Um Governo preocupado com a “imagem”, a governar com “base nas perceções” e com uma “teimosia persistente” que pode prejudicar as populações. Luís Montenegro falou ao país esta quinta-feira para anunciar 45 medidas para vítimas dos incêndios e lamentou se contribuiu para alimentar a perceção de que o “acompanhamento do Governo não era tão próximo”. Mas os partidos e as duas principais confederações sindicais (UGT e CGTP)não parecem ter ficado convencidos e na manhã desta sexta-feira, reagindo no Parlamento, desdobraram-se em críticas.
Na manhã desta sexta-feira, vários partidos da oposição reagiram às medidas de ajuda às populações afectadas pelos incêndios florestais, recordando propostas que não saíram da gaveta.
O líder do PS, José Luís Carneiro, acusou o Governo de “perder tempo em matéria de gestão florestal” e enviou quatro perguntas sobre concretizações de medidas criadas ainda durante o executivo liderado por António Costa.
Acompanhando estas preocupaações de José Luís Carneiro, o líder parlamentar do PS disse temer que a “teimosia” do Governo em não declarar situação de calamidade comprometa o apoio às populações afetadas pelos incêndios e considerou inusitada a proposta de pacto para o território nesta altura.
Eurico Brilhante Dias criticou o que classificou como “teimosia persistente” do executivo sobre não avançar com a situação de calamidade, tremendo que essa opção “venha a colocar em causa o apoio eficaz às populações e às empresas que foram afetadas por estes incêndios”.
Já o Chega mostra-se disponível para debater propostas no âmbito dos incêndios que têm afetado o país e pediu medidas de combate ao despovoamento do interior. O deputado Jorge Galveias considerou que as medidas anunciadas “não tocam no ponto essencial, que é o despovoamento do país”, e defendeu que se essa questão não for tida em conta, os incêndios vão continuar a “acontecer ano após ano”.
O dirigente do Chega pediu “medidas de fundo” para combater o despovoamento, considerou que é preciso também “dignificar os bombeiros” e insistiu no pedido de demissão da ministra da Administração Interna.
Por seu turno, o PCP acusou o Governo de estar mais preocupado com a imagem do que com as populações, pedindo que concretize efetivamente os apoios anunciados e que valorize a carreira dos bombeiros.
“Adeclaração do primeiro-ministro é uma declaração de quem está mais preocupado com a sua imagem e com a imagem do Governo do que em dar resposta aos problemas que afetam as populações”, afirmou a líder parlamentar do PCP, Paula Santos, em reacção à conferência de imprensa de Luís Montenegro desta quinta-feira após uma reunião extraordinária do Conselho de Ministros, em Viseu.
Paula Santos considerou que, se o primeiro-ministro estivesse “de facto preocupado com as populações”, não teria “cortado 114 milhões de euros no investimento na floresta no âmbito da reprogramação do Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC)”, no ano passado.
No que se refere às medidas aprovadas nessa reunião extraordinária do Conselho de Ministros, Paula Santos defendeu que os apoios anunciados para as populações, agricultores e pequenos produtores florestais precisam de ser “efetivamente concretizadas”.
O deputado Paulo Muacho, do Livre, criticou hoje a “postura reativa” do Governo sobre os incêndios e considerou que a ministra da Administração Interna está fragilizada, enquanto o BE apontou a “falta de noção” do executivo.
“Épreciso que o Governo deixe de ter uma postura reativa a esta situação. Nós precisamos de perceber o que é que está a ser feito para melhorar o combate e a prevenção dos incêndios, […] porque é que o Governo também tarda em convocar a Comissão Nacional de Proteção Civil e precisamos também de saber o que é que está a ser feito no terreno quando os incêndios são apagados, nomeadamente no que diz respeito à estabilização de emergência dos solos”, afirmou.
O deputado defendeu que “quando situações destas acontecem, os ministros ficam sempre fragilizados”.
UGT e CGTP também criticam
Nem mesmo as confederações sindicais (UGT e CGTP) poupam as criticas ao Governo e a Luís Montenegro. A União Geral de Trabalhadores (UGT) apela à união de esforços entre autoridades e sociedade civil para auxiliar a reconstrução das zonas afetadas pelos incêndios, garantindo apoio às “vítimas e aos heróis desta tragédia”.
“É fundamental que as autoridades e a sociedade civil trabalhem em conjunto para apoiar a reconstrução das zonas afetadas e para assegurar a proteção de todos – pessoas e animais”, salientou a UGT, em comunicado enviado às redações, onde expressa solidariedade com as vítimas dos incêndios que têm assolado o país e manifesta “profundo pesar aos familiares daqueles que perderam a vida a combater os fogos”.
A central sindical reiterou o seu compromisso de defender os interesses dos trabalhadores, das vítimas e dos “heróis desta tragédia”, salientando “a coragem e o espírito de sacrifício dos bombeiros profissionais e voluntários, das forças de segurança e de todos os cidadãos que se juntam a esta luta”.
Já o secretário-geral da CGTP, Tiago Oliveira, considera que as medidas anunciadas na quinta-feira em resposta aos incêndios que têm afetado o país são “mais um exemplo” do “completo alheamento” do Governo face às necessidades do país.
“Quando falamos do alheamento do Governo, falamos do alheamento do Governo por falta de resposta nas devidas alturas, por falta de resposta aos problemas concretos e esse é mais um exemplo da resposta tardia que verificamos nos tempos recentes, quando o país atravessa a situação de emergência que atravessa no que diz respeito aos incêndios”, afirmou o líder sindical.
Falando em conferência de imprensa, no Porto, Tiago Oliveira preferiu, contudo, destacar a “resposta tardia” e “ideológica” do Governo aos “problemas concretos nos serviços públicos” e na área laboral.