Com a linha do norte nunca se cerziu umas calças. Nem com a linha da beira, embora esta já servisse. O linho do Sever dava para as arcas e o ramal de Cáceres dava gente madura de volta à terra. Nas municipais uns viravam à esquerda, outros para a sinistra, mal enganados. Um dia, viste tu, Marta, um homem deu de beber a outro e o outro endividou-se à custa de favores. Nunca dizia não, como tu Marta, que tinhas um coração leite-creme que tantas e tantas e tantas vezes acabava queimado, para deleite de outros.
Descobriram mísseis em Monsanto na última quinta-feira. Eram de bonecas e de cantavam, atingiam milhões de quilómetros, por vezes nas bandas gravadas por aquele senhor antigo ou pelo rapaz novo, que nos punham a nós, velhas a rir sem dentes e a cantar as saias ou uma modinha da Ta Rosária, e há dragões que agora se penduram corcundas nas avenidas, tu dentro da caixa eléctrica, e o dragão de três olhos abre o verde e andas, abre o vermelho e parar. Mas pisca-te o amarelo e um dia ainda combinam um jantar num lugar fino de onde se vê Lesboa e a ponte. Igualzinha àquela de Ervidel, mas maior – a do Ervidel era para ver se se podia fazer a grande e fizeram-na em pequenino sobre o ribeiro, Marta. E lá ficou, e o Urbano ia vê-la e foi ele que te disse num almoço, «a ponte ainda se vê, o ribeiro secou», antes de irem ver os bonecos de Santo Aleixo a dizer asneiras. Olhas para a carteira e tens o passe, mas a linha da beira e o ramal, os ramais, os troncos, as folhas, as flores não sabem onde estão e nada nem ninguéns lhes passa, as usa, as tira, as colhe, as recolhe nos sacos de vime, de verga, de vergar andas tu farta, Marta,
Dizes coisas tão bonitas. Eu tenho esta vergonha dos penhascos, de mim e de mim saltam para se matarem e soa-me a que não tenho outro uso; ainda me mandam miradas tremidas os saudosistas da cabotagem, quando esta ia e vinha e tu, Marta, lá de cima de candeeiro azeitado, um grão à beira do farol, a dizer adeus sem saber se era o adeus último, se o último era o próximo.
Ontem um homem careca ameaçou o mundo, Marta. Vê tu a esturrice. Foi em estrangeiro, mas não no estrangeiro que é nosso, aquele que se fala, mas não se sabe i nun se beilça, Marta. I por ser assi, mira, para que nun passe la bergonha de t’ires, cumo yá te fui dura la bida, peço-t’an casamiento, cumo fazie l’ido manganon.