O major‑general Carlos Branco anunciou ontem o fim da sua colaboração com a CNN Portugal, após considerar que a entrevista conduzida por Pedro Bello Morais «ultrapassou todos os limites da ética e da deontologia jornalística».
Guerra aberta
Em declaração pública divulgada nas redes sociais, Carlos Branco explicou que a entrevista concedida a 10 de Julho, pelas 13 horas, representou um ponto de ruptura com a estação televisiva. Considerou que o jornalista da CNN Portugal actuou de forma «vergonhosa», sem que depois «se retratasse ou admitisse o erro».
«Não me restava outra alternativa que não fosse a de cessar a minha colaboração com a CNN Portugal», afirmou, sublinhando que a situação criada «transpôs todas as linhas vermelhas que a paciência sem limites pode tolerar».
Críticas à prestação do jornalista
Branco acusou Pedro Bello Morais de «mediocridade» e falta de preparação. Acrescentou que o comportamento do jornalista «vai tornar‑se num estudo de caso nas escolas de jornalismo», como exemplo do que não deve ser feito. Segundo o major‑general, PBM demonstrou «ignorância e impreparação numa matéria» que exigia conhecimento técnico e respeito.
Classificou a entrevista como «péssimo exemplo» do que o jornalismo não deve ser, reforçando que houve uma «assimetria de papéis» inadmissível. «Foi um caso daquilo que o jornalismo não pode nem deve ser», asseverou.
Bello Morais cumpriu a lei
Ora, apesar do desagrado do Major general, Pedro Bello Morais apenas fez o seu trabalho. Ouvindo especialista em direito do jornalismo, OREGIÕES explica: «Quando um jornalista está a moderar um debate ou comentário especializado e detecta que o comentador apresenta factos não confirmados ou sem provas, tem o dever ético, deontológico e legal de agir para salvaguardar a verdade, a credibilidade do jornalismo e a protecção do público». A lei vai mais à frente.
Para mais: Perante a intervenção de um comentador que apresenta dados não confirmados, cabe ao jornalista moderador; questionar imediatamente a fonte ou provas desses factos, solicitando esclarecimentos ou referências concretas. Além disso, deve Informar claramente o público de que aquela afirmação é uma opinião, especulação ou carece de confirmação, evitando que seja tratada como dado factual. Se necessário, contraditar o comentador ou corrigir a informação, para não induzir o público em erro e para cumprir o rigor informativo.
Inconsolável
O major‑general aproveitou para agradecer ao director da estação, Nuno Santos, o convite feito há três anos para analisar o conflito na Ucrânia. Considerou a CNN Portugal como pioneira no país ao integrar militares como comentadores permanentes, referindo que tal prática já era comum nos Estados Unidos.
No entanto, lamentou que, no contexto português, esta inovação tenha sido mal acolhida: «Criou azia a muita gente. Primeiro estranhou‑se, mas depois entranhou‑se». Segundo Branco, essa resistência inicial revelou «inveja e provincianismo» num meio que se julga «prá frentex».
Diversidade ameaçada nos média nacionais
Apesar da saída, o militar destacou a CNN Portugal como a «única cadeia de televisão que ainda permite diversidade de opiniões». Criticou o ambiente mediático nacional, onde observa «laivos censórios cada vez mais evidentes», abrangendo inclusivamente os canais públicos.
Apontou ainda que «o pensamento não alinhado com a propaganda imposta pelo mainstream corre o risco de se tornar delito», deixando implícita uma preocupação com a liberdade de expressão e pluralismo editorial.
Diferenciação clara entre pessoa e instituição
Carlos Branco reforçou a sua consideração pela estação, distinguindo‑a do jornalista em causa: «Desejo votos de sucesso à CNN Portugal e aos que nela trabalham com afinco, elevado profissionalismo e dedicação. Não confundo a CNN com a mediocridade de PBM».
Referiu ainda que Pedro Bello Morais foi «colocado em horários em que ninguém vê televisão», sugerindo que os blocos informativos de maior audiência são conduzidos por profissionais «com menos de metade da sua experiência profissional, mas indiscutivelmente com mais talento».
Comentário cessa, análise continua
Apesar da saída da televisão, o major‑general garantiu que continuará a fazer análise de actualidade noutras plataformas. Concluiu com uma expressão popular: «Há mais marés do que marinheiros», deixando implícito que a sua voz continuará presente no espaço público.
A ruptura entre Carlos Branco e a CNN Portugal reflecte tensões crescentes entre comentadores e profissionais da informação. O ex‑militar denuncia quebra de ética jornalística e aponta falhas estruturais no panorama mediático português. A estação mantém‑se como referência na diversidade de opinião, mas perde um dos seus rostos mais experientes na análise de conflitos internacionais.