Quem faz o favor de acompanhar aquilo que fui escrevendo ao longo dos anos, sabe que por diversas vezes me fui referindo à inversão da escala de prioridades e a uma perda sucessiva de valores.
Não o faço com nostalgia ou saudosismo, faço-o como uma constatação de mudança de paradigma.
Também não o faço do alto de um pedestal de qualquer superioridade moral e, para ser sincero, por vezes faço-o mesmo como forma de expiação ou de auto de contrição.
Mas apesar de consciente das minhas limitações e das minhas imperfeições, ou talvez, precisamente por causa dessa consciência, há limites que não me permito ultrapassar.
Desde logo, o contágio, que em momento algum utilizo como álibi. E mesmo que me veja rodeado de filhos de senhoras que se portam mal, faço um esforço e penso que tenho conseguido não ceder à tentação de me transformar num deles. E digo “penso” porque faço uma avaliação, que suspeito ser suspeita, por ser feita na primeira pessoa do singular.
Neste momento talvez se perguntem, a que propósito é que isto tudo vem? A propósito de tudo e de nada, mas sobretudo a propósito do caos e de uma cultura cada vez mais enraizada de “salve-se quem puder”… sem olhar a meios desde que os fins sirvam os objetivos.
Talvez também a propósito de um desencantamento provocado pela consciencialização de que as certezas do presente não são o garante de uma segurança no futuro.
E acima de tudo, talvez também a propósito de uma cada vez maior certeza, que de boas intenções estará o inferno cheio.
Apesar de tudo, como referi anteriormente, recuso-me a ir na onda e, contrariando os factos, ainda acredito nas pessoas. Não em todas como é óbvio, mas na sua maioria, e com a consciência que a recuperação dos valores perdidos, só será possível precisamente com o envolvimento das pessoas.
Envolvimento, partilha e contágio provocado pela constituição de uma “task force” que reúna todos aqueles que também se recusem a ir na onda e que não se revejam nos ventos que sopram a espuma dos nossos dias.
Ou se preferirem em linguagem popular, que os “bons” se juntem para erradicar o mal que se tem espalhado como um vírus.
Erradicar talvez seja abusivo, mas há possibilidade de inverter a realidade atual. Com pessoas, certamente. Com melhores pessoas, definitivamente.