo e a exploração humana, feita por patrões sem escrúpulos.
Os homens são, praticamente, jornaleiros – profissão de outrora, onde as pessoas iam para uma esquina e lá passavam carretas a bradar: “preciso de cinco homens, tu e tu e tu…”, e para esses cinco o dia estava remediado. Os que às oito da manhã ainda estavam na esquina, já tinham perdido o dia. Mas ninguém passaria. A jornada ia ser de amargo fél e falta de trabalho.
Já as senhoras da comunidade ameaçada por Loures levantam-se às três e meia, quatro da manhã para irem limpar escolas, escritórios, agências bancárias, gabinetes dos senhores directores e dos presidentes. Ganham meio tempo do meio salário das empresas de recursos humanos… E com tal cenário, pensa-se na Câmara Homicida de Loures, que o melhor é partir paredes, tectos, janelas e soalho – esta gente nem isso merece.
Vamos à Sónia. A Sónia Paixão. Vice-Presidente da autarquia embriagada. Diz ela: «[As pessoas] Não fazem nada ao ficar no local paradas. Pretendemos que as pessoas tenham proatividade em encontrar as suas soluções», vomita à SIC Notícias. Eu nem sei se comente. Primeiro vieram cá a casa e fiquei sem casa. Depois, fui dormir debaixo de uma ponte, mesmo assim guardado pela polícia. Por fim a socialista Paixão manda-me ser “proactivo”.
Passam-me pela cabeça várias proactividades a ter com a senhora. Mas é melhor olhar para o currículo da menina. A saber, segundo o Diário da República:
· «De setembro de 2018 a julho de 2019 – Vice-Presidente do Conselho Diretivo do Instituto Português do Desporto e Juventude, I. P., em regime de substituição;
· De julho de 2014 a setembro de 2018 – Diretora do Departamento de Atividade Física e Desporto da Câmara Municipal de Lisboa;
· De outubro de 2013 a setembro de 2018 – Vereadora sem pelouro na Câmara Municipal de Loures;
· De novembro de 2013 a julho de 2014 – Assessora da Vereadora do pelouro da Educação da Câmara Municipal de Lisboa;
· De outubro de 2009 a outubro de 2013 – Vereadora da Coesão Social, Habitação e Recursos Humanos da Câmara Municipal de Loures;
· De outubro de 2009 a outubro de 2013 – Responsável municipal pelo Contrato Local de Segurança de Loures – Câmara Municipal de Loures;
· De outubro de 2009 a outubro de 2013 – Presidente do Conselho Local de Ação Social de Loures;
· De janeiro de 2004 a setembro de 2009 – Assessora do Vereador dos pelouros da Ação Social, Habitação e dos Recursos Humanos da Câmara Municipal de Loures;
· De janeiro de 2002 a janeiro de 2004 – Técnica superior jurista na Câmara Municipal de Loures;
· De junho de 1999 a dezembro de 2001 – Assessora do Vereador do pelouro da Habitação da Câmara Municipal de Loures.»
Entretanto, quando o mestre aVentura era candidato pelo PSD à Câmara de Loures, a Sónia dizia: «André Ventura dava um “bom vereador». Pois, lá na cabeça da senhora, daria.
O patrão de Sónia, Ricardo Leão, ficou conhecido por querer tirar a comida da boca aos putos de Loures. Mais: tirar a casa aos que sejam malfeitores.
Sinceramente não sei que se passa dentro do Partido Socialista. Aliás, sei. Sei que lá dentro não há ponta de socialismo, de humanismo, de solidariedade. É um partido com medo e tiques de autoridade outrora vindos de uma direita serôdia, que agora apenas se tornou ridícula. Se Pedro Nuno Santos não faz arrepiar caminho aos da autarquia de Loures ficaremos a saber que nem Camões tinha razão: afinal a deixa é «fraca gente faz fraca a fraca gente».
E lamento.