“Pessoas inteligentes não se ofendem, elas tiram conclusões.” — Esta frase de Agatha Christie, conhecida mundialmente pela sua genialidade narrativa, é mais do que um aforismo literário. É um alerta. Um espelho. Um convite à reflexão. Quando aplicada ao cenário político do interior de Portugal, mais concretamente ao território da Beira Baixa — que conheço com proximidade e sem filtros —, a verdade desta frase torna-se inquietante.
A política local, tal como deveria ser vivida, exige inteligência, preparação, sentido de missão e compromisso com a causa pública. Infelizmente, o que se tem observado em demasiados concelhos da Beira Baixa é precisamente o contrário: uma presença política marcada por protagonismo pessoal, mediocridade disfarçada de astúcia e um preocupante desprezo pelo interesse colectivo.
Durante os últimos anos, enquanto cidadão atento e conhecedor da realidade política local, tenho observado uma sucessão de representantes que, em vez de liderarem com visão e competência, limitam-se a sobreviver à custa de siglas partidárias, redes de influência e aparente lealdade. Não estão na política para servir; estão para se servir. E isso deveria preocupar todos os que acreditam na democracia como instrumento de transformação.
A reação recorrente à crítica, à diferença de opinião e à análise externa é, quase sempre, a ofensa. A vitimização. A tentativa de silenciar pela rotulagem ou pelo desprezo. Esquecem-se, ou ignoram, que a crítica política, quando fundamentada, não é ataque pessoal. É responsabilidade cívica. E quem se ofende com a crítica demonstra, à partida, que não tem estofo para o cargo que ocupa.
Há que dizê-lo com clareza: mais de metade dos actores políticos locais não deveria estar na vida pública. Não têm inteligência estratégica, não têm cultura democrática sólida, nem apresentam resultados concretos que justifiquem a sua permanência em cargos de decisão. Falta-lhes preparação, visão, e sobretudo, humildade.
A esperteza saloia, muitas vezes mascarada com roupa de marca ou discursos populistas, não substitui a inteligência genuína. Não basta dominar a arte do malabarismo partidário ou das redes sociais para se ser político. Liderar implica pensar a longo prazo, saber ouvir, reconhecer erros e rodear-se de pessoas competentes. Tudo aquilo que muitos evitam a todo o custo.
O resultado está à vista: desinteresse da população, abstenção crescente, fuga de jovens qualificados, políticas inconsequentes e uma região que tarda em afirmar-se com a dignidade que merece. A Beira Baixa tem potencial. Tem História. Tem gente capaz. O que muitas vezes não tem — por culpa de quem ocupa os lugares errados — é liderança à altura dos desafios.
Esta opinião não procura agradar, nem pretende ofender. Procura apenas concluir, como fariam os inteligentes, olhando para a realidade com olhos abertos. A crítica é incómoda, sim. Mas é também necessária.
Quem se ofende, em vez de reflectir, apenas confirma o diagnóstico.
E como bem escreveu Agatha Christie, os inteligentes não se ofendem. Concluem.




