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Novo presidente da Casa do Douro disponível para diálogo e construção de pontes

O presidente da Casa do Douro, que tomou posse estasegunda-feira, quer criar laços, desatar nós que a região tem, trabalhar nas fundações e atribuições da instituição e ajudar na tomada de medidas, como a aguardente regional. Rui Paredes é o primeiro presidente da Casa do Douro restaurada pelo parlamento como associação pública de inscrição obrigatória e quer, “acima de tudo, criar laços e desatar muitos nós, a região tem muitos nós que precisam de ser desatados”.

O novo presidente da Casa do Douro, que foi restaurada pelo Parlamento como associação pública de inscrição obrigatória, diz não entender a posição da Associação das Empresas de Vinho do Porto (AEVP) para impedir o regresso desta instituição, salientando estar disponível para o diálogo e construir pontes.

“Da minha parte estarei sempre disponível para construir pontes e, por isso, não entendo esta tomada de posição, penso que é ficar entrincheirado. Não sei se há receio de uma perda de capacidade de empurrar os preços para baixo”, afirmou Rui Paredes, que toma posse esta segunda-feira.

A AEVP diz que “tudo fará” para impedir o regresso da Casa do Douro, admitindo recorrer ao tribunal para a apreciação da constitucionalidade da lei que restaurou a instituição.

Criada em 1932 para representar os produtores de vinho da mais antiga região demarcada e regulamentada do mundo – o Douro –, a Casa do Douro viu os seus estatutos alterados em 2014, passando a ser uma associação privada de inscrição facultativa, depois de anos asfixiada em dívidas ao Estado e a credores privados. Depois de uma tentativa em 2019, primeiro vetada pelo Presidente da República e depois considerada, em algumas normas, inconstitucional pelo Tribunal Constitucional, a associação foi restaurada em janeiro de 2024.

“Naturalmente, acho que passa muito por uma discussão com a própria AEVP, para perceber que este modelo – da reinstitucionalização da Casa do Douro – é um modelo que está em constante melhoramento, porque sabemos que há lacunas. É um modelo de partida”, afirmou Rui Paredes, defendendo que o “viticultor não pode continuar a ser o parente pobre da atividade, como tem sido”.

“Tem sido a pessoa que anda de chapéu na mão para vender o seu produto, a não ganhar dinheiro, e isto não pode continuar a acontecer. Se eventualmente, neste modelo, entendem que passam a ser eles o parente pobre, não, nunca o serão. Nós entendemos que tem de haver um comércio forte, mas também tem que haver uma viticultura e um pequeno e um médio e um grande viticultor”, realçou.

O novo presidente defendeu que é preciso “dar empoderamento ao viticultor”, para que se sinta realizado, sinta novamente prazer em trabalhar a vinha e para que a vindima volte a ser uma festa com alegria e não com a tristeza de não saber o que vai acontecer às uvas.

“A economia da região vive do que é a vinha e o vinho, se nós retirarmos desta equação a vinha e o vinho estamos a contribuir para um maior empobrecimento da região e isto não pode continuar a

acontecer. Os concelhos do Douro não podem frequentar os últimos lugares do que é o rendimento per capita do país”, frisou.

Contribuir para a economia regional

Rui Paredes deixou ainda um repto para o Estado que tem a ver com a “componente regional do que é a faturação das grandes empresas e que não está definida”. “Na realidade, a sede está no Porto e é no Porto que fazem o pagamento dos impostos, é no Porto que criam riqueza e é no Porto que fica tudo o que é retirado da região. E nós o que entendemos é que cada vez mais este tipo de empresas tem de estar sediado no Douro, tem de contribuir para a economia regional e não pode só retirar daqui o que é o melhor e depois levar para outra região”, referiu, assumindo que “esta é uma discussão difícil”.

Esta segunda-feira, no salão nobre da Casa do Douro, no Peso da Régua, distrito de Vila Real, tomou posse os órgãos eleitos a 21 de dezembro: conselho regional de viticultores e direção. O mandato é de três anos e Rui Paredes terá como vogais Fernando Alonso e Justina Teixeira. O conselho regional é composto por 51 membros eleitos por sufrágio direto dos associados singulares, sendo depois designados representantes das adegas cooperativas, cooperativas agrícolas e associações de viticultores.

Incorporação de aguardente no vinho do Porto

Por outro lado, o presidente da ‘nova’ Casa do Douro sublinha que quer “criar laços e “desatar muitos nós” que a região teme que “precisam de ser desatados”, além de trabalhar nas fundações e atribuições da instituição e ajudar na tomada de medidas, como a aguardente regional.

Nesta primeira fase da ‘nova’ associação, Rui Paredes quer passar uma mensagem de entendimento. “Que estamos imbuídos do mesmo espírito, na defesa do pequeno e médio viticultor, de toda a região. Nós temos de trabalhar muito nas fundações da nova Casa do Douro, ou seja, estruturá-la de uma forma que permita mantermo-nos como um legado eterno e não como algo efémero”, referiu.

As competências da instituição estão definidas na lei, mas, segundo o responsável, para as efetivar será necessário “um envelope financeiro que as sustente” e uma discussão grande com os vários parceiros deste processo, como o Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) e o Governo. Em simultâneo, acrescentou, é necessário continuar a trabalhar em medidas que ajudem os viticultores, a região, a crise nas vendas de vinhos e uvas e um “certo fundamentalismo” contra o setor.

Medidas urgentes

Esta estruturação da Casa do Douro será algo que nos vai levar algum tempo. Agora, nada disto pode impedir a tomada de medidas urgentes, e isso é algo que nós não podemos deixar para um momento mais oportuno. Não. O momento oportuno era ontem.

“Esta organização, esta estruturação da Casa do Douro será algo que nos vai levar algum tempo. Agora, nada disto pode impedir a tomada de medidas urgentes, e isso é algo que nós não podemos deixar para um momento mais oportuno. Não. O momento oportuno era ontem”, realçou, salientando que se quer “empoderar o viticultor”. Na sua opinião, “é importante que o viticultor não se sinta como um parente pobre, como alguém que anda sempre de chapéu na mão”.

Foram já tomadas medidas como o fecho da região à importação de vinhos, o Governo descativou verbas do IVDP para aplicar na promoção e a vindima em verde está vertida como uma proposta a ser apoiada caso haja necessidade este ano. “O consumidor tem de perceber que quando consome um vinho do Douro está efetivamente a consumir um vinho que tem atrás de si toda uma história, uma tradição, um saber fazer e fruto muito da sua especificidade enquanto região, tem custos”, defendeu.

Produção de aguardente

Um dos grandes debates na região tem a ver com a produção de aguardente para incorporar no vinho do Porto a partir dos excedentes do Douro. A medida tem sido discutida no interpessoal e até deveria ter sido votada neste mês de janeiro, mas, segundo Rui Paredes, há um compasso de espera por um esclarecimento por parte do IVDP e do Governo.

A decisão é considerada importante para a região e foi muito reclamada por viticultores que, na última vindima, não conseguiram vender todas as uvas ou as venderam a preços baixos. “Uma outra situação que depois vai impactar com isto tudo é a definição de qual é o custo de produção”, afirmou.

A Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) está a realizar um estudo que, segundo explicou, vai ajudar a perceber quais são os gastos do viticultor na sua vinha e os custos de produção que o produtor do Douro tem e irá apurar um preço abaixo do qual se está a vender abaixo do custo de produção.

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