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D. Rui Valério sucede a Manuel Clemente como Patriarca de Lisboa e toma posse a 2 de Setembro

Rui Valério, atual bispo das Forças Armadas e de Segurança, sucede a Manuel Clemente como patriarca de Lisboa, revelou esta quinta-feira o Vaticano. A tomada de posse acontece a 2 de setembro, pelas 11h00, na Sé Patriarcal, sendo que a entrada solene tem lugar no dia seguinte, domingo, às 16h00, no Mosteiro dos Jerónimos. O 18º Patriarca sucede a D. Manuel Clemente, cuja imagem se denegriu com a alegada ocultação de uma denúncia de abusos sexuais de menores relativa a um sacerdote do Patriarcado.

Rui Valério
DR

Rui Manuel Sousa Valério é o 18º Patriarca de Lisboa. Tem 58 anos e é natural da Urqueira, concelho de Ourém. A fé, contou à Rádio Renascença, em 2019, entrou-lhe pelo coração adentro desde pequeno. Aos sete anos esteve internado em Coimbra, por causa de uma queimadura grave. Sujeito a várias intervenções cirúrgicas que correram sempre mal, pelo que “entretinha-me muito a pensar na Senhora de Fátima e rezava o terço”.

De 1992 a 1993 foi capelão militar no Hospital da Marinha e, entre 2008 e 2011, capelão na Escola Naval.

Pertencente aos missionários monfortinos, foi o primeiro padre português desta congregação a ser ordenado bispo. D. Rui Valério foi ordenado bispo em 2018, tendo sido até agora bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança em Portugal, sucedendo, neste cargo, ao bispo Manuel Linda, numa missão que na altura disse ter recebido de forma “incrédula” e com “surpresa”.

Em mensagem à Igreja de Lisboa, o novo patriarca destaca “a intenção de escutar”, sem “deixar ninguém para trás”, e apela à participação dos jovens na vida da diocese porque “sem eles a Igreja simplesmente morre”. O lema episcopal agora escolhido para o Patriarcado de Lisboa é In Manibus Tuis – “nas tuas mãos”.

Na primeira mensagem como patriarca, Rui Valério afirma que três sentimentos lhe tomam “conta do coração” e não esquece as vítimas de abusos sexuais na Igreja Católica.

“O primeiro sentimento está contido nas palavras temor e tremor (…) O segundo sentimento decorre da minha intenção de escutar (…) O terceiro sentimento é de alegria no serviço”, especifica. O novo patriarca deixa ainda uma nota de agradecimento à hierarquia da Igreja e a Lisboa, “capital da juventude e cidade de esperança”.

Às vítimas de abusos sexuais, Rui Valério afirma: “Partilho da vossa dor”. Manuel Clemente, que será administrador apostólico do Patriarcado de Lisboa até à tomada de posse canónica do novo patriarca, sublinhou o facto de Rui Valério ser “um pastor cordial e próximo”.

Com um percurso com vários anos de serviço junto das forças militares, o novo patriarca, sobre o conflito instalado entre Rússia e Ucrânia, expressou publicamente que tal foi “uma pesada derrota para a Humanidade” mostrando “o lado mais tenebroso da realidade, como a morte, o sofrimento de inocentes e a miséria”. Lembrou que “a par de uma intensa preparação militar e estratégica, que já acontece, é também necessária uma preparação de cariz humano e espiritual, ao nível da interioridade de cada um”.

Numa análise dos novos tempos, este defensor da vida lamentou o desprezo pela Ética, pelos valores que lhe estão subjacentes (a verdade, a justiça, o caráter, a honestidade) e que considera que todos os dias estão a ser violentados, dizendo que “viver de costas voltadas para valores éticos significa viver de forma medíocre”, afirmava na homilia da Missa no Dia do Instituto Pupilos do Exército, em maio passado, no Mosteiro dos Jerónimos.

Conferência Episcopal saúda nomeação

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) veio congratular-se com a nomeação do novo patriarca de Lisboa, “diocese que acaba de viver um dos momentos mais altos da sua história” com a Jornada Mundial da Juventude, assinala.

