Num país onde se cortam mais fitas do que se cortam despesas inúteis, a política portuguesa volta a brindar-nos com o habitual teatro de inaugurações, desta vez com os protagonistas do costume e o enredo repetido: negócios, poder e vergonha nenhuma.
Luís Montenegro, primeiro-ministro ainda com o verniz fresco da posse, mas demissionário e novamente candidato, decidiu aparecer em público na inauguração de um hotel do grupo Beetsteel. Até aqui, nada de novo. A questão está no detalhe: o grupo é cliente da Spinumviva, empresa da família do próprio Montenegro, conforme consta agora da sua recente (e pontualíssima) declaração de interesses. Isto, claro, enviado à Entidade para a Transparência no último dia do prazo — como quem paga o IRS às 23h59 para não perder a face.
O gesto, embora tecnicamente legal, é politicamente obsceno. O chefe de Governo devia manter a distância de segurança entre o cargo e os interesses do clã. Mas em Portugal, essa distância é cada vez mais curta. O problema não é a legalidade — é a falta de decoro. A naturalidade com que se cruzam os fios do público com os cabos do privado revela uma elite política para quem o Estado é palco, não compromisso.
Do lado do PS, o retrato não é mais nobre. Em Alcains, o presidente da Câmara Municipal de Castelo Branco, Leopoldo Rodrigues, fez as honras da casa na inauguração de uma nova loja Continente. Não satisfeito, promoveu o evento com destaque na página oficial da autarquia. Entre publicidade encapotada e falta de critério institucional, ficou claro quem manda: não é o interesse público, é a lógica da vitrine.
O que se vê aqui não é só um problema de forma. É uma erosão lenta mas eficaz da confiança pública. O poder político, seja em Lisboa ou em Alcains, parece incapaz de resistir à tentação da visibilidade fácil, do favor implícito, da utilidade própria. O que deveria ser distância é proximidade íntima. O que deveria ser autoridade moral é vaidade institucional.
No fundo, entre AD-PSD, CDS e PS, a escolha é difícil — e não pelas boas razões. Os protagonistas mudam, mas a prática mantém-se: a política convertida em rede de interesses com direito a reportagem fotográfica. Transparência não é integridade. E declarar um conflito de interesses não equivale a evitá-lo.
Entre o nacional e o local, a promiscuidade é transversal. E o eleitor, mais uma vez, é tratado como figurante num cenário onde todos os caminhos levam à conveniência.
Venha, pois, o diabo e escolha. Porque nós, cidadãos, já estamos fartos de engolir fitinhas.
Pelo menos o Presidente da CMCBranco não anda a receber avenças de empresas como o Montenegro. E já agora o FJPires parece ter esquecido que quando o Correia (o tal que inventou o partido Sempre (onde andam 3 estarolas do IPCB, o actual presidente, o Armandinho Ramalho e a senhora ex-vereadora que agora perdeu as eleições) mandava na CMCBranco não perdia uma inauguração, fosse do que fosse, estava em todas.
Não tem mais notícias para dar? Isso do continente já foi há mais de um mês. Têm que inventar coisas novas.