“Gato escaldado de água fria tem medo”. Este adágio popular aplica-se plenamente à decisão do Governo de Luís Montenegro de “desconvidar” Valéria Cunha para ser administradora do IGCP, depois de ter tido conhecimento de comportamento agressivo enquanto diretora do Novo Banco. Não repetindo, assim, os erros que tem cometido, por desconhecimento do perfil das personalidades convidadas para altos cargos do aparelho de Estado.
O Governo voltou atrás no convite feito a Valéria Cunha para ser administradora do IGCP, depois de ter tido conhecimento de denúncias de trabalhadores por comportamento agressivo quando era diretora do Novo Banco, revelou fonte oficial.
O Executivo “decidiu desconvidar Valéria Cunha para a direção do IGCP perante as informações que obteve sobre a situação que teve no Novo Banco”, disse uma fonte do Governo, que sublinhou que no momento do convite não havia conhecimento das denúncias.
Após denúncias de trabalhadores, Valéria Cunha teve um processo disciplinar no Novo Banco em 2024 devido a comportamentos que podiam configurar assédio moral enquanto diretora do Departamento de Recuperação de Crédito de Empresas e, na sequência disso, chegou a acordo com o banco em outubro passado para sair com data-valor a fim de 2024.
A existência de um procedimento disciplinar foi confirmada à Lusa pela Comissão de Trabalhadores do Novo Banco, ainda que não dando mais detalhes sobre o que se passou. “Efetivamente tivemos conhecimento da abertura de um procedimento disciplinar à pessoa em questão. No entanto e, como decorre da Lei, a CNT (Comissão Nacional de Trabalhadores) está obrigada ao dever se sigilo, pelo que não poderemos dar mais informações”, disse fonte oficial.
A Lusa também contactou o Novo Banco e a Cresap (a quem cabe avaliar os nomeados para o IGCP) acerca de Valéria Cunha, mas não obteve resposta.
Quando foi conhecida a escolha de Valéria Cunha para a administração do IGCP, essa notícia foi incluída inicialmente nos Destaques de Imprensa da Intranet do Novo Banco, mas essa notícia viria a ser retirada daí, segundo disseram trabalhadores do banco, o que atribuíram ao mal estar entre quem conhece o histórico da ex-diretora.
Quanto à liderança do IGCP, o processo para a nomeação ainda está a decorrer, nomeadamente a avaliação pela CRESAP – Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública.
Com a retirada do convite a Valéria Cunha, o Governo garantiu, esta quinta-feira, que existem vários nomes em cima da mesa para o cargo, mas que ainda não foi feito novo convite. Recorde-se que a liderança da agência que gere a dívida pública vai mudar e que Pedro Cabeços foi o nome escolhido para presidir ao IGCP.