Já foi dito e redito, com Trump no poder muita coisa vai mudar, internamente nos EUA mas também a nível internacional, designadamente nas suas relações económicas com a Europa. Como se Trump fosse a personificação do mal e Biden, para não falar em anteriores presidentes, representassem um exemplo a seguir, como faróis da democracia.
Será assim? Vou listar algumas das ações políticas e económicas dos dois presidentes: Trump afirma “Fui salvo por Deus para devolver a grandeza à América”.
Biden, numa declaração ao jornalista George Stephanopoulos após o desaire no debate com Trump, que levou à sua renúncia, quando perguntado se renunciaria caso fosse convencido de que não seria capaz de derrotar o republicano nas eleições,
respondeu “Depende. Se o próprio Senhor Todo Poderoso vier e me disser isso, ‘Joe, saia da corrida’, eu posso fazer isso. Mas ele não vai fazer isso…”
Trump, numa das suas primeiras decisões depois de eleito 47.º Presidente dos EUA, perdoa centenas de amigos e partidários políticos, incluindo quem praticou crimes na invasão do Capitólio em 2021.
Biden, horas antes de sair de Presidente dos EUA, exatamente enquanto Trump tomava posse, perdoa crimes de seu filho e outros familiares, e concede indultos a várias figuras que poderiam ser alvo de acusações judiciais, portanto ainda antes de estarem
acusadas.
Trump tem, como braço direito Elon Musk, o homem mais rico do mundo, megalomeno narcisista, ridículo e infantil, que deseja impor o seu domínio com as suas industrias de automóveis Tesla, rede social X e conquista do espaço Space X. E que terá feito a
saudação nazi (ele diz que foi a saudação romana ao imperador…).
Biden e a sua administração fizeram com que os 100 americanos mais ricos aumentassem as suas fortunas em US$ 1,5 trilhão, com magnatas da tecnologia como Elon Musk, Larry Ellison e Mark Zuckerberg a liderar nos ganhos, de acordo com índice Bloomberg
Billionaires. Os 0,1% mais ricos ganharam mais de US$ 6 trilhões, mostram estimativas do Federal Reserve até setembro 2024.
Trump considera Gaza como um bom local para investir, pois tem sol, é uma região bonita e está junto ao mar… quer fazer das ruínas um Resort para férias! E quer
“limpar o território”, transferindo os palestinianos para a Cijordânia e o Egipto!
Biden oferece à Ucrânia armas poderosíssimas, nas últimas semanas antes de sair da presidência, num ato cobarde que apenas se justifica para complicar o caminho para a paz naquela região do globo. E, apesar de todas as palavras condenatórias, nada fez para
impedir o genocídio israelita em Gaza, antes pelo contrário, sempre apoiou Israel em armamento. Até parece que Biden destruíu e Trump quer tomar Gaza! A
intervenção dos EUA no próximo oriente consiste no desenvolvimento de uma teia de narrativas contraditórias, que visam criar a ideia de que existem diferenças, que nem todos querem o mesmo. Nesta dialetica de “policia bom, polícia mau”, o povo palestino
vai sendo subtraído da sua terra e vida. Das contradições de Biden, que dava armas por um lado e bloqueava o apoio humanitário, por outro, à clarificação de Trump. O genocídio era mesmo para ser perpetrado.
Como irá reagir o povo Palestino a tal clarificação? Trump quer deportar milhões de imigrantes.
Com Biden, as deportações nos EUA atingiram o nível mais alto dos últimos 10 anos, ultrapassando o primeiro mandato de Trump.
Trump, apesar das terríveis catástrofes climáticas nos EUA e no mundo, considera que os perigos climáticos são tretas, saindo do acordo de Paris. Algo semelhante
se passa com a saída da OMS.
E poderíamos continuar a enumerar ações de ambos os presidentes, que muito pouco diferem nas consequências para os EUA e para o mundo. Todavia, talvez Trump tenha uma visão do mundo mais pragmática, reflexo da sua visão de que “governar um país é como gerir uma empresa”. Apesar do seu nacionalismo fanático, tão característico da visão
americana do mundo, Trump compreende que o poder dos EUA já não é o mesmo – pese embora o desdém com que trata os outros países, aliados ou não – e que as guerras não interessam aos seus negócios. Pode vender menos armas a Israel ou à Ucrânia, mas se a
Europa – para se defender de um a suposta invasão russa – aumentar a compra de armas e gás americanos, a que somam as tarifas aduaneiras, o”negócio” continuará “a bombar”. E, se tal fôr necessário, corta-se na saúde, na educação, não se resolve o problema da
habitação. E retoma-se o serviço militar obrigatório, claro.
Mas, ao mesmo tempo e contraditoriamente, Trump julga-se o “reizinho” que vai resolver os problemas do mundo, “dá ordens” à Rússia, China e até aos aliados, como a UE ou o Canadá, diz-lhes o que devem fazer para não sofrerem o tal “fire and fury” americanos. Cabe a estas partes não abdicarem de lutar pelo que acham justo… e nunca esquecer que existe uma alternativa, que é a luta dos povos pelos seus direitos!
Sim, o mundo está diferente, o tal “ocidente alargado”, liderado pelo farol da democracia americana, cada vez tem menos força perante o crescente poderio do chamado “sul global”, onde vive a grande maioria da população mundial.