Israel retém mais de dois mil milhões de dólares de receitas palestinianas, agravando crise económica na Cisjordânia, alerta ONU
A Autoridade Palestiniana enfrenta uma crise económica sem precedentes, provocada pela retenção de mais de dois mil milhões de dólares (cerca de 1,73 mil milhões de euros) por parte de Israel. A denúncia foi feita esta quarta-feira perante o Conselho de Segurança das Nações Unidas pelo coordenador especial da ONU para o Processo de Paz no Médio Oriente, Ramiz Alakbarov.
Segundo Alakbarov, desde maio deste ano, Israel não transferiu qualquer verba relativa aos impostos aduaneiros cobrados em nome da Autoridade Palestiniana, em claro incumprimento dos Acordos de Oslo, assinados em 1994. Estes acordos preveem que o Estado de Israel recolha impostos sobre bens que entram nos territórios palestinianos e os transfira posteriormente para a Autoridade Palestiniana, uma prática que representa uma parte substancial do orçamento desta última.
Desde os ataques de 7 de outubro de 2023, Israel passou a reter parcial ou totalmente estas receitas, justificando a medida com a recusa em canalizar fundos que, segundo o Governo israelita, poderiam beneficiar o Hamas, movimento islamita no poder na Faixa de Gaza desde 2007 e classificado por Israel como uma organização terrorista.
Contudo, esta decisão está a ter consequências devastadoras sobre a estabilidade financeira da Cisjordânia, onde a Autoridade Palestiniana mantém uma administração formalmente separada do Hamas. A falta de liquidez compromete o pagamento de salários a funcionários públicos, o funcionamento de serviços essenciais e o próprio sistema bancário da região.
“O impacto desta retenção é profundo e crescente. Tudo isto representa uma grave ameaça à economia palestiniana e à sustentabilidade das instituições. Se a situação não for resolvida com urgência, poderá pôr em causa a viabilidade da Autoridade Palestiniana”, alertou Alakbarov, sublinhando ainda os riscos de colapso institucional num território já marcado por décadas de conflito e ocupação.
Este cenário levanta sérias preocupações junto da comunidade internacional, num momento em que a tensão no Médio Oriente permanece elevada. A ausência de transferências regulares de receitas aduaneiras aumenta o risco de instabilidade social e política, podendo contribuir para uma escalada de violência e enfraquecer ainda mais qualquer perspectiva de retoma do processo de paz.
O apelo da ONU é claro: urge restaurar os mecanismos de transferência financeira previstos nos acordos bilaterais e garantir que as populações palestinianas não sejam as principais vítimas de decisões políticas tomadas em contextos de confrontação. A retoma do diálogo e o respeito pelos compromissos internacionais são apontados como passos essenciais para evitar o colapso de uma economia já à beira do abismo.