No recente jantar em Idanha-a-Nova dos 100 anos de Mário Soares, um evento que, ao contrário de muitos na política portuguesa, foi marcado por um grau significativo de reflexão histórica e até de algum espírito de afirmação, assistiu-se a um espetáculo de vaidade inusitado protagonizado pelo Presidente da Câmara de Idanha-a-Nova, Armindo Jacinto
O discurso, digno de um conto de fadas para quem ignora os factos, foi um exemplo perfeito de como a política local pode, quando mal gerida, produzir peças de teatro dignas de um palco vazio. Armindo Jacinto, numa última tentativa de brilhar na ribalta da sua própria vaidade, soltou palavras que mais pareciam murmúrios de um homem acabado.
No seu discurso, Jacinto referiu, entre um sem-número de declarações vagas e promessas que já soam como música desafinada, que ele “fez muito por Idanha-a-Nova”. Fez tanto, sim, que não se sabe se a Vila se deve agradecer ou pedir-lhe desculpas. O homem farta-se de viajar pelo mundo, com a conta da Câmara a ser o seu cartão de embarque pessoal, e apresenta o seu “legado” com uma presunção que só os mais ousados da política local conseguem sustentar. “Idanha BIO”, um termo que soa mais a promessa de campanha do que a um projeto viável, foi utilizado como desculpa para uma série de deslocações ao estrangeiro que nada produziram a não ser mais dívidas e mais promessas vazias.
Mas o que é realmente curioso é que Jacinto esqueceu de mencionar, no meio do seu discurso, que está a concluir o seu último mandato. Não, não foi por falta de espaço ou de tempo; é apenas que a verdade não se encaixa nas suas palavras de autoelogio. O discurso parecia mais um prolongamento de um poder que já não existe, uma espécie de “continuidade” de um regime que, na prática, já se desfez há muito tempo. Como se fosse uma eternidade política, onde as falácias ainda vestem o manto daquilo que já não é mais.
E se alguma coisa é verdade no longo reinado de Jacinto à frente da Câmara, é que ele soube, como ninguém, transformar uma autarquia local numa autêntica máquina de satisfazer interesses e caprichos pessoais. A câmara, agora em estado quase terminal, é um reflexo das suas promessas de sucesso. Mas o que sobrou não são realizações, mas sim um charco de incompetência e falta de visão. A gestão de Jacinto tem sido um verdadeiro naufrágio, com a Câmara de Idanha-a-Nova a bater no fundo. Processos atrás de processos, acusações, e um rasto de polémicas que o acompanham até ao último dia no cargo, lembram-nos que a política não perdoa, e nem todos são imortais.
De facto, é impossível não fazer uma leitura irónica e até quase cómica do discurso de Jacinto. Um “lírico” que, ao invés de expressar a poesia do progresso e do desenvolvimento, cantou a melodia da vaidade e da autopromoção. No entanto, o seu maior feito foi esquecer que está a sair pela porta dos fundos da política, sem nenhum crédito ou reconhecimento a acompanhar o fim de um ciclo. E o que parecia um discurso de despedida, acabou por se tornar uma espécie de último suspiro de um homem político que viu o seu tempo escoar-se entre os dedos, enquanto se agarrava desesperadamente ao palco de um poder que já não lhe pertence.
O maior erro de Armindo Jacinto, no entanto, não foi a falta de realizações, mas a tentativa de se convencer, e convencer os outros, de que ainda há algo a celebrar. Porque, ao contrário do que tentou passar no seu discurso, ele sai, sim, de Idanha-a-Nova, mas não com a dignidade de quem deixa um legado, mas com o silêncio de quem nunca soube ouvir a realidade. E como em todos os grandes discursos, há uma verdade que ressurge entre as entrelinhas: a política, quando mal feita, não perdoa. E Jacinto vai, como todos os outros, deixar um rasto de promessas não cumpridas e desilusões para trás.
Ah, Armindo, quem diria que o último verso da tua política seria tão fraco?