Presidente da República defende que o Governo só deve visitar bairros críticos com propostas concretas para apresentar aos moradores
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, declarou esta terça-feira que pretende continuar suas visitas a bairros críticos, como Cova da Moura e Zambujal, ambos na Amadora. No entanto, o chefe de Estado defendeu que o Governo deve ter uma “ideia concreta” antes de visitar estas comunidades, para que possa oferecer aos moradores mais do que uma mera presença institucional.
Marcelo rebateu críticas pela ausência de membros do Governo nessas visitas e justificou sua própria presença como Presidente, afirmando que, por não ter “poderes executivos”, não necessita de comprometer-se com promessas específicas. “Não é uma questão de não quererem ir”, explicou, referindo-se à posição do Governo. “O Governo precisa de um momento oportuno para comparecer, quando puder apresentar alguma solução viável para os problemas locais.”
Tumultos Recentes e Sensibilidade das Visitas
A visita de Marcelo ocorre num contexto delicado, marcado por manifestações e tensões após a morte de Odair Moniz, um jovem baleado por um agente da PSP no bairro da Cova da Moura. O incidente gerou protestos e reacendeu o debate sobre a relação entre forças de segurança e comunidades de bairros periféricos. Marcelo considera que, em face da situação atual, o Governo talvez prefira “uma ocasião melhor”, quando possa estar preparado para dialogar com compromissos concretos.
Visitas Independentes para “Medir o Pulso” das Comunidades
Sem a companhia de membros do Executivo, Marcelo visitou a esquadra da PSP no Zambujal e encontrou-se com moradores dos bairros de forma independente. A decisão de realizar as visitas sozinho, segundo o Presidente, foi para ter liberdade de “ouvir e ouvir” sem necessidade de se comprometer com promessas de ação. A visita, segundo Marcelo, foi comunicada ao primeiro-ministro António Costa, que não levantou objeções.
Ao conversar com os moradores e verificar a situação junto às forças de segurança, Marcelo também ofereceu suas condolências à família de Odair Moniz, que morreu em circunstâncias que ainda geram questionamentos. Além disso, dialogou com a mãe de um motorista ferido nos tumultos, buscando entender as perceções e necessidades da população local.
Papel do Governo e Compromisso com os Moradores
Marcelo destacou que o papel do Governo é diferente do seu, pois uma presença ministerial exige um compromisso com medidas práticas. “Um governo não pode ir e não assumir compromissos concretos”, afirmou o Presidente, sugerindo que uma visita oficial exige que o Governo apresente soluções para os problemas enfrentados nestes bairros.
Ao final, Marcelo confirmou que manterá as visitas aos bairros desde que isso não cause “problemas” para as autoridades locais ou para o Governo, que ele acredita estar a preparar-se para agir no momento adequado.
Desafios e Expectativas
A postura de Marcelo Rebelo de Sousa lança luz sobre um dos maiores desafios enfrentados pelo Estado português na atualidade: a urgência de políticas efetivas para bairros periféricos marcados por tensões sociais. O Presidente demonstra um esforço para se manter próximo das realidades locais e sublinha a importância de uma resposta estruturada, o que coloca pressão sobre o Governo para que atue de forma concreta.
Com uma série de questões ainda em aberto e a expectativa de medidas mais robustas, as visitas de Marcelo apontam para uma tentativa de diálogo e compreensão, enquanto se aguarda uma postura efetiva e compromissada por parte do Executivo.