Castelo Branco, cidade de profundas raízes históricas e identidade própria, tem vindo a sofrer um crescente desgaste institucional, resultado de uma governação autárquica marcada pela inação e pelo excesso de promessas não concretizadas. No final de um ciclo político dominado pela retórica e pelo adiamento sucessivo de decisões, é legítimo afirmar, em sentido figurado mas com rigor crítico, que o árbitro mostrou cartão vermelho ao presidente da câmara, Leopoldo Rodrigues. Esta metáfora não é mero artifício literário: simboliza o limite da tolerância dos cidadãos face a uma gestão que tem falhado no essencial
O presidente, eleito pelo Partido Socialista, percorreu praticamente todo o seu mandato entre anúncios públicos de obras e iniciativas que nunca saíram do plano das intenções. A requalificação da zona do Castelo, o restauro da muralha, os investimentos na habitação e em estruturas urbanas fundamentais – tudo foi prometido, nada foi executado com eficácia. O que se tem verificado é um padrão de adiamentos sucessivos, que não encontram justificação técnica, mas sim política.
O exercício da função autárquica exige mais do que comunicação eficaz e presença mediática. Requer planeamento, gestão competente e decisões executadas em tempo útil. Em vez disso, assiste-se a um foco desmedido na imagem do próprio presidente, alimentado por uma assessoria de comunicação cujo custo tem sido suportado pelos cofres públicos, com valores significativamente elevados.
Esse mesmo assessor de comunicação, visto recentemente em Castelo Branco, tem sido associado à construção da narrativa política do presidente, inclusive no que respeita a projetos para a zona histórica e como a polémica fonte sonora da Devesa (conhecida como Docas), uma estrutura cujo custo ultrapassou os 740 mil euros (um elefante branco de despesas) e cujo benefício prático para os cidadãos permanece por demonstrar. Mais do que uma obra de utilidade pública, tornou-se símbolo de um mandato focado em espetáculo visual, sem impacto real.
Há ainda preocupações mais graves. Multiplicam-se os testemunhos de cidadãos que afirmam ter sido alvo de pressões ou intimidações por expressarem críticas ao executivo municipal – nas redes sociais, nos serviços públicos ou através de canais institucionais. Estas práticas, a serem comprovadas, violam princípios básicos da liberdade de expressão e da participação cívica, ferindo os pilares de uma democracia saudável.
Por outro lado, circulam denúncias relativas a alegadas trocas de favores em freguesias, com promessas de empregos ou colocações de familiares em troca de apoio político. Se estas suspeitas forem reais, colocam em causa a integridade da administração pública local e devem ser alvo de escrutínio pelas entidades fiscalizadoras competentes.
É nesta conjuntura que a metáfora do cartão vermelho se torna particularmente pertinente. Tal como no desporto, também na política há limites para a conduta admissível. Quando a má gestão, o desrespeito pelos munícipes e a ausência de transparência se acumulam, torna-se inevitável reconhecer que a legitimidade política está em risco. E quando isso acontece, é a própria comunidade que, simbolicamente, ergue o braço do árbitro e exige sanção.
Castelo Branco não pode continuar a ser conduzida por uma estratégia de adiamentos e propaganda. O município precisa de liderança séria, com capacidade de execução, respeito pelos princípios democráticos e compromisso com o bem comum.
A política local é demasiado importante para ser tratada como palco pessoal. E quando quem lidera falha repetidamente nesse compromisso, o cartão vermelho torna-se não apenas justo – torna-se necessário.
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