A Comissão Europeia manifestou profunda incompreensão e preocupação face à decisão de Espanha em renovar o seu vínculo com a Huawei, empresa tecnológica chinesa. Esta acção surge após Bruxelas ter advertido, por duas vezes, sobre o «alto risco» de espionagem e acesso a informações sensíveis, classificando a empresa como fornecedor de perigo elevado. A adjudicação do armazenamento de escutas telefónicas judiciais à Huawei, num montante superior a doze milhões de euros, acendeu os alarmes na capital comunitária, que vê esta deliberação como contrária às suas directrizes de segurança
Advertências Ignoradas e Risco Comum
Fontes do Executivo comunitário, citadas por El Mundo, sublinham que a Comissão avaliou, em Junho de dois mil e vinte e três, que a Huawei e a ZTE representam riscos materialmente mais elevados que outros fornecedores de 5G. A União Europeia considera justificadas as decisões dos Estados-membros que, baseadas no conjunto de ferramentas de segurança 5G, optam por restringir ou excluir estas companhias. O sistema de ferramentas de segurança 5G recomenda a aplicação de restrições pertinentes a fornecedores de alto risco, o que inclui a exclusão, quando necessária, para mitigar eficazmente os perigos em activos críticos e sensíveis. A postura espanhola, contudo, é o inverso do solicitado.
Explicações Insuficientes e Tensão Crescente
As justificações apresentadas pelo Governo de Espanha, que nega qualquer problema de segurança ou risco de filtragem de dados, não convenceram Bruxelas. A Comissão acredita que esta decisão não afecta apenas Espanha, mas ameaça a segurança do conjunto da União Europeia. Representantes de Bruxelas afirmam que a segurança das redes é fulcral para a economia europeia, urgindo os Estados-membros a implementarem a caixa de ferramentas 5G. A falta de uma acção rápida expõe a União Europeia a um risco claro e palpável.
Conflito Sino-Europeu e Aproximações Polémicas
Esta acção do Governo espanhol acontece num período de crescentes tensões entre a China e a União Europeia. A recente cimeira entre ambas as partes resultou em pouco mais que um comunicado conjunto sobre o clima, evidenciando uma forte tensão. Não se verificou qualquer aproximação comercial significativa, apesar de partilharem um inimigo comercial comum em Donald Trump. Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, chegou a solicitar a Xi Jinping que intercedesse para pôr termo à guerra na Ucrânia, um pedido que se revelou infrutífero.
Críticas a Madrid e Preocupações Económicas
A situação evidencia o divórcio entre a China e a União Europeia, contraste claro com os indisfarçados contactos de Espanha com o gigante asiático, que têm provocado desagrado em Bruxelas. Por exemplo, a viagem do presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez, à capital chinesa em Setembro passado, na qual apelou ao «diálogo» entre Pequim e Bruxelas em plena disputa de tarifas sobre veículos eléctricos chineses. Na altura, a União Europeia acusou Sánchez de «debilitar» a posição negocial da Comissão, lembrando que as competências comerciais pertencem ao Executivo comunitário. Em Bruxelas, crê-se que a acção de Espanha visa atrair uma fábrica de veículos eléctricos, mais do que um interesse genuíno pelo bem da Europa.
Revisitação e Persistência da Tensão
Já esta Primavera, Sánchez voltou a visitar a China, alegadamente com o beneplácito de Von der Leyen. Embora a situação não tenha sido tão tensa e o deslocamento parecesse um prelúdio para a cimeira subsequente, a realidade dos factos, como se demonstrou esta semana, é que quase tudo o que emana do país asiático causa incómodo em Bruxelas. A persistência desta relação, por conseguinte, augura novos capítulos na tensão entre Espanha e a União Europeia no que concerne à segurança e política externa.