Está ao rubro a formação dos gestores públicos e privados na obscura técnica do PMBok. Um método que, prometem os criadores, vai melhorar o mundo.
Afinal, o PMBOK, guia internacional de boas práticas na gestão de projetos, é utilizado de forma crescente em Portugal por empresas e organizações públicas. Implementado em 1987 pelo Project Management Institute (PMI), tem servido para a melhoria da eficiência e controlo em projetos em vários setores.
O que é, portanto, o PMBOK? A sigla vem de Project Management Body of Knowledge, ou Corpo de Conhecimento em Gestão de Projetos. Trata-se de um guia padronizado que estabelece processos, ferramentas e áreas de conhecimento necessárias para gerir projetos eficazmente, com ênfase em prazos, custo, qualidade e riscos. A mais recente versão, a sétima, foi lançada em 2021. Mas demorou a aterrar na Lusitânia.
Em Portugal, existe um crescente interesse pelo PMBOK nos últimos cinco anos. A principal razão, de acordo com peritos, encontra-se na necessidade de atender a projetos mais complexos e à necessidade aumentada de transparência e resultados, particularmente em áreas como a construção, a saúde, a tecnologia e a administração pública.
“O PMBOK facilita a construção de uma linguagem comum e a ordenação da atividade da forma mais rigorosa e concisa”, diz Ana Ferreira, coordenadora de formação em gestão de projetos na Universidade de Lisboa. “Permite às equipas alinharem-se, prever focos e aumentar a taxa de sucesso nos projetos”, completa.
Segundo estatísticas do PMI Portugal Chapter, a procura por certificações na área PMBOK, como o Project Management Professional (PMP), cresceu aproximadamente 40 por cento de 2020 a 2024. Empresas como a EDP, a NOS e a Critical Software incluem atualmente as práticas do PMBOK nos seus processos internos.
O guia serve tanto para os gestores de projeto como para as equipas técnicas como uma referência metodológica. Trata-se de uma base e não um guia fechado que pode ser ajustado à realidade da própria organização. A sua estrutura consta de dez áreas de conhecimento, tais como integração, âmbito, tempo, custo, qualidade, recursos, comunicações, risco, aquisições e partes interessadas.
Sucessos
“Estávamos a trabalhar num projeto financiado pelo PRR e, desde o início, adotámos a estrutura do PMBOK. Isso permitiu cumprir metas de entrega e manter a equipa focada, mesmo em fases críticas”, declara João Almeida, então gestor de projetos na Câmara Municipal de Cascais. A clareza relativamente aos processos é uma vantagem em contextos públicos, onde os padrões de avaliação e auditoria são rígidos.
O sucesso do PMBOK também se deve ao contexto económico contemporâneo. O investimento crescente em infraestruturas e digitalização levou muitas organizações portuguesas a sentirem-se compelidas a refletir sobre os seus modelos de gestão. Inserido neste contexto, o PMBOK surge como um recurso internacionalmente reconhecido para dar respostas a requisitos de financiamento europeu e assegurar conformidade a padrões de qualidade.
Mesmo com a crescente popularidade, alguns especialistas advertem contra o uso mecânico. “O PMBOK não é uma fórmula mágica. Há que aprender a adaptá-lo ao ambiente e ao pessoal”, destaca Rita Neves, consultora de projetos certificada pelo PMI.
Para o futuro, todas as perspetivas são de que o uso do PMBOK irá continuar a aumentar em Portugal, especialmente com a ampliação do trabalho à distância e projetos colaborativos entre várias organizações. A digitalização das ferramentas de gestão de projetos e o facto de se ter de entregar resultados quantificáveis aumenta ainda a sua relevância. Organizações que se propõem a aumentar a sua eficiência na gestão e supervisão de projetos têm uma boa base de partida no PMBOK. E, de acordo com as entidades qualificantes, a procura será mantida a um alto nível à medida que mais profissionais buscam a certificação e competências na disciplina.
Mas…
O PMBok, apesar de ser uma referência fundamental em gestão de projetos, enfrenta críticas significativas. Uma delas reside na sua perceção como excessivamente prescritivo e burocrático, com um foco intenso em processos e documentação que podem não se adequar a todos os tipos de projetos ou contextos organizacionais. Essa rigidez pode levar a uma gestão inflexível e menos adaptável às mudanças e incertezas inerentes aos projetos.
Outra crítica importante centra-se na sua abordagem genérica, que nem sempre oferece soluções práticas e detalhadas para desafios específicos encontrados em diferentes indústrias ou tipos de projetos. A falta de profundidade em áreas particulares e a necessidade de adaptação extensiva (tailoring) para cada projeto podem diminuir a sua utilidade direta, exigindo um conhecimento e experiência adicionais por parte dos gestores de projeto para uma aplicação eficaz.