Rui Abrunhosa Gonçalves, ex-diretor-geral dos Serviços Prisionais, declarou esta sexta-feira que as falhas de segurança na recente fuga de cinco reclusos do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus devem ser atribuídas aos guardas presos em serviço. Durante uma entrevista à RTP, quando questionado sobre quem considerava responsável pelo acontecido, que motivou a sua demissão, Rui Abrunhosa foi categórico: “Os guardas”. Segundo o ex-diretor, a principal função dos guardas é garantir a segurança, e no caso em análise, essas falhas foram exploradas pelos detidos, o que resultou na sua fuga.
O Ministério da Justiça já tentou auditorias aos sistemas de segurança das prisões para apurar as responsabilidades em caso de incidente. Rui Abrunhosa Gonçalves sublinha que as investigações ainda estão em curso e que é fundamental determinar se as falhas registadas foram resultado de desleixo, de um ato deliberado ou de alguma circunstância imprevista.
A fuga, ocorrida no sábado, coincidiu com a mudança de turno na prisão, indicada pelo ex-diretor, que explicou que, na central de videovigilância, os guardas monitorizam apenas algumas câmaras, especificamente como que cobrem o perímetro da cadeia. “As câmaras estão lá, as pessoas estão lá”, referiu, indicando que, embora o equipamento estivesse disponível, a vigilância não foi suficiente para impedir a evasão.
Quando confrontado com a possibilidade de conivência ou cumplicidade por parte de algum funcionário prisional, Rui Abrunhosa admitiu que “tudo é possível” neste momento, mas alertou para a necessidade de esperar pelos resultados das investigações. Recordou ainda que, em casos anteriores, como o contrabando de telemóveis e drogas nas cadeias, houve ligações a funcionários prisionais, incluindo guardas.
O ex-diretor-geral afirmou que há mais de um ano tinha solicitado ao Ministério da Justiça o reforço do número de guardas presos, mas reiterou que os 33 guardas presentes no dia da fuga eram suficientes para garantir as operações normais da prisão. Rui Abrunhosa destacou que, em situações como esta, “há sempre cabeças que rolam”, e que, sendo ele o responsável, antecipava a sua demissão, especialmente numa altura em que ninguém se apresentava para defensor dos dirigentes das prisões.
Os cinco reclusos evadidos – dois cidadãos portugueses, um georgiano, um argentino e um britânico – cumpriram penas que variaram entre os sete e os 25 anos por crimes como tráfico de drogas, associação criminosa, roubo e sequestro. As buscas continuam para localizar os fugitivos.