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Páscoa antes de haver Páscoa: a heroína era uma Deusa!

A Páscoa cristã, celebrada entre Março e Abril, tem raízes em festas judaicas e pagãs da antiguidade. Investigámos a origem da Paixão de Cristo e a apropriação de rituais pré-cristãos pelo Cristianismo, desde o Mediterrâneo até à Europa medieval.

A Páscoa cristã surge da re-significação do Pessach judaico – festa que celebra a libertação dos hebreus da escravidão no Egipto, conforme narrado no Êxodo (12:21-27). O termo Pessach (do hebraico pesah, “passagem”) refere-se à protecção divina contra a décima praga egípcia, quando o sangue de um cordeiro marcou as portas das casas hebraicas.

No século I, os primeiros cristãos reinterpretaram o ritual. A Última Ceia, descrita nos Evangelhos, ocorreu durante o Pessach, e Jesus foi identificado como o “Cordeiro de Deus” cujo sacrifício redimiu a humanidade. Paulo, na Primeira Epístola aos Coríntios (15:14), afirma: “Se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa fé”, consolidando a ressurreição como pilar teológico.

A Paixão de Cristo — crucificação, morte e ressurreição — ocorreu durante a semana do Pessach, criando um paralelo simbólico. A Igreja primitiva adoptou a data, mas divergências sobre o cálculo exacto levaram ao Concílio de Niceia (325 d.C.), que estabeleceu a Páscoa no primeiro domingo após a primeira lua cheia do equinócio vernal (21 de Março).

A Semana Santa, instituída no século IV, estrutura-se em torno de rituais como o Domingo de Ramos (entrada em Jerusalém), a Última Ceia (Quinta-Feira Santa) e a Sexta-Feira da Paixão. Em Portugal, tradições como a Procissão do Fogaréu ou as Badaladas de Castelo de Vide recriam a perseguição a Cristo, misturando devoção e folclore.

Mas já havia “Páscoa”, muito antes…

Antes do advento do judaísmo e do cristianismo, diversas culturas celebravam o equinócio da Primavera com festividades que simbolizavam o renascimento, a fertilidade e o equilíbrio entre luz e escuridão. Uma das mais conhecidas é Ostara, associada à deusa germânica Eostre, mencionada pelo monge Beda no século VIII. Celebrada por volta de 20 de Março, Ostara marcava o despertar da natureza após o Inverno. Símbolos como ovos coloridos e lebres representavam fertilidade e renovação, práticas que influenciaram tradições pascais cristãs, como a decoração de ovos e o coelho da Páscoa.

Na Roma Antiga, o festival de Hilaria homenageava Cibele e seu consorte Átis, cuja morte e ressurreição eram celebradas entre 22 e 25 de Março, reflectindo temas de renovação.

Na Pérsia, o Nowruz, celebrado desde a era zoroastriana, marcava o “novo dia” com rituais de purificação e festividades que perduram até hoje.

Entre os maias, o equinócio era celebrado há séculos em Chichén Itzá, onde a sombra projectada na pirâmide de El Castillo simbolizava a descida da serpente Kukulcán, marcando o início da Primavera.

Essas celebrações ancestrais, centradas na renovação da vida e na fertilidade, influenciaram profundamente as tradições que hoje associamos à Páscoa cristã.

A Igreja, ao cristianizar povos pagãos, integrou estes elementos para facilitar a conversão. O ovo, por exemplo, reinterpretado como símbolo do túmulo vazio de Cristo, ganhou lugar nas celebrações. Na Ucrânia, os pysanky (ovos pintados) mantêm traços de rituais pré-cristãos, enquanto na Alemanha o Osterhase (coelho da Páscoa) popularizou-se no século XVIII.

Outras Festividades Pagãs no Calendário Cristão

Além da Páscoa, outras datas cristãs absorveram festivais pagãos:

· Natal: Substituiu as Saturnais romanas e o Yule nórdico, celebrados durante o solstício de Inverno;

· Dia de Todos os Santos: Funde-se com o Samhain celta, origem do Halloween;

· Pentecostes: Coincide com festivais de colheita mediterrânicos.

A Páscoa cristã é um mosaico de tradições: da libertação hebraica à ressurreição de Cristo, passando por símbolos pagãos reinventados. Festas como o Carnaval (originário dos Lupercais romanos) ou o Solstício de Verão (transformado em São João) revelam como o

Cristianismo moldou, sem apagar, o imaginário religioso ancestral. Este sincretismo, longe de ser mero acidente histórico, reflecte a capacidade adaptativa de uma fé que dialogou com o mundo à sua volta.

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