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Violência à porta de discotecas proíbe seguranças/porteiros de exercer profissão

Sem querer recordar “tempos negros” da vida nocturna dos grandes centros urbanos portugueses, voltaram a surgir as notícias de seguranças/gorilas a agredir clientes. Em Lisboa, em apenas dois dias distintos, um total de seis seguranças de um espaço de diversão noturna agrediram com brutalidade clientes que, de acordo a versão policial, foram vítimas de violência gratuita. Um ficou com uma perna partida e outro com um braço fraturado. Ambos tiveram internamento hospitalar

A agressão a clientes por segurança de discotecas já fazem, infelizmente, parte da vida nocturna do país, com especial incidência  em Lisboa e Porto. Este fim-de-semana, seis seguranças da discoteca Lisboa Rio, à beira-Tejo, junto à estação fluvial do Cais do Sodré, foram detidos por terem agredido gravemente dois grupos de clientes. Foram libertados por um Juiz de Instrução Criminal, mas a maioria ficou proibida de exercer a profissão. Advogado da discoteca diz que tudo aconteceu em “prol da segurança dos clientes”.

Em causa estão dois episódios, o primeiro dos quais teve lugar a 20 de Abril, quando cinco cidadãos de nacionalidade inglesa foram impedidos pelos seguranças de entrar no espaço de diversão nocturna. A violência do ataque fez com que uma das vítimas tenha fraturado a tíbia e o perónio, “tendo sido internado e submetido a cirurgia ortopédica e maxilo-facial”. Este homem encontra-se internado até hoje.

Em comunicado a polícia descreve como tudo se passou: “Após um breve diálogo entre os turistas e os vigilantes, sem que nada o fizesse prever, um dos vigilantes desfere um soco na face de um dos turistas, tendo, de seguida, surgido mais cinco ou seis indivíduos, possivelmente seguranças daquele estabelecimento, que atacaram o grupo com vários socos e pontapés.”

O segundo episódio teve lugar uma semana depois, quando foi exigido a dois amigos que desembolsassem 30 euros de consumo mínimo depois de terem estado dez minutos na discoteca em questão. Perante a sua recusa em pagar, uma vez que apenas tinham bebido uma cerveja, “três seguranças que ali se encontravam cercaram as vítimas e começaram a desferir socos numa delas”. Depois de lhe terem feito “uma gravata ao pescoço”, foi atirada ao chão, manietada e conduzida para junto da zona de pagamentos, onde se viu coagida a pagar os 30 euros com o recurso ao seu cartão de multibanco. “Quando o amigo da vítima regressa da zona das casas de banho é abordado por um segurança e, de surpresa, leva um soco na face”, que o fez cair ao chão, sendo a seguir levado também para junto da zona de pagamento.

Com idades compreendidas entre os 25 e os 48 anos, os agressores foram detidos fora de flagrante delito esta semana, depois de a PSP ter conseguido descobrir a sua identidade, por suspeitas de crimes de ofensas à integridade física qualificada. Os seis suspeitos, que foram presentes a tribunal e saíram em liberdade, são obrigados a apresentações periódicas às autoridades e estão proibidos do exercício de funções.

O pequeno poder dos seguranças

Infelizmente, as notícias de agressões em discotecas nas grandes cidades já são frequentes. O espaço nocturno Urban foi o primeiro estabelecimento encerrado pelo Ministério da Administração Interna, em 2017, por violência em seis anos.

O encerramento da discoteca K Urban Beach por exercício de violência terá sido o primeiro decretado pelo Ministério da Administração Interna (MAI) desde que em finais de 2011 o Governo PSD-CDS acabou com os governos civis, aos quais cabia zelar pela ordem pública nos estabelecimentos de diversão e decidir os que deviam fechar, caso não cumprissem a lei. Essa responsabilidade passou então para o MAI, que na madrugada de 4 de novembro de 2017 terá aplicado esta lei pela primeira vez ao abrigo de um decreto de lei datado de 1995.

Em setembro de 2013, um segurança da discoteca Art, também em Lisboa, tinha esfaqueado um cliente durante uma rixa, no meio da qual outra pessoa foi baleada no pé. O caso viria a ser apensado a um processo que envolveu 13 seguranças de bares do Cais do Sodré acusados de agredirem dezenas de clientes, entre 2009 e 2011, com recurso a socos e pontapés na cabeça das vítimas, cuja letalidade era potenciada por soqueiras, facas e correntes. Em 2015, também na zona dos bares do cais do Sodré, um jovem foi brutalmente agredido por dois seguranças. 

No Porto, em novembro de 2015, sete vigilantes da empresa SPDE foram a Tribunal acusados por agressões a 46 clientes da discoteca La Movida, na Zona Industrial do Porto. No total, estiveram em causa 28 casos de violência entre Dezembro de 2010 e Abril de 2013. Algumas vítimas ficaram com ossos partidos e inconscientes e algumas tiveram de ser submetidas a cirurgia no hospital.

Todos os arguidos ficam proibidos de exercer a actividade de seguranças, excepto um deles por não se ter envolvido em episódios de violência depois da detenção e os dois irmãos Correia.

Em Coimbra, três seguranças agrediram brutalmente, em 2022, um jovem, que alegadamente tinha provocado distúrbios no interior da discoteca e que tinha na sua posse uma faca.

Em dezembro de 2024, seguranças, clientes e militares da GNR envolvidos em episódio de violência em discoteca de Évora.

Gorilas

Há mais de 37 mil profissionais de segurança privada. Desses, cerca de sete mil trabalham como seguranças-porteiros. A atividade pressupõe licença e formação, mas, um facto, é que a formação dos seguranças não é suficiente. É muito deficiente e instantânea, e não se pode considerar que seja eficaz. Aliás, a maioria são “gorilas”, que se aproveitam a sua função “para mostrarem o trabalho que andaram a fazer no ginásio”.

Conforme, nos referem alguns profissionais da indústria nocturna, “um bom segurança sabe resolver as situações sem recorrer à violência física”. O objectivo é resolver a bem os problemas,  lembrando que existem mil técnicas para resolver conflitos.

Do ponto de vista de um antigo polícia e ex-formador de seguranças, “a formação não muda a educação das pessoas. Ou seja, a formação não lhes dá a capacidade suficiente de engolir alguns sapos quando têm de interagir com um público mais complicado”, defendendo que a formação também “não altera hábitos que eles têm de ginásio, em que não comem, só bebem e aquilo dá-lhes cabo do juízo”, diz.

A mesma fonte revela que “há discrepâncias brutais entre testes de diferentes empresas e o nível de exigência é muito diferente”, defendendo que “os testes devem ser feitos na PSP, que neste momento está a trabalhar para os ter”.

Na perspectiva das nossas fontes “deveria haver mais tempo gasto a treinar ‘paleio’ que a treinar bater em alguém. Isto é malta que não sabe nada. São grandes mas não são bons no trabalho deles. O treino destes gajos têm de ser responsabilidade da PSP ou de uma entidade direcionada para a gestão de conflitos”, afirmam.

No fundo, como referem, o problema reside no facto de muitos seguranças terem a Síndrome do Pequeno Poder.

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Alfredo Miranda
Alfredo Miranda
Jornalista desde 1978, privilegiando ao longo da sua vida o jornalismo de investigação. Tendo Colaborado em diferentes órgãos de Comunicação Social portugueses e também no jornal cabo-verdiano Voz Di Povo.

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