Maputo voltou a parar ao som de apitos e buzinadelas na sexta-feira, no terceiro dia de protestos convocados por Venâncio Mondlane, candidato presidencial moçambicano que contesta os resultados das eleições gerais. Vestidos de preto e com cartazes exigindo “justiça eleitoral”, centenas de manifestantes tomaram as ruas da capital, paralisando o trânsito em várias avenidas centrais durante 15 minutos.
Às 12:00, hora marcada para o início do protesto, a cidade ficou envolta num ruído ensurdecedor. Automobilistas, como Aristides Amocha, participaram ativamente, mantendo as viaturas paradas e acionando as buzinas. “Parar, apitar e depois seguir com o dia”, explicava ele, enquanto outros subiam aos tejadilhos dos carros ou autocarros, agitando tambores, apitos e vuvuzelas. A mobilização estendeu-se pelas avenidas 24 de Julho, Eduardo Mondlane, e até ao movimentado mercado Estrela.
Nas palavras de Alberto Zimba, um dos manifestantes: “Estamos aqui para reivindicar a verdade eleitoral e a vitória de Venâncio Mondlane. Deixamos os nossos trabalhos para exigir justiça”. Muitos aproveitaram para partilhar a experiência ao vivo nas redes sociais, amplificando a mensagem do protesto.
REVOLTA PELA “VERDADE ELEITORAL” E LUTO PELAS VÍTIMAS
A mobilização incluiu homenagens a Elvino Dias e Paulo Guambe, apoiantes de Mondlane, mortos em 18 de outubro. O candidato afirma que pelo menos 50 pessoas morreram nos últimos dias, vítimas de repressão policial. Entre gritos de apoio e cânticos, manifestantes entoaram o hino nacional, transformando o ato num momento de reflexão e resistência.
Mondlane, que rejeita os resultados eleitorais divulgados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), acusa as autoridades de fraudes e violência. Segundo a CNE, Daniel Chapo, da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), venceu as eleições com 70,67% dos votos. Mondlane, contudo, denuncia irregularidades e declarações de vitória antecipadas como inaceitáveis.
PROTESTOS REPETIDOS E ADESÃO POPULAR
À medida que o relógio marcava as 12:15, muitos começaram a liberar o trânsito, mas o protesto prosseguiu noutra forma: das 13:00 às 13:25, o apelo foi novamente atendido, com um segundo ato em várias áreas da cidade. Entre os participantes, Adélcio Langa resumiu o sentimento geral: “Paralisei a viatura. Estamos a manifestar pelos nossos direitos e pela mudança”.
Os protestos têm sido marcados por um impacto generalizado, envolvendo desde trabalhadores a comerciantes e motoristas de transporte público. Apesar das tensões, a adesão continua a crescer, com Venâncio Mondlane a insistir que a sua candidatura representa “a verdadeira vontade dos moçambicanos”.
Enquanto o Conselho Constitucional ainda não valida os resultados eleitorais, Maputo permanece numa encruzilhada política, onde o som dos apitos e buzinadelas é a expressão de uma sociedade em luta pela mudança.