Gosto de escrever para O Regiões apenas pelo prazer da escrita mas também pela liberdade nos temas, que voam de opiniões políticas para a música, passando por histórias relacionadas com a presença portuguesa no mundo, sempre sublinhando a importância das relações entre os povos. E bom saber que a característica regional deste jornal encarada duma forma abrangente, chegando a todos os lugares do mundo onde existem tradições ligadas a Portugal, mesmo onde ainda se fala português antigo, muito antigo, como em Malaca, na Indonésia ou Sri Lanka.
É altura para falar do sonho de Nalini Elvino de Sousa:
levar Portugal para Goa e trazer Goa para Portugal. Ela própria representa esse abraço, sente-se bem em Goa e adora Portugal. Tem amigos nos dois lugares, sente-se abraçada pelas duas culturas, há anos que transformou essa abrangência em projetos que divulgam e preservam histórias comuns.
Em 2021 criou em Lisboa a PorGoa, extensão Governamental que nascida em 2005 em Goa para desenvolver projetos no domínio da arte e promover o diálogo entre várias culturas.
PorGoa cabem ações de responsabilidade social no domínio da educação, da sensibilização para a sustentabilidade do planeta, da salvaguarda do património ou ainda do diálogo entre diferentes setores da sociedade no sentido da criação de um mundo mais justo e desfragmentado.
Conheci a Nalini quando ultimava o grau de Mestre em Música, no ramo da etnomusicologia, na Universidade de Aveiro. Eram tempos atarefados: preparava a vinda a Portugal de músicos de jazz vindos de Goa, nomeadamente Braz Gonsalves (saxofone), Yvonne Gonsalves (voz) e Jarryd Rodrigues (saxofone) juntamente com três músicos portugueses, João Pizarro (contrabaixista), Rão Kyao (flautista) e a pianista russa Masha Soeiro; tinha acabado de realizar o documentário O CLUBE, onde se testemunham as ligações entre Goa e Tanzânia; ultimava o lançamento do livro do Gonçalo M. Tavares em edição bilingue – português e Concanim.
Os seus olhos brilhavam quando explicava os projetos e o apoio recebido dos restantes membros da PorGoa. Perante algum contratempo, o seu cativante sorriso resplandecia, enquanto confidenciava que “as coisas estão a andar, tudo se há-de resolver”.
De volta a Goa retomou iniciativas como a manutenção duma Biblioteca Itinerante que se move de escola em escola divulgando livros em português; incrementou o ensino de português como língua estrangeira bem como oficinas de desenho como forma de promover os artistas goeses António Xavier Trindade e Angela Trindade; no canal youtube apresenta a rubrica “Travel and Learn Goa”, onde se encontram pequenos documentários sobre a cultura de Goa, bem como videos que ajudam na aprendizagem do português e do Konkani, língua oficial de Goa.
O Mestrado em Música permitiu-lhe apostar num “Vinyl connects”, o seu projeto mais recente. A Communicare Trust irá realizar 8 oficinas em que levam um gira-discos para a escola e tocam discos de vinil com música de Goa, mais especificamente cantaram. O cantaram é um género musical que teve muito sucesso dentro da estrutura do teatro de Goa, mas que se emancipou na era dos discos de goma-laca, passando depois pelos discos de vinil, cassete, CD e hoje em plataformas como o Spotify. O projeto tem como objetivos dar a conhecer a música de Goa aos mais novos, bem como dar a conhecer suportes musicais que para uma geração mais nova são desconhecidas.
Em setembro trará a Portugal o grupo EntreNós, formado por músicos de Goa, mas disso falaremos mais tarde.
Fotografia de Nalini cedida por John Lino