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Camilo Castelo Branco nasceu há 200 anos

Um “grande prosador” que, no entanto, escolhia histórias “arcaicas” e “sentimentais” de um país que “já não existe”. Um “romântico” ou talvez “ultra-romântico”, demasiado “enfático” e “grave” e um tudo-nada cínico. Enfim, um escritor divertido e hilariante, que foi apontado como regionalista, anacrónico, melodramático. Camilo Castelo Branco escrevia sobretudo porque escrevia nos jornais e, para assinalar o bicentenário do seu nascimento, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Norte para a área da Cultura desafia os portugueses a “descobrir” os locais que fazem parte da vida e obra do autor. O programa do bicentenário inclui ainda actividades para escolas e um ciclo de cinema.

O director do Centro de Estudos Camilianos e da Casa de Camilo, Sérgio Guimarães de Sousa, considera que Camilo Castelo Branco (1825-1890), cujo bicentenário se comemorou este domingo, é tão valioso como qualquer nome maior da literatura mundial. O “Camilo é tão valioso como Machado de Assis, Shakespeare ou Dante”, frisando a importância do autor de Amor de Perdição e lembra as pontes internacionais que foram estabelecidas com universidades no Brasil e nos Estados Unidos da América para o bicentenário.

Este domingo assinalou-se o bicentenário do nascimento de Camilo Castelo Branco. Um dos nomes mais importantes da literatura portuguesa nasceu em Lisboa a 16 de março de 1825, mas foi a Norte que viveu os momentos mais marcantes de toda a vida. Por isso, é pela região Norte do país que passa a proposta de roteiro camiliano desenhado por Jorge Sobrado, vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Norte para a área da Cultura.

É uma longa viagem que vai desde São Miguel de Seide, com passagem por Braga, Porto, Famalicão e muitos outros locais que fazem parte da vida e obra do autor. “Os 200 anos do nascimento de Camilo Castelo Branco são um belíssimo pretexto para desafiar os portugueses e as portuguesas, quem gosta de ler e quem não gosta de ler ou não descobriu ainda esse prazer para fazer um roteiro camiliano, ou seja, a partir à descoberta dos sítios de Camilo Castelo Branco, que são, em muitos casos, sítios com encantos patrimoniais, encantos paisagísticos, com histórias quase secretas ou que têm uma poderosa aura relacionada com as aventuras de Camilo, os seus encontros amorosos e as suas fugas”, explicou à TSF Jorge Sobrado.

Descrevendo Camilo como um “grande polemista”, Jorge Sobrado conta à TSF que “também é possível, a partir dos lugares, não apenas tomar contacto com as histórias dos amores, dos encontros, das amizades, mas também com as suas desavenças e com as suas polémicas”.

O roteiro para celebrar a vida e obra de Camilo foi preparado para dois anos de viagens e visitas. “O ano do bicentenário não será um ano, serão, na verdade, dois, uma vez que esta rede constituiu-se com essa ambição de prolongar pelo menos até 2027 todo um programa que vai desde o teatro de rua, o cinema, a literatura, as tertúlias. Há pelo menos dez ciclos de tertúlias a serem organizados na região Norte e, portanto, do texto se farão múltiplas manifestações artísticas, culturais, turísticas e lúdicas sobre a vida, obra e as paisagens de Camilo”, adianta Jorge Sobrado.

Dos amores com Ana Plácido ao suicídio

Além de todas as iniciativas que começaram já este domingo, as celebrações vão durar até 2027. As celebrações juntam quase 30 entidades, incluindo municípios e universidades.

“Já há, no fundo, muitos pretextos para revisitar a vida e obra de Camilo na Póvoa de Varzim, uma exposição que justamente evoca as passagens e as amizades e as correspondências de Camilo na Póvoa do Varzim. Poderia citar o centro interpretativo de Camilo Castelo Branco, que abriu ao público em Fafe. Matosinhos também inaugurou uma exposição sobre Camilo Castelo Branco e, portanto, é o Norte que, de alguma forma, toma posição e toma avanço nestas comemorações, porque reconhece que, de facto, a sua obra não apenas retrata o Norte, ela inventou o Norte, de algum modo”, refere Jorge Sobrado.

