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Quaresma Uma Peregrinação Interior Na Alegria do Encontro

O caminho e a peregrinação são uma realidade muito humana, um símbolo da vida, um símbolo bíblico muito forte. A nossa vida é um caminhar como peregrinos, juntos, em jeito sinodal, “lado a lado, sem pisar ou subjugar o outro, sem alimentar invejas ou hipocrisias, sem deixar que ninguém fique para trás ou se sinta excluído”, como afirma o Santo Padre na sua Mensagem para esta Quaresma. O povo de Deus sempre foi e é um povo peregrino.

Caminhou pelo deserto durante quarenta anos para alcançar a Terra Prometida. Moisés, para se encontrar com Deus, teve de subir ao monte Sinai, onde permaneceu quarenta dias. Elias teve o seu encontro com Deus no monte Horeb, ao qual chegou depois de quarenta dias de peregrinação, despojado de tudo e perseguido. O próprio Jesus também se revelou como Caminho e os seus discípulos, o povo cristão, especialmente nos quarenta dias da Quaresma, também peregrina, recorda de forma mais forte que é verdadeiramente um povo a caminho, não de uma meta geográfica ou do alto de uma montanha qualquer, mas de Cristo, a verdadeira e nova terra prometida, o monte iluminado, a verdade e a vida que nos conduz em direção à liberdade.

Caminhar para Jesus e com Jesus significa sintonizar, comungar e viver com Ele e como Ele. Significa ligar o GPS do coração, não tanto para alcançar Cristo, mas sim para nos deixarmos alcançar por Ele. Diz-nos São Paulo: “uma coisa eu faço: esquecendo-me daquilo que está para trás e lançando-me para o que vem à frente, corro em direção à meta, para o prémio a que Deus, lá do alto, nos chama em Cristo Jesus” (Fl 3,13-14). Deixarmo-nos alcançar por Cristo é abrirmo-nos a Ele, escutar a sua Palavra, permitir que Ele nos vá modelando à sua maneira, até que, caminhando cada dia com Ele, sintamos que Ele é o Senhor. A caminhada, a corrida, a pedalada é interior. É na intimidade de cada um de nós que se há de realizar a meta do encontro, da transformação, da plena liberdade, pois a esperança não engana e é fonte de renovação.

ALGUMAS PISTAS PARA O CAMINHO

A Quaresma é o tempo privilegiado para esta peregrinação interior em direção a Jesus, fonte da Esperança e da Misericórdia. É um caminhar tanto mais necessário quanto mais se vive à flor da pele e voltados para fora. Quem suporta hoje um silêncio prolongado, um dia sem televisão, sem telemóvel, sem redes sociais, sem internet? Atraídos por tantas solicitações e provocações, esquece-se o essencial e, não raro, têm-se como únicos centros de peregrinação as superfícies comerciais e afins, tantas vezes em busca do inútil ou supérfluo. As cinzas que nos são impostas sobre a cabeça, evocam que somos pó, pobres e frágeis, são um sinal da condição débil do homem, mas são também o sinal exterior de quem se arrepende dos seus pecados e decide fazer um caminho em direção ao Senhor. A Quaresma é o tempo oportuno para fazer este caminho, um tempo prático. Nesse sentido, aponto algumas pistas para que todos, de todas as idades e condições, possamos fazer uma verdadeira peregrinação quaresmal: entra em ti, cala-te, escuta, reza, crê, ama, adora e partilha.

ENTRA EM TI. Puxa tu mesmo a aldraba da tua porta, entra e chama, chama outra vez, mais outra, pois quem procuras está lá bem dentro de ti, interioriza o trajeto para dentro e não para fora de ti.

CALA. Manda calar os ventos, as tempestades, os sentidos, as loucas imaginações, as vãs curiosidades, as fortes emoções, as insatisfações … O silêncio, dentro e fora de ti, é importante para esse encontro.

ESCUTA. Escutar não é fácil. Por isso falamos, falamos e até falamos o que não devíamos. Abre os ouvidos do coração. A verdadeira riqueza é a palavra, a de Deus e a dos irmãos. Guarda-a dentro de ti. Procura compor com ela a melodia harmónica do perdão, da reconciliação e da paz.

REZA. Com palavras e com silêncio, com gritos e com sussurros, com lágrimas e com danças, pede e agradece, levanta para Deus as tuas mãos e o teu coração. Mantém as lâmpadas da tua fé acesas, sempre.

