A Turquia anunciou esta sexta-feira o encerramento dos seus portos e do espaço aéreo a navios e aviões israelitas, num novo agravamento das relações diplomáticas com Telavive. A medida, anunciada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Hakan Fidan, representa um corte quase total das ligações oficiais entre os dois países.
“Fechámos os nossos portos aos navios israelitas e não permitimos que os aviões israelitas entrem no nosso espaço aéreo”, declarou o chefe da diplomacia turca durante uma intervenção no parlamento nacional. Esta decisão aplica-se apenas a aviões militares e oficiais, mantendo-se autorizado o sobrevoo de aeronaves comerciais israelitas, conforme esclareceu uma fonte diplomática à agência France-Presse.
A Turquia já tinha suspendido no ano passado as trocas comerciais com Israel, assim como os voos diretos entre os dois países. Com esta nova medida, Ancara assume a linha mais dura de entre os países que mantinham relações com Telavive. “Nenhum outro país, para além do nosso, interrompeu completamente o seu comércio com Israel”, sublinhou Hakan Fidan, durante uma sessão parlamentar extraordinária dedicada à guerra na Faixa de Gaza.
Na mesma linha, a ZIM, uma das maiores companhias de navegação israelitas, revelou que recebeu um aviso das autoridades portuárias turcas. Nesse comunicado, foi informado que “os navios pertencentes, geridos ou operados por uma entidade ligada a Israel deixarão de ser autorizados a atracar nos portos turcos”.
Hakan Fidan tem mantido uma postura frontal na cena internacional. Na passada segunda-feira, participou numa cimeira da Organização para a Cooperação Islâmica (OCI), em Jeddah, na Arábia Saudita, onde condenou com dureza a atuação israelita na Faixa de Gaza.
“Todos os crimes cometidos por Israel – a limpeza étnica, o bloqueio ilegal de Gaza, o uso da fome como arma de guerra e outras políticas de colonização, bem como as tentativas de anexar terras palestinianas na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental – constituem crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídio”, afirmou o ministro turco. Acrescentou ainda que estes atos exigem responsabilização e acusação ao abrigo do direito penal internacional.
A cimeira resultou numa resolução conjunta com 38 pontos, em que os 57 países membros da OCI apelam à adoção de medidas concretas contra Israel. O texto recomenda a todos os Estados a imposição de sanções, a suspensão do fornecimento de armas e a revisão das relações diplomáticas e económicas com Telavive, além de um firme apoio aos mecanismos internacionais de justiça para travar a impunidade israelita.
As relações entre Israel e a Turquia, historicamente instáveis, sofreram um novo abalo desde o início da guerra em Gaza, desencadeada pelo ataque do grupo Hamas em território israelita, a 7 de outubro de 2023. Esse ataque causou cerca de 1.200 mortos e levou à captura de mais de duas centenas de reféns.
Desde então, a ofensiva militar israelita no enclave palestiniano causou mais de 63 mil mortos, destruiu a maior parte das infraestruturas civis de Gaza e forçou o deslocamento de centenas de milhares de pessoas. O bloqueio imposto por Israel à entrada de ajuda humanitária agravou a crise humanitária, tendo já provocado a morte de mais de 300 pessoas por fome e desnutrição, a maioria crianças.
A decisão de Ancara surge assim num momento de tensão extrema no Médio Oriente e poderá ter repercussões profundas no equilíbrio político e económico da região.