Percursos pedestres, observação de aves e experiências geoturísticas impulsionam o turismo sustentável na Beira Baixa e Alto Alentejo. Comunidades locais e entidades públicas valorizam património natural único, com destaque para o Geopark Naturtejo e a zona de Alqueva.
A Beira Baixa e o Alto Alentejo assumem-se cada vez mais como destinos de referência para o turismo de natureza e geoturismo em Portugal. A aposta em iniciativas sustentáveis e na valorização dos recursos naturais está a transformar estas regiões num polo de atração para visitantes nacionais e estrangeiros.
Com o selo da UNESCO, o Geopark Naturtejo — que abrange concelhos como Idanha-a-Nova, Proença-a-Nova e Vila Velha de Ródão — integra uma rede internacional de geoparques e promove o contacto directo com formações geológicas únicas, como as Portas de Ródão ou o Monumento Natural das Portas do Almourão. A oferta inclui dezenas de percursos pedestres sinalizados, visitas interpretativas e actividades como canoagem e observação de aves.
Mais a sul, na zona do Grande Lago de Alqueva, o turismo de natureza está em franco
crescimento, com destaque para projectos ligados ao astroturismo, dado o reconhecimento da região como “Destino Turístico Starlight”, devido à baixa poluição luminosa. A Rota Dark Sky, com observatórios em Reguengos de Monsaraz e Mourão, atrai amantes da astronomia de toda a Europa.
As comunidades locais desempenham um papel central na dinamização destas actividades.
«São as pessoas que melhor conhecem o território e que garantem a autenticidade da experiência», explica Margarida Fernandes, técnica da Associação de Desenvolvimento Terras de Raia. Segundo a responsável, há um esforço contínuo para capacitar os habitantes em áreas como a interpretação ambiental, a hotelaria de pequena escala e o acolhimento turístico.
Paralelamente, os municípios têm vindo a investir na requalificação de trilhos, centros de
interpretação e sinalética. Em Castelo Branco, a criação de um centro de apoio ao visitante
junto ao Parque do Barrocal permitiu aumentar o número de visitas organizadas. «Só no primeiro trimestre deste ano recebemos mais de 12 000 visitantes», refere fonte da autarquia.
O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) reconhece o impacto positivo da valorização sustentável do território. Em nota enviada ao nosso jornal, a entidade sublinha que o turismo de natureza representa hoje uma «ferramenta essencial para a preservação dos ecossistemas, desde que haja planeamento e controlo da carga turística».
Apesar dos avanços, persistem desafios. A escassez de transportes públicos e a fraca
conectividade digital em algumas zonas limitam a atracção de visitantes mais jovens. Ainda
assim, segundo dados da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo, o número de dormidas associadas ao turismo de natureza subiu vinte e cinco por cento entre 2021 e 2024.
A valorização do património natural da Beira Baixa e do Alto Alentejo confirma-se como um
motor de desenvolvimento local. A consolidação de projectos sustentáveis, aliados ao
envolvimento das comunidades, pode garantir o equilíbrio entre turismo, conservação e
identidade territorial nos próximos anos.