Implantada no topo da Serra do Sapoio, a uma cota superior a 800, numa plataforma totalmente emoldurada por muralhas, a vila de Marvão, no distrito de Portalegre, nasceu e cresceu à sombra do Castelo, que albergava os cavaleiros e seus servos, os soldados, os canteiros, os artífices e todos aqueles que voluntária ou involuntariamente, no decorrer dos tempos, ajudaram a defender ou procuraram abrigo dentro da cerca medieval do ”inimigo espanhol”. Hoje, Marvão é considerada, segundo um estudo da Universidade da Beira Interior, o município alentejano com melhor nível de desenvolvimento económico e social. Situação que se mantém.

Considerada uma das pérolas do Alto Alentejo, o turismo em Marvão tem vindo a crescer desde a pandemia. A vila e o castelo são grandes atrações, mas também os monumentos megalíticos e a cidade romana de Ammaia, onde foi descoberto o quinto coliseu da antiga Lusitânia. A autarquia tenciona transformar as antigas oficinas municipais num espaço hoteleiro.

Mas Marvão não é só turismo. A câmara, segundo Luís Vitorino, presidente da autarquia, tem realizado uma grande aposta no desenvolvimento local, ”temos hoje uma qualidade de vida relativamente boa, mas continuamos a apostar na sua melhoria”.

Contudo, para manter os padrões actuais de desenvolvimento e bem-estar, apesar dos entraves burocráticos que se levantam, o município está a criar uma nova zona industrial e a ampliar a actual. ”Temos um ninho de empresas em Santo António dos Areias, e um outro na freguesia mais distante da sede do Conselho, que é Beirã, para empresas não tecnológicas, com rendas baratas, para dar resposta aos artistas e artesões, de acordo com as necessidades e que estão equipados com internet e salas comuns para reuniões”, refere o autarca.
Do ponto de vista de Luís Vitorino, as perspetivas futuras ”para o concelho são boas”, acrescentando: ”acredito em Marvão e acho que é uma terra de futuro. É uma terra que tem condições, especialmente no sector agroalimentar de pequena escala, e nos nossos produtos que são de alta qualidade”.
Produtos diferenciadores

No entanto, e na óptica de Luís Vitorino, existem ”três ou quatro produtos que poderão ser diferenciadores”, designadamente o vinho de altitude (fazemos parte da área dominada de origem dos vinhos de Portalegre), a castanha, também com certificação DOP, o azeite, com três fileiras de olival, e ainda a agropecuária, que também tem futuro em Marvão – apesar de não ser aquela agropecuária intensiva, mas sim extensiva.
Todos esses produtos funcionam sob o ‘guarda-chuva’ da marca Marvão, que abrange todos os produtos locais produzidos no território.
Para Luís Vitorino, ”fazia falta um reforço da agropecuária, nomeadamente na criação de caprinos. O Governo e o Ministério da Agricultura deveriam olhar para os pequenos criadores de gado caprino e reforçarem os apoios que concedem”. Neste momento – conforme nos confessou com alguma mágoa – os produtores de queijo estão a comprar leite na vizinha Espanha para fazer os queijos em Portugal”.
O edil lembra às autoridades que o pastoreio, principalmente de gado caprino, consegue reduzir o material combustível na floresta, o que originaria uma poupança de alguns milhares de euros na prevenção e combate aos incêndios rurais.
Respostas sociais fazem a diferença
Em termos sociais, para além da existência da primeira creche municipal e do cine-teatro, o município disponibiliza, para os menos favorecidos, o cartão social, comparticipação na compra de medicamentos, apoio nos transportes aos doentes às consultas em Lisboa, desconto nas piscinas, apoio à tuna sénior. Ou seja, existe ”uma quantidade de respostas sociais que fazem a diferença”.
A nível de ensino, foi recentemente inaugurada, com a presença do ministro da Educação, uma escola que tem condições excepcionais, equipada com um pavilhão desportivo, que não tínhamos. Era uma lacuna que existia em Marvão e foi mais um salto qualitativo que se deu. Hoje, temos uma escola que pode ser equiparada a uma escola privada, uma escola moderna, com todos aqueles equipamentos didáticos que se utilizam para lecionar”.
”Sou daqueles que acredita que a educação é um dos pilares do desenvolvimento do país e, apesar da educação estar um bocado em roda livre, o nosso agrupamento de escolas tem bons resultados. É uma escola pequena, onde não há, praticamente, insucesso escolar. Os 200 alunos são acompanhados. Por outro lado, temos os programas de empreendedorismo, porque é importante que os miúdos tenham novas perspectivas de vida futura”, considera Luís Vitorino.
Habitação
Um problema que é transversal a todo o país, a habitação também preocupa o autarca alentejano que desenvolveu uma estratégia de habitação local também, com perto de três milhões de euros, que está praticamente executada.

Neste momento, adianta, ”temos em fase de concurso, no valor de 950 mil euros, para 4 projectos de reabilitação: Barretos, Porto Espada, São Salvador e em Escusa. E temos a decorrer uma obra em São António e estamos a reabilitar cerca de 15 casas da Câmara Municipal – adaptá-las aos dias de hoje”.
Turismo ”em alta”
Mas voltemos à principal fonte económica do concelho: o turismo. Depois da pandemia tem crescido o número de turistas, com muitos portugueses, espanhóis, dada a proximidade, e asiáticos. “Muito por força dos produtos turísticos que temos a oferecer”, diz o presidente da Câmara de Marvão, Luís Vitorino, acrescentando que a paisagem continua a ser um dos maiores ativos que Marvão.
Aliás, como refere, a aposta continuada no turismo tem contribuído para valorizar o património histórico e cultural, estimular a regeneração urbana, reanimar as áreas rurais, promover o emprego e o desenvolvimento local.

A escarpa rochosa, o conjunto com o Castelo Altaneiro a 800 metros de altitude, de onde se diz ser possível avistar águias pelas costas a ouvir o silêncio, são tão surpreendentes e são a marca turística de Marvão, que segue a tendência do Alentejo que reforça a tendência de crescimento alicerçada no turismo de património e natureza.
É esta paisagem que ajuda a vender o território. Por isso, é que considera que ‘este postal verde’ tem ”que ser preservado, sendo importante conseguir manter esta paisagem”.
O turismo, depois da questão do património mundial, deu um grande salto qualitativo com o Festival de Música Internacional.
”Hoje o Festival de Música Internacional é um investimento que a Câmara faz em parceria com a Academia de Música, mas é um investimento que tem retorno. É uma forma de conseguirmos atingir o mundo”, revela.
Este festival, defende, ”trouxe também uma nova dinâmica ao território, nomeadamente a Castelo de Vide, a Portalegre e à Serra de São Mamede. Já não digo a Arronches, que fica na outra ponta da Serra, mas nestes três localidades”, apesar de ter originado uma explosão imobiliária. De repente, o que valia 50, vale hoje 100. Nós temos essa percepção”.
Por último, e como não poderia deixar de ser Luís Vitorino falou sobre a decisão do tribunal de Portalegre de o condenar a três anos de prisão, com pena suspensa e perda de mandado por um crime de corrupção passiva. ”Recorri e espero que se faça justiça. Não comento a decisão do Tribunal de Portalegre”, afirma

”Estou de consciência tranquila. Sei que não usurpei nada para o meu proveito, o que aconteceu foi uma questão factual de procedimentos. Por isso, estou confiante que se faça justiça e espero ser absolvido. Estou a trabalhar para os marvanenses e os marvanenses acreditam no Presidente da Câmara”, remata.