A vida e obra de Camilo Castelo Branco passam por São Miguel de Seide, em Famalicão. Jorge Sobrado considera “imperdível ir à sua última morada e morada também do seu casamento, da sua relação com o seu amor de vida, Ana Plácido, e rumar até à casa de Seide, a casa de Camilo, que, na verdade, é concomitante do Centro de Estudos Camilianos, projetado pelo arquiteto Siza Vieira”.

“Nessa casa-museu, contactar com a atmosfera de vida de Camilo Castelo Branco nesse período em que viveu em Famalicão, conhecer o ambiente da sua casa e, a partir do ambiente da sua casa, dos seus objetos, do mobiliário, também conhecer episódios de vida do escritor, não apenas a fervilhante atividade literária que teve nesse período, mas também o seu fim trágico, profundamente desconcertante com o seu suicídio motivado por uma cegueira”, descreve, reforçando que São Miguel de Seide “tem ainda o poder de nos dar uma atmosfera rural, que contrasta com o outro lado de Camilo”.

As comemorações do bicentenário de Camilo Castelo Branco foram lançadas pelo Centro de Estudos Camilianos e Casa de Camilo no ano passado e prosseguem este ano, com destaque para vários momentos, como o congresso internacional que decorreu até domingo, na Casa de Camilo.

Até 31 de Agosto, no Centro de Estudos, será possível visitar a exposição Jorge. Desenhos do meu filho, constituída por desenhos da colecção do filho de Camilo Castelo Branco e Ana Plácido, iniciativa que se fez acompanhar pela edição de um catálogo.

No próximo mês, no âmbito do programa de reedições da obra de Camilo, vão ser publicados, num só volume, A Bruxa do Monte Córdova e A Filha do Doutor Negro.

O programa do bicentenário inclui ainda actividades para escolas e um ciclo de cinema.

Um boémio

Camilo era um escritor que tinha um prazer pela vida boémia e pela vida urbana e citadina do Porto, onde viveu também parte importante da sua vida

Por outro lado, falar da infância de Camilo Castelo Branco é também falar de Braga, do Parque do Bom Jesus.

“No Bom Jesus do Monte poderemos retomar a obra que tem justamente esse mesmo título ‘No Bom Jesus do Monte’, recuperando, por um lado, a memória de infância de Camilo, numa altura muito difícil da sua vida, quando perdeu a sua mãe, mas também os seus encontros amorosos, que aí teve justamente com a Ana Plácido. Há o mito de que foi no Bom Jesus do Monte que ambos se

conheceram, embora, historicamente, a verdade penda mais para o lado da cidade do Porto, mas do Bom Jesus do Monte poderemos tomar contacto com as carvalheiras de que fala Camilo na sua obra, com a atmosfera também romântica daquele imenso parque e poder também desfrutar de alguma das iguarias de que fala Camilo justamente nesse livro, em episódios até bastante desconcertantes e bastante divertidos”, afirma Jorge Sobrado.

Para o vice-presidente da CCDR do Norte para a área da Cultura, “Camilo não é apenas um autor romântico-trágico, é também alguém muito divertido, com grande humor, com sátira e há relatos dessas refeições também muito divertidas no Bom Jesus do Monte”.

Um homem do norte que nasceu em Lisboa

Camilo Castelo Branco foi um homem do Norte, mas nasceu há 200 anos na antiga freguesia dos Mártires, parte da atual freguesia de Santa Maria Maior, no centro de Lisboa. Perdeu a mãe aos 2 anos e o pai aos 10, tendo ido viver com uma tia para Vila Real.

Ao longo da extensa carreira jornalística e literária, assinou obras que viriam a ser livros maiores da literatura em português, de “Amor de Perdição” a “Doze Casamentos Felizes”, entre muitos outros.

Homem de vários interesses, profissionais e amorosos, é preso na Cadeia da Relação do Porto, a par de Ana Plácido, acusados de adultério, dada a existência do casamento de Plácido com o comerciante Manuel Pinheiro Alves. Ambos foram absolvidos.

Um dos dois “gigantes” literários do século XIX português, a par de Eça de Queirós, na opinião de Sérgio Guimarães de Sousa, Camilo Castelo Branco, já cego devido à sífilis de que padecia, suicidou-se em 01 de junho de 1890.

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