O presidente da Câmara Municipal de Castelo Branco, Leopoldo Rodrigues (PS), lançou duras críticas ao Governo, afirmando que o território está a arder sem o apoio necessário do Estado. Em declarações feitas ao final da tarde desta quarta-feira, o autarca lamentou a falta de meios no combate ao incêndio que já consumiu vastas áreas da região, tendo exigido respostas concretas por parte do primeiro-ministro e da ministra da Administração Interna.
“O primeiro-ministro e a ministra têm de decidir o que querem fazer deste território. Não se pode continuar a ignorar a falta de meios. Ou se enviam recursos para o terreno ou esta situação nunca se resolve”, afirmou o edil, sublinhando que os bombeiros de Castelo Branco estão a tentar gerir a situação com apenas seis viaturas.
Segundo Leopoldo Rodrigues, os meios aéreos apenas operaram durante a manhã e acabaram por se ausentar, deixando a operação de combate ao fogo fragilizada. “As pessoas estão ansiosas e receosas. Queremos arranjar meios e não os temos. Isto não é uma resposta adequada para um país que se quer preparado para enfrentar fenómenos extremos como estes”, acrescentou.
As zonas mais críticas encontram-se localizadas nas imediações de Louriçal do Campo e Torre, bem como junto à ribeira de Eiras. O fogo que assola o concelho entrou a partir do município vizinho do Fundão, tendo tido origem em Arganil, no distrito de Coimbra, onde deflagrou às 05:00 da madrugada de quarta-feira.
O incêndio já alastrou a outros concelhos, nomeadamente Pampilhosa da Serra, Oliveira do Hospital (distrito de Coimbra), Seia (distrito da Guarda) e Covilhã (Castelo Branco). Dada a gravidade da situação, a Câmara Municipal de Castelo Branco ativou o Plano Municipal de Emergência e Proteção Civil ao final da noite de domingo.
Apesar das críticas, o autarca deixou palavras de reconhecimento ao esforço dos operacionais no terreno. “Quero agradecer profundamente o trabalho dos bombeiros de Castelo Branco e o empenho do seu comandante, bem como o trabalho do comandante do Comando Sub-Regional de Emergência e Proteção Civil da Beira Baixa. Estão a dar tudo o que têm, com os poucos recursos disponíveis”, afirmou.
A situação em Castelo Branco insere-se num cenário mais amplo de emergência nacional. Desde Julho, Portugal continental tem enfrentado múltiplos incêndios rurais de grande dimensão, principalmente nas regiões Norte e Centro. Estes fogos já causaram a morte de três pessoas, incluindo um bombeiro, vários feridos graves e prejuízos avultados, com a destruição de habitações e explorações agrícolas e florestais.
Em resposta à escalada dos incêndios, Portugal ativou o Mecanismo Europeu de Proteção Civil, tendo recebido dois aviões Fire Boss como reforço. De acordo com os dados oficiais provisórios, a área ardida até 20 de Agosto ultrapassa os 222 mil hectares — número superior à área total consumida pelos fogos em todo o ano de 2024.
O primeiro-ministro, Luís Montenegro, irá ao Parlamento no próximo dia 27 de Agosto para um debate de urgência sobre os incêndios e a resposta do Governo à crise. Até lá, os autarcas e populações locais continuam à espera de medidas concretas. “Já não basta prometer. É preciso agir”, concluiu Leopoldo Rodrigues.