A noite de 12 de Maio de 2025 voltou a encher a Cova da Iria de luz e devoção. Milhares de peregrinos participaram na Procissão das Velas, um dos momentos mais emblemáticos das celebrações em Fátima. A cerimónia, que conduz a imagem de Nossa Senhora até ao altar do Recinto de Oração, decorreu após a recitação do Rosário na Capelinha das Aparições, pelas 21h30.
A Procissão das Velas, inspirada na tradição do Santuário de Lourdes, em França, foi estruturada na Cova da Iria na segunda metade da década de 1920. Em Fátima, simboliza a luz divina nas aparições de 1917, quando três crianças afirmaram ter visto a Virgem Maria.
Este ano, a procissão ganha um novo significado, pois desde Fevereiro passou a realizar-se diariamente, durante todo o ano, devido à presença regular de peregrinos no Rosário das 21h30. Anteriormente, ocorria somente entre a Páscoa e o Advento.
A importância de Fátima para a Igreja Católica é evidenciada pelas visitas papais. O Papa Paulo VI foi o primeiro a visitar, em 1967. João Paulo II esteve presente em 1982, 1991 e 2000, ano em que beatificou Francisco e Jacinta Marto. Bento XVI visitou em 2010, e Francisco em 2017 e 2023.
O recém-eleito Papa Leão XIV, conhecido por sua devoção a Nossa Senhora, expressou o desejo de participar nas celebrações de Fátima nos próximos anos, reforçando a ligação entre o Vaticano e o santuário português.
As origens desta devoção remontam a 13 de Maio de 1917, quando três crianças — Lúcia dos Santos, de dez anos, e os seus primos Francisco e Jacinta Marto, de nove e sete anos, respectivamente — relataram ter visto «uma Senhora mais brilhante que o sol» numa pequena azinheira da Cova da Iria. Ao longo de seis meses, até Outubro desse ano, as aparições repetiram-se sempre no dia 13, com excepção de Agosto, quando as crianças foram detidas pelas autoridades civis.
A mensagem da Senhora, segundo os relatos dos videntes, apelava à oração, à penitência e à consagração à Imaculada Conceição. A 13 de Outubro, uma multidão estimada entre 30 000 e 70 000 pessoas testemunhou o chamado «Milagre do Sol», fenómeno solar descrito como invulgar por diversas testemunhas — incluindo crentes, cépticos e até jornalistas — e que consolidou a fama do local.
Apesar do impacto popular das aparições, a Igreja Católica adoptou inicialmente uma postura cautelosa. O bispo de Leiria só abriu um inquérito canónico em 1922, e foi apenas em 1930 que o fenómeno foi oficialmente reconhecido como digno de crédito. A prudência da hierarquia eclesiástica explicava-se pelo receio de manipulações políticas e religiosas numa época marcada pela instabilidade republicana e pelo anticlericalismo dominante em Portugal.
Nos anos seguintes, o culto foi crescendo, sustentado por testemunhos de conversão e curas, culminando na construção do Santuário e na progressiva internacionalização de Fátima como centro de peregrinação. Ainda hoje, o mistério e a mensagem de 1917 continuam a inspirar milhões de fiéis em todo o mundo.