Castelo Branco, a cidade outrora movida a obras, a entusiasmo político e a personalidade forte, hoje vive um cenário de apatia e vazio administrativo. O Comendador Joaquim Morão, o nome que, amem-no ou odeiem-no, fez da cidade um centro de atividade e transformação, é agora uma figura distante — tanto nos palcos do poder quanto na memória recente de alguns. Contudo, é impossível negar: onde punha a mão, algo mexia. Castelo Branco fervilhava, discutia-se, fazia-se obra. No entanto, nos tempos de hoje, a cidade perdeu essa pulsação. O novo governo? Bem, ele fala, promete, mas pouco faz.
Leopoldo Rodrigues, o sucessor, entrou na política como aprendiz de Morão, subiu e, ao alcançar o topo, decidiu renegá-lo. Adotou um discurso pomposo e distante do “moronismo”, como quem limpa o rasto de um mentor incômodo. E o que trouxe, afinal? Muitos anúncios, pouco efeito. Prometeu modernidade, transparência, mudança, mas o que encontramos nas ruas são palavras sem eco. Um vazio recheado de promessas que se desvanecem entre sorrisos e fotografias. Na verdade, Leopoldo parece mais focado na própria imagem de “paladino da inovação” do que no que a cidade realmente necessita. Para os albicastrenses, parece que o tempo parou: o presente é um hiato entre as promessas do passado e a execução que nunca chega.
No tempo de Morão, Castelo Branco era notícia pela quantidade — e pela ousadia — das obras. Critiquem-se os métodos, questionem-se os objetivos, mas o que não se podia negar era a ação. Morão era um político que gostava de obra, que vivia de projetos e que estava sempre disposto a investir no “movimento”. Mas a sua maior ironia foi talvez ter escolhido como sucessores aqueles que, em vez de aprender com a sua energia, decidiram enterrar-lhe o legado. Transformaram-no em ruína, em tabu. A “nova geração” queria distanciar-se do velho mestre, mas não o fez com ideias, mas sim com uma insipidez que aos poucos consome a cidade.
E o presente é o que é: uma cidade estagnada. Enquanto Morão se defende perante a justiça, Leopoldo e seus pares defendem-se de acusações de imobilismo. E o que fazem? Evitam decisões, hesitam em projetos, hesitam em agir. Entre debates de salão e consensos que não chegam, governam numa névoa de discursos polidos e imagens cuidadosamente construídas. Em vez de líderes, temos oradores; em vez de projetos, temos ideias vagas. Se há dúvidas, basta observar o que falta a Castelo Branco: falta-lhe personalidade, falta-lhe pulso.
Morão não foi perfeito, e ninguém o nega. Mas era alguém que, por mais discutível que fosse, conseguia mexer. Criava vida na cidade, gostasse-se ou não. E agora? O cenário é outro: um desfile de caras novas com atitudes antiquadas, mais interessadas em embelezar a falta de ação do que em realizar algo que faça a diferença. Leopoldo, o “novo timoneiro”, parece governar para as câmaras, para o público ausente, numa cidade que desespera por liderança genuína. Falta-lhe ambição, falta-lhe, acima de tudo, a coragem de tomar decisões sem medo das críticas.
O seu a seu dono. A cidade, talvez em surdina, talvez ainda com algum orgulho escondido, sente saudades de Joaquim Morão. De quem, com todos os defeitos que lhe queiram apontar, a punha em movimento. Agora, resta o vazio, e a dúvida persiste: será este o “novo tempo” prometido? Fica o apelo, quase em tom de sátira, quase como um desabafo: “Volta, Morão, que estás perdoado.” Melhor uma obra contestada do que o vazio decorado.
Na política, importa quem se mexe. Mais vale quem realiza, quem faz algo, do que quem apenas se apresenta como opção. E, neste momento, Castelo Branco merecia mais.