“Que D. Rui Valério seja abençoado pela força do Espírito no serviço pastoral a que é chamado como pastor no Patriarcado de Lisboa e que os dinamismos pastorais e espirituais celebrados na JMJ continuem presentes na renovação da Igreja em Lisboa, para que seja cada vez mais sinodal, missionária, evangelizadora e acolhedora de todos”, escreve a CEP numa nota divulgada poucos minutos depois de ser anunciada a nomeação.

Na mesma nota, a CEP “manifesta todo o seu agradecimento a D. Manuel Clemente pelo contributo notável que teve ao longo destes anos ao serviço do Patriarcado de Lisboa e da Igreja em Portugal”.

Marcelo e Costa juntam-se às congratulações

Em nota publicada no portal da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa “agradece” a Rui Valério “a dedicação constante e qualificada com que exerceu” as funções de bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança e vigário castrense “nos últimos cinco anos”.

O chefe de Estado “formula os melhores votos para a nova missão, para que acaba de ser designado, substituindo o Senhor D. Manuel Clemente, cujo mandato de uma década termina com a Jornada Mundial da Juventude, momento de inequívoco significado nacional e projeção universal, encontro pelo qual o Presidente da República já teve a oportunidade de agradecer e saudar vivamente”.

Na rede social X (ex-Twitter), António Costa desejou, por sua vez, as “maiores felicidades ao novo Patriarca de Lisboa”.

“A D. Manuel Clemente, quero também deixar uma saudação especial pelo trabalho desenvolvido, nos últimos anos, com a comunidade e toda a colaboração que culminou com a Jornada Mundial da Juventude”, acrescentou o primeiro-ministro.

DR

A despedida marcada pelos abusos na Igreja de Manuel Clemente

Manuel Clemente, com 75 anos, completou no passado dia 6 de julho uma década à frente do Patriarcado de Lisboa. A substituição do cardeal a breve trecho era então já dada como certa – foi o próprio, de resto, quem, na Missa Crismal de 6 de abril, se mostrou persuadido de que esta seria a derradeira a que presidiria enquanto patriarca. No verão de 2022, em entrevista à Rádio Renascença, Manuel Clemente sustentava que Lisboa necessitaria de “um bispo a condizer com a juventude”.

A revelação dos casos de abuso no Patriarcado erodiram a imagem de Manuel Clemente. De acordo com o jornal 7Margens, a 5 de agosto de 2022, durante um encontro com o papa Francisco, no Vaticano, o cardeal teria confiado ao sumo pontífice da Igreja Católica a possibilidade de ser substituído no cargo naquele mesmo verão.

No final de julho do ano passado, o jornal Observador noticiou que o patriarca de Lisboa teve “conhecimento de uma denúncia de abusos sexuais de menores relativa a um sacerdote do Patriarcado e chegou mesmo a encontrar-se pessoalmente com a vítima, mas optou por não comunicar o caso às autoridades civis e por manter o padre no ativo com funções de capelania”.

Em posterior carta aberta, Manuel Clemente escreveu que, “desde a primeira hora”, deu instruções “para que a Tolerância Zero e a Transparência Total sejam regra conhecida de todos” relativamente ao abuso de menores. Afirmou ainda aceitar que “este caso e outros do conhecimento público e que foram tratados no passado não correspondem aos padrões e recomendações que hoje” se quer “ver implementados”. Em março, Manuel Clemente avaliou como “insultuoso para as vítimas” de abusos sexuais no seio da Igreja Católica falar de indemnizações.

Natural de Torres Vedras, o até agora patriarca de Lisboa é doutorado em Teologia Histórica. Foi distinguido com o Prémio Pessoa em 2009 pela “intervenção cívica” e “por uma postura humanística de defesa do diálogo e da tolerância, de combate à exclusão e da intervenção social da Igreja”.

Chegou a ser aventada a possibilidade de Manuel Clemente ser substituído antes da realização da Jornada Mundial da Juventude de Lisboa. Mas o cardeal patriarca acabou por ser um dos protagonistas do evento que decorreu na passada semana, tendo presidido à missa de abertura, no Parque Eduardo VII.

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