Fátima torna-se o epicentro de uma decisão crucial para as vítimas de abusos sexuais no seio da Igreja Católica em Portugal. Até quinta-feira, a Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) discute as compensações financeiras destinadas a apoiar as vítimas, um tema que tem dominado a agenda pública desde a criação de um fundo solidário, aprovado em abril deste ano, que conta com o apoio financeiro de todas as dioceses portuguesas.
Este processo de compensação decorre da apresentação de pedidos por parte das vítimas, que têm até ao final de dezembro de 2024 para formalizar as suas requisições. Os pedidos podem ser submetidos ao Grupo VITA, uma entidade estabelecida pela CEP na sequência do relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, que identificou 512 testemunhos e, através de extrapolação, apontou para um número mínimo de 4.815 vítimas de abusos entre 1950 e 2022. As comissões diocesanas de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis também estarão disponíveis para receber pedidos.
Uma comissão de avaliação será responsável por determinar os montantes das compensações a atribuir. Contudo, o método de recolha e análise de pedidos tem gerado críticas por parte de algumas vítimas, que consideram penoso o requisito de relatar novamente os acontecimentos traumáticos, uma vez que já os haviam exposto à Comissão Independente, liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht.
A Assembleia em Fátima poderá, no entanto, introduzir alterações ao regulamento de compensação, respondendo a uma proposta do Grupo VITA, que já solicitou à Igreja a revisão de certos aspetos do processo.
Além do tema das compensações, a reunião dos bispos irá refletir sobre o documento final da Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, que teve lugar em outubro em Roma. Outras temáticas de relevo incluem a pastoral juvenil, o impacto do Renovamento Carismático Católico (RCC) em Portugal e as preparações para o Jubileu de 2025.
A reunião da CEP surge num momento em que a Igreja Católica em Portugal enfrenta uma exigência de maior responsabilidade e transparência por parte das vítimas e da sociedade, que aguardam com expectativa as conclusões dos trabalhos que se realizam em Fátima.