O endividamento da economia portuguesa voltou a atingir um novo recorde no primeiro semestre de 2025, totalizando 847 mil milhões de euros no final de junho, segundo dados divulgados pelo Banco de Portugal (BdP). Este valor representa um acréscimo de 32,3 mil milhões de euros face ao final de 2024 e traduz o mais elevado montante alguma vez registado no setor não financeiro, que inclui administrações públicas, empresas e famílias.
A divisão entre setores revela que o privado, composto por empresas e famílias, concentra 468,8 mil milhões de euros, enquanto o setor público, que abrange administrações e empresas estatais, soma 378,2 mil milhões.
Endividamento público aumenta de forma expressiva
O setor público foi o que mais contribuiu para este crescimento, registando um acréscimo de 19,1 mil milhões de euros em dívida acumulada. A maior fatia deveu-se ao reforço da dívida perante o exterior, com não residentes a investirem 14,8 mil milhões em títulos de dívida pública portuguesa. Destes, 13,3 mil milhões corresponderam a títulos de longo prazo, sinalizando uma aposta na sustentabilidade do financiamento a médio e longo prazos.
Paralelamente, observou-se um aumento da dívida pública em relação aos particulares (+2,1 mil milhões), às próprias administrações públicas (+1,7 mil milhões) e às empresas não financeiras (+1,5 mil milhões). Em contrapartida, verificou-se uma ligeira redução da dívida perante o setor financeiro (-0,7 mil milhões).
Famílias e empresas impulsionam setor privado
Já o setor privado registou um crescimento de 13,2 mil milhões de euros em apenas seis meses. As famílias tiveram um peso decisivo neste movimento, com mais sete mil milhões, sobretudo através de crédito junto do setor financeiro (+6,6 mil milhões). O crédito à habitação destacou-se, acrescentando sozinho 5,1 mil milhões à dívida acumulada.
As empresas privadas também aumentaram o seu endividamento em 6,2 mil milhões. O crescimento refletiu-se na sua relação com o setor financeiro (+5,0 mil milhões), no financiamento externo (+0,7 mil milhões) e no recurso a outras empresas não financeiras (+0,6 mil milhões).
Dívida cresce mais rápido do que a economia
Em termos relativos, a dívida do setor não financeiro passou de 285,7% para 289,6% do Produto Interno Bruto (PIB). Ou seja, o ritmo de crescimento do endividamento superou a evolução do próprio PIB nacional.
A mesma tendência foi visível tanto no setor público, que aumentou de 125,9% para 129,3% do PIB, como no privado, que subiu de 159,8% para 160,3%. Esta escalada coloca maior pressão sobre a sustentabilidade financeira do país, apesar da manutenção de algum equilíbrio entre financiamento interno e externo.
Empresas privadas aceleram recurso ao crédito
O mês de junho destacou-se pelo reforço do crédito às empresas privadas, que aumentaram o seu endividamento em 2,6% face ao mesmo mês de 2024. Esta taxa superou o crescimento de 1,8% registado em maio, revelando uma aceleração no recurso a financiamento.
No caso das famílias, o cenário é ainda mais expressivo: a dívida subiu pela 19.ª vez consecutiva em termos anuais, fixando-se nos 6,7%. Este valor representa o crescimento mais elevado desde o início da série estatística, em dezembro de 2008, e reforça o peso do crédito ao consumo e à habitação na vida financeira das famílias portuguesas.
Banco de Portugal alerta para riscos de sustentabilidade
Perante estes números, o Banco de Portugal sublinha a importância de equilibrar o financiamento da economia com a sustentabilidade das contas públicas e privadas. O regulador salienta que a manutenção de trajetórias de dívida em níveis historicamente elevados pode expor o país a riscos acrescidos em cenários de instabilidade financeira internacional ou de subida das taxas de juro.
Apesar disso, o banco central reconhece que o acesso a financiamento continua a ser vital para apoiar o investimento das empresas e as necessidades das famílias, desde que acompanhado por políticas de contenção e gestão prudente da dívida.