Editorial do Diretor
Por mais que custe escrever isto, há momentos em que o jornalismo não pode calar. O que se está a passar em Castelo Branco é demasiado grave para ser normalizado. O fogo não é apenas uma tragédia ambiental: é um reflexo brutal da falência do Estado no Interior do país. O Governo central voltou a falhar. E quando falha perante vidas, patrimónios e territórios, não pode ficar sem resposta.
O Presidente da Câmara Municipal de Castelo Branco, Leopoldo Rodrigues, denunciou com coragem aquilo que todos nós, nesta região, sabemos há demasiado tempo: este território está a ser deixado à sua sorte. Os meios não chegam. Os apoios não aparecem. A presença do Estado é esporádica, protocolar e, muitas vezes, tardia. E, enquanto isso, o que arde não são apenas árvores — são décadas de esforço, de investimento, de esperança.
Este jornal esteve no terreno. Viu a ausência de meios aéreos. Falou com quem passou noites em branco, com quem combateu as chamas com ferramentas básicas, com quem perdeu animais, culturas, casas, e parte da sua própria história. E viu também o Estado central ausente, escondido atrás de frases de circunstância, números desatualizados e silêncios embaraçosos.
Chegou o momento de dizer basta. Não é aceitável que em pleno século XXI se continue a gerir os incêndios florestais com improviso, escassez de recursos e abandono político. Não é admissível que um concelho inteiro — e com ele vários outros — tenha de esperar por respostas enquanto o fogo avança. E não é tolerável que o Governo, mais uma vez, trate o Interior como um apêndice secundário da governação nacional.
Em nome do jornal O Regiões, e enquanto Diretor desta publicação, deixo aqui um apelo claro e direto: o primeiro-ministro e a ministra da Administração Interna devem assumir as suas responsabilidades políticas e operacionais. Não basta anunciar medidas após o desastre consumado. É preciso prevenir, investir e proteger antes que o país continue a arder em círculos.
O que está a acontecer em Castelo Branco não é apenas uma calamidade local. É um falhanço nacional. E enquanto os rostos das vítimas se perdem nas cinzas, os discursos vazios já não chegam para esconder o cheiro a fumo que este Governo teima em ignorar.
A nossa função enquanto imprensa regional é informar, denunciar e exigir. Hoje, fazemos as três coisas. Porque o Interior existe. E exige ser tratado com a dignidade que a Constituição consagra e que os cidadãos merecem.