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Por um País que Arde e não Cala – Portugal em Chamas, Governantes em Cinzas: O Negócio do Fósforo e o Silêncio que Queima 

Portugal está a arder. Literalmente. Enquanto o fumo sufoca populações inteiras, consome florestas, casas, vidas, e reduz a cinzas tudo o que o interior do país tem de mais precioso, os nossos representantes políticos continuam mergulhados em discursos vazios, números inflacionados e estratégias de comunicação em vez de ação concreta
 
Luís Montenegro, primeiro-ministro recém-empossado, decidiu descrever a situação como uma “guerra” — mas uma guerra onde quem está na frente de combate, os bombeiros, os autarcas, as populações desesperadas, não merece sequer uma palavra de apreço. Ao invés, promete que “depois de ganhar a guerra”, irá fazer melhor. Depois? Depois de quê? Depois de arderem mais mil hectares? Depois de mais uma aldeia evacuada? Depois de mais mortos?
 
Este tipo de retórica é não só irresponsável como profundamente desrespeitosa. Falar em guerra sem sequer reconhecer os soldados é uma vergonha nacional. Os verdadeiros combatentes — bombeiros exaustos, voluntários anónimos, presidentes de câmara que dormem em matas a organizar meios que não têm — são ignorados em nome de uma narrativa política conveniente. É repugnante.
 
Maria Lúcia Amaral, ministra da Administração Interna, vem dizer que “o país está a responder”, porque temos “o maior dispositivo de sempre”. É uma frase que parece saída de um manual de propaganda de gabinete. Como se números e estatísticas servissem de escudo à realidade. Sim, há meios no terreno. Mas estão mal distribuídos, mal coordenados, mal pagos. Os autarcas dizem-no com todas as letras. E não estão a fazer política — estão a tentar salvar vidas.
 
A ministra reconhece descoordenação, como se isso fosse uma inevitabilidade aceitável. Não é. Quando o caos é previsível, não é azar. É incompetência. É negligência. E é perigosa.
 
A verdade é outra, e todos os portugueses já a intuem há muito: existe um cartel do fogo. Um negócio lucrativo, silencioso, protegido, feito à custa do sofrimento alheio. O sistema de combate a incêndios é uma máquina de milhões — alimentada por contratos opacos, empresas de meios aéreos com laços por esclarecer, helicópteros alugados a preços obscenos. Um negócio do fósforo: quanto mais se queima, mais se ganha.
 
O fogo, em Portugal, é indústria. E quem ganha com ele não são os bombeiros nem as populações do Pinhal Interior. São os que beneficiam da repetição anual da tragédia. São os que dizem que “tudo está a correr bem” enquanto aldeias são engolidas pelas chamas.
 
E o Presidente da República? Marcelo Rebelo de Sousa, o mesmo que corre a todas as desgraças com empatia fotogénica, desta vez parece mais preocupado com o calor de Belém do que com o inferno na Beira Baixa. Nenhuma declaração contundente. Nenhuma exigência ao Governo. Nenhuma palavra forte. A República, ao mais alto nível, calou-se.
 
É neste silêncio, nesta inércia politicamente conveniente, que Portugal continuará a arder. Até quando?
 
A memória de Pedrógão Grande ensinou alguma coisa? Ou esquecemos tudo à primeira ventania? Quantas mais vidas terão de ser perdidas até que alguém diga basta?
 
Estamos perante uma emergência que exige verdade, coragem e responsabilização. Não mais desculpas, não mais números, não mais promessas para depois. As cinzas não esperam.
 
Está opinião é um grito. Um apelo. Uma exigência. Aos cidadãos, que não podem mais aceitar que o fogo seja tratado como fenómeno natural e não como consequência de um sistema corrupto, politicamente tolerado e economicamente incentivado. E aos responsáveis políticos, que devem ser responsabilizados, sem subterfúgios jurídicos ou retóricas anestesiadas.
 
O fogo consome tudo — exceto a vergonha de quem o deixa arder.
 
Nota jurídica: Este texto expressa uma opinião crítica fundamentada, protegida constitucionalmente pelo direito à liberdade de expressão e opinião (Art. 37.º da Constituição da República Portuguesa). A crítica a figuras públicas e entidades governamentais no contexto de atuação pública é legítima, desde que sem difamação ou imputações falsas — o que não ocorre neste texto, baseado em factos públicos e declarações oficiais.
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Fernando Jesus Pires
Fernando Jesus Pireshttps://oregioes.pt/fotojornalista-fernando-pires-jesus/
Jornalista há 35 anos, trabalhou como enviado especial em Macau, República Popular da China, Tailândia, Taiwan, Hong Kong, Coréia do Sul e Paralelo 38, Espanha, Andorra, França, Marrocos, Argélia, Sahara e Mauritânia.

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