CRÊ. Com uma fé mais confiante e mais alegre. Deus é alegria. Alegra-te com Ele. Ri com Ele. Deus é sorriso verdadeiro. Põe a tua vida nas suas mãos. Nessas mãos em que está tatuado o teu nome (cf. Is 49,16). Uma fé mais coerente e contagiosa. Deixa-te amar.

AMA. O amor é vida, mas tens de morrer primeiro ao conformismo, ao “sempre foi assim”, à intolerância, à indiferença… Pede a Jesus que te ajude a morrer, que te ajude a amar, que te ame para que tu possas amar com o seu Amor.

ADORA. A adoração é um hino de amor e de louvor. Na adoração deixamos de viver “só” para nós próprios e abrimo-nos ao Espírito que inspira e encoraja a nossa adoração: “A adoração é um contacto boca a boca, um beijo, um abraço, um resumo de amor” (Papa Bento XVI). O próprio Cristo sabe a direção do Espírito, faz-se em nós cântico de louvor e adoração. Cristo é Ressurreição.

PARTILHA. A esperança ajuda-nos a ler os acontecimentos da história e a comprometermo-nos com a justiça e a fraternidade. A escuta da Palavra, a oração, a vigilância e o jejum motivam à partilha. Partilhar é muito mais do que dar uma esmola, é opor-se ao egoísmo, é esvaziar o eu, é pensar nos outros. Juntamente com a oração e a conversão, a partilha é um dos pilares da Quaresma. Etchegaray escreveu um dia: “Partilhar é o gesto sem calculismo de duas mãos abertas que não sabem se dão ou se recebem” e “Não há verdadeira partilha senão na pobreza, como não há verdadeira riqueza senão na partilha”. A nossa partilha, ou renúncia quaresmal, em partes iguais, destinar-se-á à requalificação da igreja de Santo Inácio na paróquia de Samayanallur, da Diocese de Madurai, do Estado de Tâmil Nadu, na Índia, cujos jovens, com cinco sacerdotes, vieram à JMJLisboa 2023 e fizeram os dias de preparação entre nós. Entretanto, essa comunidade já foi visitada por um sacerdote da nossa Diocese a convite da Comissão Episcopal para a Juventude de Tâmil, na Índia. O Fundo Diocesano de Emergência Social, gerido pela Cáritas Diocesana, será o outro destinatário dessa partilha das nossas comunidades cristãs.

SAIR A SEMEAR AS FLORES DA ESPERANÇA

Cristo não disse “Eu sou o costume, mas sim, Eu sou a verdade” (Tertuliano). Cristo diz eu sou novidade. Eu sou a esperança que dirige o futuro. Cristo ressuscitado ilumina e tudo recria, sobretudo quantos se aproximam d’Ele e se deixam amar, se abrem ao seu dom que é a graça e o amor de Deus Pai. Em Cristo ressuscitado, a pessoa renova-se, o mundo recria-se. O cristão sonha, trabalha e semeia flores de esperança para que o mundo floresça e se pareça com o Reino de Deus. A Igreja da Páscoa em peregrinação jubilar tem de ser dinamizadora e transcendente, encarnando e atualizando a presença permanente de Cristo Ressuscitado que atua com a força do Espírito. Quando damos razões da nossa esperança e estimulamos um novo compromisso, Cristo continua a ressuscitar. Quando unimos as nossas mãos para prestar serviços de libertação, estamos a cantar a ressurreição, pois ela não é um acontecimento do passado. É uma promessa cumprida para nós, mas não cumprida plenamente em nós. Ela “contém uma força de vida que penetrou o mundo (…) uma força sem igual. (…) Cada dia, no mundo, renasce a beleza, que ressuscita transformada através dos dramas da história. (…) Esta é a força da ressurreição” (EG 276) que trespassa a nossa vida e a nossa história. “Não fiquemos à margem deste caminho da esperança viva” (EG 278).

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Antonino Dias
Antonino Dias
“É a logica que faz prestar atenção ao clamor do pobre, do mais fraco, do marginalizado, lógica de quem se opõe à violência dos que se servem da riqueza e do poder, da injustiça e da indiferença para humilhar e explorar os outros”, disse D. Antonino Dias - 22/11/2019".

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