Exterior – Dia – Entrada da Igreja dos Mártires
D. Adelina soluça com saudades de África e das plantações que o papá perdeu no 25 do A. Um ambliope que ali passa, com phones nos ouvidos e a cana a farejar o caminho, dá-lhe um encontrão valente. D. Adelina, lenço com o anagrama do papá, insulta-o, enquanto se desequilibra em movimento lento. Toni, o sacristão e cantor do Inda’há Noite, que tinha estado a mudar as lâmpadas que fazem de velas nas caixas das alminhas, acorre à queda. Apanha D. Adelina antes que chegue ao chão. Mas, sem querer, tropeça no próprio paramento, dá pirueta e cai em decúbito dorsal, com D. Adelina a encaixar-se-lhe no corpo, como se fosse corpo cansado em colchão de penas.
Interior – Dia – Junto ao altar do Senhor dos Passos
D. Adelina, preocupada, limpa com o lenço a escoriação de Toni, ali mesmo na mão esquerda. Toni pensa na falta que a articulação fará ao Dó. Ela faz-lhe festinha – aliás, o devoto podia ser seu filho. Toni estremece, o Senhor dos Passos olha desconfiado. Adelina ganha força e sopra-lhe: “Deixe lá, são todos iguais esses criados”, ao que Toni responde “deus todos ama”. Ouvindo, D. Adelina retorque. “E o Toni, também?”, desenrolando a echarpe, mostrando um pescoço limpo a vapor e adivinhando o decote da blusa comprada na Paris em Lisboa. Toni atrapalhado, que apenas ajudara o pároco com os putos, não sabe tratar de mais velhos. O Senhor dos Passos pousa a cruz, solta um “arre, as costas”, chama o Toni e diz-lhe: “Segura aqui nisto”. Desce do altar e, mão na mão com D. Adelina, segue para a sacristia.
Interior – Noite Americana – Sacristia da Igreja dos Mártires
O Senhor veste-se, D. Adelina ainda está atrasada nisso – as coullote postas a meia perna mas a cinta desarrumada em cima do relicário para restauro. “Porque não travou a descolonização, Senhor?”, atira. Mas já lá vai o homem de veste roxa, que apenas lhe diz “Depois na confissão, tenha tento”. D. Adelina, em desamor, volta a pegar no lenço com o anagrama “F.D.S.”, seu pai Fernnando Dutterte Salles, e vê as sombras do soluçar na parede leste da pequena salinha de Toni.
Exterior – Calçada – Noite
Toni vai para casa mas leva a cruz, não a vá pedir o Cónego Gouveia amanhã, mas às onze da noite canta Zeca Afonso e ainda tem de passar por casa para comer uma bucha. Ouve as portadas da casa do Senhor bater e um grito que apenas berra: “Estúpido!”.
Cai o pano, na melhor nódoa.